Cada vez mais a diversidade se espalha pelo mundo, pessoas com diferentes etnias, crenças e tradições culturais estão em constante convívio, mas infelizmente a intolerância também tem se espalhado. Muitos ainda têm dificuldade em conviver pacificamente com quem não compartilha das mesmas convicções, estilo de vida ou aparência. A tendência de muitas pessoas é considerar suas próprias crenças como verdades universais, logo quem diverge disso é julgado de forma negativa.
A convivência em sociedade começa a se fragilizar quando um número cada vez maior de indivíduos quer submeter os outros aos seus próprios valores e crenças pessoais, assim ameaçando a liberdade alheia.
Aceitar aquilo que não se quer, ou ouvir com paciência opiniões diferentes das suas, são virtudes necessárias para a convivência em uma sociedade democrática. Porém, de tempos em tempos, vemos o enfraquecimento desses valores, não só no Brasil, mas no mundo todo.
A tolerância, do latim tolerare (sustentar, suportar), é um termo que define o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física. Do ponto de vista da sociedade, a tolerância define a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar outra pessoa ou outro grupo social com uma atitude diferente das que são comuns a seu próprio grupo. Numa concepção moderna é também a atitude pessoal e comunitária face aos valores diferentes daqueles adotados pelo grupo de que pertença originalmente.
A história está repleta de fatos conhecidos onde a intolerância marcou profundamente as relações entre os homens. Costumes de um povo foram usados como padrão para julgar as ações de outro de cultura diferente daquela considerada “padrão”. Massacres foram cometidos “em nome de Deus”. Prometeu, condenado por ter ensinado o homem a utilizar o fogo; Aquenatom, por defender a ideia do monoteísmo como forma de uniformização da cultura de seu povo; Sócrates, que é condenado à morte por ensinar aos jovens a questionar as ‘verdades do Estado’; Jesus, por defender o amor entre os homens.
Devemos ter em mente que a intolerância é uma atitude de ódio e de agressividade com relação a indivíduos e grupos específicos, a sua maneira de ser, ao seu estilo de vida e as suas crenças e convicções. Trata-se de uma forma de pensar e agir que se atualiza em manifestações múltiplas, de caráter religioso, nacional, racial, étnico e outros. Apesar de todo o apelo à tolerância e de sua necessidade para a construção de uma sociedade baseada em princípios morais e éticos condizentes com a evolução tecnológica, a história, até o presente, nos mostra uma crescente onda de intolerância e fundamentalismo que negam nossa condição de Civilização.
Voltaire, escritor, historiador e filosofo iluminista francês, escreveu o tratado sobre a tolerância. Neste Tratado, defende que se o ser humano é por natureza intolerante, e que essa tendência deve ser contrariada para não se definir o homem por abstrações como raça ou orientação sexual.
Voltaire foi um defensor fervoroso da liberdade de pensamento e expressão. Suas ideias sobre esse tema estavam intrinsecamente ligadas aos princípios fundamentais do iluminismo, nos quais a razão, a tolerância, as garantias para a propriedade privada e a liberdade individual eram valores centrais.
Ele acreditava na fraternidade entre as pessoas e afirmou que todos deveriam considerar-se irmãos uns dos outros. Segundo ele: “A primeira lei da natureza é a tolerância; já que temos todos uma porção de erros e fraquezas.”
Voltaire termina seu Tratado com uma oração a Deus, clamando tolerância entre os homens. Ele não fala somente em tolerância religiosa, mas em liberdade de pensar. Para ele, a tolerância entre os homens e entre as religiões era imprescindível para que o homem se emancipasse.
Ser tolerante exige atitudes mais ousadas e corajosas do que ser intolerante, principalmente quando enfrentamos a oposição dentro de nosso grupo social. Conviver, coexistir, esta é a chave para um mundo futuro sem barreiras e baseado no respeito e na liberdade. Da mesma forma que você quer exercer a sua liberdade de ter as crenças e os hábitos que tem, as outras pessoas também querem e tem o direito de fazer isso. Para ser mais tolerante é essencial reconhecer os outros como cidadãos livres, autônomos, com seus próprios valores e historia de vida.
*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituto