Porque petistas mentem tanto? O Papa explica
Você provavelmente já viu uma postagem de esquerda na internet, um discurso de político ou uma matéria jornalística que mente na cara dura. As mentiras às vezes são tantas que nos perguntamos como eles conseguem mentir tão descaradamente, de modo tão potente que nos sentimos duvidando da nossa realidade, como no livro 1984. E se eu te dissesse que a razão disso acontecer não é política, mas sim teológica? Sei que é meio estranho ouvir isso num mundo tão secularizado como o nosso, mas peço que me dê uma chance. Essa é uma análise feita inicialmente por Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI), que apesar de religioso é tido como um grande intelectual na Europa e já teve discussões de igual para igual com Heidegger e Habermas.
A lógica cristã
Na figura abaixo, temos duas pessoas discutindo se o número pintado no chão é um seis ou um nove. Ambos estão certos olhando do seu ponto de vista, mas nenhum dos dois tem a ferramentas para identificar sozinho se o número no chão é um seis ou um nove. Mas essa verdade existe. Alguém pintou esse número no chão, e essa pessoa sabe se o número é um seis ou um nove.
Essa razão objetiva inacessível para as duas pessoas é o que os filósofos gregos chamavam de Logos (Palavra/Verbo em grego). Essa é a origem da palavra lógica, onde a discussão seria então um debate de perspectivas em busca desta verdade inalcançável. Os primeiros cristãos absorveram este conceito e o completaram dizendo que esta verdade objetiva inalcançável seria o Deus de Israel, que se tornou acessível aos homens quando Deus se encarnou em Jesus Cristo.
“Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” – João 1:14
Para os cristãos, porém, havia um mistério que a lógica sozinha não foi capaz de responder. E cuja batalha de interpretações gerou tanto o liberalismo, quanto o marxismo.
Eis o Mistério da Fé
Ao longo da história, o Deus cristão se manifestou de três formas diferentes: O Deus de Israel no Antigo Testamento, Jesus Cristo no Evangelho, e o Espírito Santo no Novo Testamento. Como o Deus único poderia se manifestar dessas três maneiras diferentes e ainda ser um só foi algo muitíssimo discutido pelos primeiros cristãos. A conclusão chegada foi que a Santíssima Trindade (Pai, Filho, e Espírito Santo) representa manifestações de um Deus único, mas, ao mesmo tempo, entidades separadas.
Parece incompleto, não? E é mesmo. Mas Ratzinger explica que esta definição foi adotada não por ser a melhor, mas sim porque todas as outras apresentadas foram refutadas. Não foi possível para nós humanos descrever a existência divina de maneira lógica, e este impasse é o que os católicos chamam de “o mistério da fé”.
A liberdade surge do cristianismo
Tendo visto o mistério da Trindade, Ratzinger nos propõe uma pergunta:
“A Trindade nos revelaria algo sobre o ser humano e suas maneiras de se relacionar com Deus, ou mostraria, além disso, aspectos da maneira de ser do próprio Deus”? – Joseph Ratzinger
Por quase dois mil anos, a resposta para esta pergunta foi a segunda opção. Deus era visto como um ser infinito fora da nossa realidade (parecido com quando nós jogamos um videogame). Ele era a razão verdadeira e objetiva do mundo, a verdade que as pessoas não conseguiriam esconder e que nenhuma lei do mundo dos homens seria capaz de sobrepor.
Foi isso que originou os direitos naturais defendidos por Frederick Bastiat e os direitos humanos. A incapacidade do Estado de atropelar os direitos naturais é inclusive a base da declaração de independência americana em seu trecho mais famoso:
“Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade. (…) sempre que qualquer forma de governo se torna destrutiva destes fins, é o direito do povo para alterar ou para abolir, e para instituir novo governo, colocando sua Fundamentar-se em tais Princípios. ” – Declaração de Independência Americana
Mas aí veio o Hegel.
Deus das máscaras, razão vazia
Hegel é famoso por seu historicismo, a crença de que o espírito da humanidade tem um rumo definido e inevitável, mas poucos sabem de suas razões teístas pelo historicismo: Hegel queria responder o mistério da fé, e para isso resgatou uma das alternativas refutadas para a Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo seriam apenas máscaras usadas pelo Deus único ao longo da história para interagir com a sociedade, de forma que Deus existiria apenas como coadjuvante dentro do processo histórico.
A partir disso, Hegel propôs que Deus não era um ser infinito fora do nosso mundo, mas sim um ser físico e finito, presente em todas as coisas. E tendo Deus dentro de si, Hegel argumenta que o ser humano não agia para tentar ser como Deus, mas sim se tornar Deus. O ser humano seria então a maior manifestação de Deus no mundo.
Você entende as consequências disso?
O fim do indivíduo e a utopia do futuro
Como apontado por Rothbard em “Uma Interpretação Austríaca na História do Pensamento Econômico”, a reinterpretação de Hegel deu início ao progressismo e as bases para o marxismo: as pessoas não mais se preocupavam com agir bem e transcender para a utopia do céu, mas sim em avançar a história para a utopia que Hegel chamou de “O Fim da História”. A resistência dos indivíduos não era mais vista como honrar a própria consciência, mas sim como pessoas do lado errado da história que deveriam ser vencidas para que a história avançasse.
Note que essa nova teologia elimina quaisquer resistências ao avanço opressor do Estado, e foi proposital. Ratzinger afirma que a historização de Deus foi, acima de tudo, uma teologia política para justificar o nascente estado prussiano. Marx só deu o próximo passo: se a razão não está no passado, ela só pode estar no futuro, e este só pode ser alcançado por meio da luta da população.
A utopia marxista do futuro substituiu a utopia do céu, e as pessoas que antes mantinham seus princípios para ir ao céu agora renunciavam a eles para obter um futuro melhor. Afinal, os fins justificam os meios na utopia do futuro. Vale a pena mentir, enganar, roubar e até matar para avançar a causa. Se você discorda, ou é porque você é um ignorante que não entendeu o problema, ou é uma pessoa má tentando impedir o inevitável avanço histórico do socialismo.
Ratzinger aponta a maior falha da utopia marxista do futuro: ele chega. Países nórdicos e asiáticos obtiveram um paraíso na terra com suas populações ricas, seguras, e com baixíssima desigualdade, mas tem altíssimos índices de suicídio e depressão. A utopia secular proposta por Marx chegou mas, sem o amparo religioso que antes tinham, acabaram-se as utopias e a vida perdeu sentido. Afinal, de que adianta alguém ganhar o mundo mas perder a sua alma?
Pós Verdade
Hoje a visão de mundo política se tornou uma religião, e o ídolo político, um deus. Por isso negar ou apontar erros na política de uma pessoa torna-se atacar sua crença religiosa. E é por isso que a Manuela Dávila pode celebrar a missa na igreja mas festejar a legalização do aborto até 6 meses, ou que o Lula pode ter dividido o país em nós contra eles e dizer que nunca uma campanha dele estimulou o ódio.
Baseado em tudo o que vimos agora, é possível entender a dificuldade de se convencer um marxista usando argumentos lógicos. Você, interlocutor, acredita que mostrar as inconsistências do marxismo a um militante irá fazer com que ele mude de ideia com argumentos lógicos. Não é o caso. O logos não tem importância para um militante marxista porque ele acredita na verdade subjetiva. Ele já decidiu que o que ele pensa é a verdade e vai tratar seus argumentos como uma tese, para o qual ele apresentará uma antítese que o permita chegar na síntese desejada: tudo que ele acredita continua sendo verdade apesar dos seus argumentos. Aos olhos dele, tudo o que você diz na discussão já está errado porque você é burro ou está mentindo.
Vimos isso recentemente com a invasão russa à Ucrânia, onde nem mesmo uma gritante e injustificada invasão que está massacrando civis e bombardeando maternidades consegue fazer alguns militantes, jornalistas, políticos e historiadores abandonarem o antiamericanismo e condenar a Rússia. Muitos chamaram essa guerra de “uma questão complexa”, apontando avanços da OTAN e grupos neonazistas para justificar o injustificável. E não adianta apontar as invasões da Criméia e da Georgia, ou que há neonazistas entre os soldados russos matando civis. A indignação não é mais contra o que foi feito, mas sim contra quem. Às palavras do teórico da escola de Frankfurt Herbert Marcuse: “ A tolerância libertadora, então, significaria a intolerância contra movimentos de direita, e a tolerância aos movimentos de esquerda”.
Texto por Paulo Grego
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