Ao Lado de Milton Friedman

Ao Lado de Milton Friedman

Milton Friedman, um dos mais potentes influenciadores do pensamento econômico e política pública no século XX, ícone de toda uma corrente de pensamento e autor de diversos livros, alguns que possivelmente serão clássicos, foi acompanhado de uma força colaboradora desde o início da década de 30, força que, como o próprio Milton e a mesma reconhecem, é responsável por pelo menos metade de todo o sucesso do economista e merece crédito pela influência em moldar seu pensamento econômico, particularmente no domínio de política pública. Alguns dos três mais notórios livros de Friedman, Capitalismo e Liberdade, Liberdade para Escolher e Tyranny of the Status Quo (‘’Tirania do Status Quo’’), viram a participação, seja como debatedora e sócia silenciosa, seja como co-escritora, dessa tão influente força colaboradora.

Para melhor conhecê-la, é preciso ter ciência de seu passado como judia nascida na Ucrânia e emigrada, na aurora da Primeira Guerra, em direção aos Estados Unidos, onde frequentou o Reed College e, posteriormente, a Universidade de Chicago, ponto que a ofereceu muito. Não só lá se formou em filosofia e realizou todo o trabalho para adquirir o título de doutora, excetuando a dissertação final, mas continuou estudando economia após a formação, tendo conhecido Milton numa aula desta disciplina.

Falo de Rose Director Friedman, esposa e colaboradora vitalícia. O que se diz sobre a influência dessa simbiose colaboradora marido-mulher no domínio de política pública é de escala grandiosa. Em fala de 2003, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (banco central norte-americano) de 2006 a 2014, portanto pessoa suficientemente competente em assuntos econômicos para ser capaz de atingir uma das posições de maior influência, quanto a política econômica, em todo o planeta, afirmou que dificilmente se pode exagerar a influência do casal Friedman no campo de política econômica. Também tiveram papel em decisões que vão desde o fim da compulsoriedade do alistamento militar nos Estados Unidos até a eliminação do lastreamento do dólar no ouro na década de 1970, segundo Allan Meltzer, professor

da Universidade Carnegie Mellon e historiador econômico. Também é amplamente afirmado que seu trabalho foi uma das principais fontes intelectuais aos mandatos políticos de Margaret Thatcher (provavelmente através do conselheiro econômico desta: Keith Joseph) e Ronald Reagan, que detiveram o poder principalmente durante a década de 80.

Milton e Rose Friedman fundaram, em 1996, a ‘’Fundação Friedman para Escolha Educacional’’, que providenciava vouchers escolares, ou seja, financiamento, para famílias que então poderiam escolher em que escolas matricular seus filhos. Seu livro colaborativo Liberdade para Escolher foi transformado em uma série de televisão com 10 episódios, pela emissora PBS.

A relação pessoal do casal, segundo Rose e outros observadores, não poderia ter mais sintonia, sendo visto de mãos dadas em público e sem discordâncias de grande relevância, com exceção da invasão do Iraque em 2003, à qual ela era favorável, e ele, contrário. “I can recall many a pleasant summer evening discussing consumption data and theory in front of a blazing fire.” (‘’Consigo lembrar de muitas tardes prazerosas de verão discutindo dados e teoria de consumo em frente à lareira ardente.’’, em tradução livre), afirmou Milton. ‘’I’ve always felt that I’m responsible for at least half of what he’s gotten.” (‘’Sempre me senti responsável por pelo menos metade do que ele tem’’), diz Rose, e adiciona que sempre esteve disposta a, por exemplo, abandonar seu próprio emprego para que o casal pudesse se mudar ao local onde Milton teria seu novo, o que evidencia, não só a proporção maior do salário do marido na renda do casal, mas a disposição e o compromisso da esposa. Esta afirma, entretanto, nunca ter se visto competindo profissionalmente com ele, que sempre a fez sentir participação em suas conquistas.

Gary Becker, ganhador do Nobel e professor de economia da Universidade de Chicago, ambos status compartilhados com Milton, faz afirmações reveladoras sobre a relação pessoal e o compartilhamento de ideias e sentimentos do casal. É que Becker foi aluno daquele e amigo do casal, e é dele que provém a

afirmação da especial relevância da influência de Rose no trabalho do casal no campo da política econômica. Apesar da intensa e próxima relação de coleguismo sustentada entre os Friedmans, Rose não era de tomar crédito por aquilo que não fez. Ainda segundo Becker, os sentimentos daquela ‘’sobre a importância dos mercados privados, oposição ao Estado grande, eram ainda mais fortes que os dele [Milton]. Sua influência duradoura será como de colaboradora, mas ela foi dos maiores contribuidores à colaboração, e isso é um legado significativo.’’

Viu-se sua vida terminar em 2009, supostamente por parada cardíaca, três anos após a ida final do marido. Foram 98 anos (1910-2009), a maioria dos quais de dedicação à ciência econômica e romântica.


João Victor Sesso

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