Pare de criticar os Wokes, ou você vai perder

Pare de criticar os wokes, ou você vai perder

Recentemente, Sargon of Akkad teve seu ban no twitter retirado. Isso é algo GIGANTE. Mas, se você não sabe a importância deste homem para a atual guerra cultural, permita-me contar sua história, para entender a origem da atual cultura woke e para que não cometamos os erros dele ao combatê-la.

GAMERGATE E O INÍCIO DA GUERRA CULTURAL

No começo da internet, houve um escândalo que fundou não apenas a cultura woke como a atual guerra cultural, e que até hoje é citado por inúmeros artigos: Gamergate: Tudo começou em 2014 quando um jogo extremamente amador e mal feito chamado Depression Quest, de Zoë Quinn, recebeu diversas notas positivas da imprensa de jogos. Mais tarde, um ex de Zoë revelaria que isso seu deu pois ela mantinha “relações” com múltiplos jornalistas de jogos que lhe deram boas notas.

De início, Zoë recebeu ódio e ameaças de morte (ambos errados e reprováveis) de fóruns nicho da internet como o Wizardchan, mas a situação saiu de controle quando ela usou sua influência com os jornalistas de jogos para chamar os gamers em geral de misóginos. Diversos artigos sairam dizendo que o termo “gamer” havia sido morto por Anitta Sarkeesian, a feminista autora da série “tropes versus women in videogames”(esteriótios versus mulheres em videogames). Os artigos fizeram um espantalho do termo gamer como algo exclusivo para jogadores homens brancos e misóginos e que atacavam Quinn só por ela ser mulher. Chegou a tal ponto que Anita e Zoë denunciaram a comunidade gamer como um todo em um discurso na ONU.

Como um excelente exemplo de efeito Streisand, Gamers como um todo se revoltaram contra esses artigos. Eram um grupo apolítico que “só queria jogar videogames”, e que se revoltou ao ver a mídia como um todo atacá-los. Eis que surge a #gamergate, unindo gamers pela causa comum de ética no jornalismo dos jogos e contra a corrupção entre devs e jornalistas. Esta foi a primeira resistência contra o politicamente correto, e a primeira batalha da guerra cultural (toda vez que vir gamers sendo xingados pelo politicamente incorreto, é por causa disso).

Vivian James, a gamer girl símbolo do movimento Gamer Gate. Propositalmente não sexualizada e com olheiras de tanto jogar, ela representava gamers como realmente eram

Carl Benjamin, sob o pseudônimo de Sargon of Akkad, seria um dos nomes que mais cobriu Gamergate, e mais tarde se tornaria um líder não oficial de algo muito maior: a comunidade cética (Skeptic Community). 

A COMUNIDADE CÉTICA

Sargon era conhecido por seus vídeos de resposta racionais e bem elaborados, assim como seu programa semanal “This Week in Stupid” (idiotas dessa semana), no qual comentava o que considerava terem sido as notícias políticas mais idiotas durante a semana. Seu conteúdo na época inspirou grandes nomes do Brasil que o assistiram, como Ely Viera e Raphaël Lima.

Esse entusiasmo por razão e lógica vinha do novo ateísmo, no qual a crença de que a religião não deveria ser tolerada pelos ateus, mas sim criticada e combatida (pejorativamente chamados no Brasil de “ateus todinho”). Sargon se considerava uma pessoa de centro esquerda e criticava tanto os religiosos cristãos quanto os Wokes, na época chamados de Social Justice Warriors (SJW).

O modelo de Sargon cresceria para além, e surgiram outros canais como, entre outros, Armored Skeptic, Shoe0nhead, SomeBlackGuy, Andy Warsky, Vee, Computing Forever, Bearing, Mundane Matt, Blair White, Chris Ray Gun, Roaming Millennial(pseudonimo de Lauren Chen), Appabend, Naked Ape, Kraut and Tea, e  Tyler Preston. 

Foto tirada pelos principais nomes da comunidade cética na vidcon de 2017 com uma bandeira do Kekistão. Sargon aparece ao centro, por trás da bandeira.

O conteúdo da comunidade cética era em grande parte vídeos resposta ao conteúdo SJW, sendo eles também chamados de anti-SJW. Além dos vídeos mais detalhados feitos por nomes como Sargon e Dr Layman, havia também o conteúdo de  “minorias contra o políticamente correto”: Shoe0nhead era uma mulher, Someblackguy e Tyler Preston eram negros, Blair White era uma mulher trans, e por ai vai. Estes vídeos resposta ganhavam tanto tráfego quanto os vídeos SJW oficiais, fazendo com que cada grande nome identitário tivesse um youtuber cético reagindo e refutando seus argumentos (Francesca Ramsey, por exemplo, tinha uma programa na MTV ensinando sobre racismo estrutural que era combatido por Andy Warski).

No ápice do movimento, adotaram para si a bandeira do Kekistão, uma etnia oprimida fictícia criada para criticar e parodiar a crença woke, tendo como símbolo o meme do sapo Pepe e um hino nacional na música italiana Shadilay. 

Um ano depois, porém, a comunidade se desmancharia em dramas internos e shadowbans por parte do youtube. Sargon ainda tentaria concorrer a deputado no Reino Unido, sem sucesso. Alguns iriam com Sargon para a direita conservadora, enquanto outros como Shoe0nhead, para a esquerda comunista.

Adpocalipse

Após o Wall Street Journal acusar o maior youtuber do mundo, Pewdiepie, de apologia ao nazismo, os grandes anunciantes deixaram o youtube em massa, no chamado Adpocalipse. O Youtube então passou a moderar quais canais receberiam ou não monetização, convenientemente desmonetizado grande parte dos canais céticos. 

Como alternativa, muitos passaram a utilizar o Patreon como forma de renda. Foi neste momento que Sargon novamente se tornaria centro das atenções, ao ser banido da plataforma (e portanto perdido sua renda) sem ter quebrado os termos de uso. Este escândalo fez alguns dos maiores nomes da plataforma, como Jordan Peterson, deixarem o Patreon em protesto. 

Por um tempo, este seria o fim de Sargon e da comunidade cética, que perderam espaço de comunidade mais influente no youtube para o chamado Bread Tube, youtubers de esquerda woke e/ou comunista (Vaush, Shaun, Contrapoints, Philosophy Tube, etc.). A internet de 2018, porém, tinha um alcance muito maior do que na época dos céticos, e um apoio estrutural maior às ideias socialistas do Bread Tube. A ideologia identitária avançaria para além de canais no youtube, quase que sem resistência, tornando-se a hegemônica cultura woke com os protestos Black Lives Matter em 2020.

A história de Sargon e da comunidade cética nos ensina uma lição importante, que já nos foi passada décadas antes por Ayn Rand mas que insistimos em ignorar.

Não critique a cultura woke, faça a sua!

Na dissertação “conservadorismo, um obituário”, Ayn Rand começa com as seguintes palavras:

“Tanto os “conservadores” quanto os “liberais” enfatizam um fato com o qual todos parecem concordar: que o mundo está enfrentando um conflito mortal e que devemos lutar para salvar a civilização. Mas qual é a natureza desse conflito? Ambos os grupos respondem: é um conflito entre o comunismo e… e o quê?— nada. É um conflito entre dois modos de vida, eles respondem, o caminho comunista e… que? – nada. É um conflito entre duas ideologias, respondem. Qual é a nossa ideologia? Nada.”

– Ayn Rand

À época, a crítica de Rand ao conservadorismo era de que combatiam o socialismo cedendo à visão de mundo da esquerda. Discordavam tentando ser certos dentro das linguagens e dogmas da esquerda ao invés de questionar a visão de mundo esquerdista. Errada ela não estava, afinal o debate da época entre keynesianos e hayekianos terminou porque “nós somos todos keynesianos agora”. As ideias de Hayek não conseguiram passar para as próximas gerações e ele foi de opção válida para heterodoxo esquecido.

A comunidade cética por sua vez era formada por pessoas de centro esquerda cuja união vinha somente da discordância com a narrativa woke, e o conteúdo eram apenas vídeos resposta ao conteúdo woke. Isso acabava por ser paliativo, pois criticavam a cultura woke sem nunca sair dela. Na época dos céticos esse discurso existia apenas nas faculdades, mas essas pessoas foram se formando e ocupando posições de trabalho como desenvolvedores de jogos, redações de jornal, direção de filmes, empresas, etc., substituindo a velha guarda conservadora e tomando espaços de poder até virarem hegemônicos sem ninguém perceber. 

Repetimos o erro de Sargon quando, por exemplo, utilizamos linguagem neutra de brincadeira em grupos, aceitamos a tese do racismo estrutural e a censura a Antonio Risério na Folha por criticá-lo, dizemos que não basta não ser racista, mas sim anti racista, etc.. Servimos de oposição controlada, difundindo os valores identitários sem nunca ter poder para mudá-los, e vamos perdendo espaço cultural pouco a pouco para quem discordamos.

Sargon concorrendo a deputado pelo partido inglês UKIP

Veja só o PSDB, por exemplo: na era petista eles tinham o Estadão, a Globo e a Veja como resistência à esquerda, e uma cultura de classe média urbana não petista. Mas o PSDB se recusou a defender as ideias do Plano Real e concordou com todos os discursos dos ditos avanços petistas, apenas dizendo que eles eram os verdadeiros autores. Agora os principais meios de comunicação são tomados por jovens identitários, pois o PSOL converteu a juventude da classe média à esquerda, e Lula ganhou o voto na capital paulistana. 

Os interiores ainda são conservadores, alguns dizem, mas São Paulo também era. Sem um discurso contrário, é só questão de tempo para que a cultura woke chegue lá também pela juventude e converta-os em identitários.

Foi por isso que, infelizmente, o Bolsonarismo ganhou tanta força tão rápido. Ele propôs uma visão de mundo e uma cultura diferentes, que combateu de frente a esquerda e negava seus discursos e visões de mundo. O tucanistão antipetista que o PSDB tinha por WO agora evaporou no bolsonarismo porque Bolsonaro foi o único em toda a direita que combateu o identitarismo fora dos dogmas identitários, que criou sua própria cultura ao invés de ser um anti. Tivéssemos feito um trabalho melhor neste combate à esquerda, o bolsonarismo não existiria.

O Legado de Sargon

Atualmente, Sargon aprendeu sua lição e criou a instituição “The Lotus Eaters”, que conta com um podcast frequente. Ele converteu-se para um conservadorismo burkeano misturado com Aristóteles, e produz conteúdos de qualidade, como por exemplo uma descrição da tese conservadora

O que podemos aprender com Sargon, e que já deveríamos ter aprendido com Rand, é  tentar difundir nossas próprias ideias e dogmas. Construir uma cultura que aborda também as minorias étnicas e LGBT, mas sem seguir dogmas identitários (como faz Guto Zacarias, por exemplo). Então pare de só criticar a cultura woke. Faça a sua própria cultura. Difunda suas ideias. Ocupe espaços. Inspire outras pessoas a serem como você. Ela tem de ser constantemente  combatida sim, claro, mas é preciso também apresentar uma alternativa.

Esta é, afinal, a meta do Students for Liberty: formar membros que possam ocupar os espaços e inspirar novas pessoas a serem liberais. Que espalhemos as nossas ideias sem repetir ou nos adequar a dogmas de outros grupos, ou correremos o risco de sermos esquecidos.


Paulo Grego

*As opiniões do autor não representam o Damas de Ferro enquanto instituição

1 comentário em “Pare de criticar os Wokes, ou você vai perder”

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