Imigração é bom ou ruim? O Caso da seleção da França

Em 2018 a seleção da França conquistou seu bicampeonato mundial, exatos 20 anos depois do seu último título e nas duas ocasiões o seu principal jogador, poderia ter escolhido defender as cores de outra bandeira, Zinedine Zidane em 98 (Argélia) e Kylian Mbappe em 18 (Camarões e Argélia). Não só Mbappe, mas na copa de 2018 a França chegou na Rússia para jogar com 19 jogadores, entre descendentes e naturalizados, num total de 23 convocados.

Essa mistura de nacionalidades não foi algo novo em 2018 e nem tampouco foi novidade em 1998, antes mesmo de falarmos sobre Copa, precisamos falar sobre outros pontos que foram fortes influenciadores nessa questão, as ondas migratórias rumo à França em busca de melhores oportunidades e qualidade de vida e também a existência de diversas colônias francesas espalhadas pela África, Caribe e região do Pacífico. Durante o século XX, a França viveu alguns movimentos imigratórios que trouxeram estrangeiros de várias regiões do mundo para o país, a chegada dos Armênios fugidos do massacre que ficou conhecido como Medz Yeghern, promovido pelo Império Turco-Otomomano entre os anos 1915 e 1923, a chegada de soldados vindo das colônias francesas na África e na Indochina prontos para lutarem a Primeira Grande Guerra, entre 1914 e 1918, e a vinda de trabalhadores do Leste Europeu em busca de oportunidades de trabalho na reconstrução de uma Paris destruída no pós-guerra e estamos falando só da primeira metade do século, ainda tivemos novas ondas de trabalhadores migrando, fugas de regimes como o Salazarismo português, e a chegada de antigos residentes de colônias e ex-colônias francesas.

Com uma mistura tão diversa o futebol apenas passou a refletir essa nova característica demográfica da França, nem tudo foram flores, xenofobia foi e continua sendo um mal bastante comum em nações que recebem tantos imigrantes, como vimos em episódios recentes com a chegada de imigrantes na Europa devido a conflitos no oriente médio. buscando uma forma de ascensão social, muitos desses imigrantes viram no esporte mais popular do mundo a ferramenta ideal para ascender socialmente e a oportunidade de mudar de vida em um país que lhes dá essa oportunidade, sendo assim, desde a primeira copa, em 1930 os Bleus (como ficou conhecida a seleção francesa) passaram a contar com talentos de origem não francesa, tendo sido o primeiro capitão da seleção o jogador Alexandre Villaplane nascido na Argélia e naturalizado francês, mas que ficou mais conhecido pelas suas polêmicas fora de campo e envolvimento em esquemas e movimentos extremistas políticos.

Com o passar dos anos ídolos foram surgindo na França, nomes como Michel Platini, Zinedine Zidane, Thierry Henry, Lilian Thuram e Kylian Mbappé, todos com dupla nacionalidade que optaram pela seleção francesa pelos mais diversos motivos, sendo a Argélia a principal nação responsável por emigrar jogadores para a seleção francesa, nos faz pensar na possibilidade de como seriam as seleções dessas nações africanas caso grandes nomes do futebol tivessem optado por defender seu país de origem?! Se pararmos para pensar que uma seleção africana nunca na história das copas conseguiu chegar nas semifinais do torneio, até recentemente. Fica apenas na imaginação os grandes times e como o futebol poderia ser diferente hoje em dia.

Do outro lado da moeda a França é também uma das seleções que mais tem jogadores em outros times nacionais mundo afora, sendo Tunísia e Marrocos os dois principais beneficiados pela saída desses jogadores, na verdade daria para montar todo uma nova seleção só com os 29 jogadores franceses que optaram por defender outros países na copa de 2018, daria para fazer um jogo da Seleção francesa X jogadores franceses, ou nos moldes dos anos 2000 França X Seleção do Resto do Mundo.

Em 2011 o ex-jogador e ex-técnico francês Laurent Blanc, teve um áudio vazado onde falava sobre querer a criação de cotas para  jogadores estrangeiros na seleção de seu país, outros casos como o dos jogadores Younes Belhanda e Khalid Boutalib que sofreram com a xenofobia na França e preferiram defender a seleção marroquina por não se sentirem à vontade em defender os Bleus. Outro fato notável é como o time na vitória é celebrado com destaque para como toda essa mistura permite ao time jogar em mais alto nível mundial, mas nas derrotas sofre com a xenofobia.

A imigração acaba sendo um tema muito debatido na Europa, devido às suas fronteiras, porém como foi possível observar, dentro do futebol ela tem seus pontos positivos e negativos, cabe a cada país selecionar as vantagens que melhor lhe convém, de acordo com a situação. É certo que se a França não tivesse imigrantes naturalizados em sua seleção, seria um time bem diferente do que estamos vendo, se isso é bom ou ruim, não temos como saber.



*As opiniões do autor não representam o Damas de Ferro enquanto instituição

Referências

https://gauchazh.clicrbs.com.br/esportes/copa-do-mundo/noticia/2018/06/selecoes-levam-estrangeiros-para-a-copa-saiba-quais-equipes-tem-mais-jogadores-naturalizados-cjic2xplm0clj01parc8n697i.html

https://ge.globo.com/futebol/selecoes/franca/noticia/os-dois-lados-da-migracao-franca-tem-19-gringos-na-selecao-e-29-nativos-em-outros-paises-da-copa.ghtml

https://www.lance.com.br/eurocopa/veja-jogadores-euro-que-jogam-selecoes.html

https://www.df.superesportes.com.br/app/noticias/copa-do-mundo/2018/noticias/2018/06/13/copa-do-mundo,62911/jogadores-naturalizados-copa-do-mundo-russia.shtml

https://www.terra.com.br/esportes/futebol/copa-2018

https://www.bbc.com/portuguese/geral-

https://trivela.com.br/copa-do-mundo/a-selecao-francesa-sempre-foi-feita-por-imigrantes-e-ja-refletiu-diferentes-misturas-no-pais/

https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$da-franca-de-1851-a-primeira-guerra-mundial

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *