Cuba e a Revolução
Fidel Castro foi, talvez, uma das figuras mais marcantes do século XX. Junto ao aliado Che Guevara, protagonizaram uma das revoluções socialistas mais bem sucedidas da história: a revolução cubana, desencadeada em 1953.
Ora, mas afinal de contas, o que caracterizaria uma revolução socialista bem sucedida? Esta pergunta é extremamente simples de responder: controle populacional.
Cuba, como todo país socialista, é controlada por uma elite oligárquica de revolucionários, que, após o sonho utópico de trazer o paraíso à terra — tema já abordado no blog, conseguiu a tão sonhada “economia planificada” e o controle populacional, por meio do chamado “planejamento central estatal”.
“A maioria dos planejadores que analisaram em profundidade os aspectos práticos de sua tarefa está certa de que uma economia dirigida deve seguir linhas mais ou menos ditatoriais. Para ser submetido a um controle consciente, o complexo sistema de atividades interrelacionadas que constitui uma economia terá de ser dirigido por uma única equipe de especialistas, devendo as responsabilidades e o poderes últimos ficarem a cargo de um chefe supremo, cujos atos não poderão ser tolhidos pelos processos democráticos.”
O caminho da Servidão, capítulo 7 – F.A Hayek
O “capitalismo” cubano
Porém, é notório dentro dos estudos da ciência econômica, tanto ortodoxa quanto heterodoxa – vide escola austríaca, que o modelo econômico planificado socialista é impossível de ser realizado.
Em outras palavras, toda economia irá funcionar com base em trocas voluntárias, sejam elas feitas através de uma economia de livre mercado ou em uma economia paralela, tal qual a URSS, que possuia um mercado negro paralelo, onde bens e serviços eram trocados; ou a Argentina, que também possui uma economia paralela, baseada no dólar.
Ludwig Von Mises, em 1920, explicou em na obra “O cálculo econômico sob o socialismo” o porquê da impossibilidade de uma economia planificada:
“ É exatamente nas transações de mercado que os preços de mercado — a serem tomados como base para todos os cálculos — são formados para todos os tipos de bens e mão-de-obra empregados. Onde não há um livre mercado, não há mecanismo de preços; e sem um mecanismo de preços, é impossível haver cálculo econômico.”
O cálculo econômico sob o socialismo, capítulo 3 – Ludwig Von Mises.
Tendo isso em vista, é possível concluir facilmente que Cuba possui uma espécie de mercado interno (mesmo que seja um mercado totalmente defasado) o que não só gera uma espécie de capitalismo deficiente, como em todos os países de economia planificada, mas também uma fonte de “riqueza” para os membros da elite oligárquica (como em todos os países socialistas)
A fortuna de Fidel Castro
Fidel Castro, no ano de 2006, foi colocado pela revista americana Forbes como um dos 7 governantes mais ricos do mundo. A fortuna foi estimada em mais de 900 milhões de dólares, o que em valores corrigidos tornaria Fidel um bilionário.
Esta informação não é grande surpresa em regimes totalitários, regidos pelos dogmas socialistas. Mas, o que é surpreendente é a evolução da riqueza do revolucionário cubano, que em 2003, dois anos antes, tinha a fortuna estimada em “apenas” 110 milhões de dólares.
Nota-se que o dinheiro acumulado por Fidel teria relação com seu poder em uma série de empresas que eram de propriedade do Estado cubano. O que faz total sentido ao considerar a natureza de economias como a de Cuba, onde a elite oligárquica sempre concentra a riqueza em si. O melhor exemplo disto, são os próprios oligarcas russos, que, após a queda da URSS, foram erigidos ao posto de bilionário, mesmo que eles tivessem surgido de um país economicamente destruído.
Mas a esquerda não é contra bilionários?
“Bilionários não deveriam existir”
Sâmia Bomfim, deputada federal pelo partido socialismo e liberdade (Psol)
Tendo em vista a frase da deputada – que no cargo atribuído democraticamente representa o posicionamento ideológico de seus eleitores –, pode-se concluir que esquerdistas, ou parte deles, são contra bilionários, correto? Depende.
A “esquerda” como nós conhecemos não tem uma ideia muito definida de seus próprios conceitos. Pegando emprestado a explanação de George Orwell, podemos dizer que para a esquerda “quatro patas bom, duas patas ruim.”
Em outras palavras, o que for à favor da revolução, não só pode, como deve ser considerado bom, mas o que for contra, não só pode, como deve ser considerado ruim. Reflexão muito bem explicada no texto “Tudo que o partido reconhece como verdade é a verdade”.
Logo, bilionários como George Soros e Luiza Trajano não serão um problema, mas bilionários como Elon Musk, certamente serão. A esquerda moderna não visa algo específico, além do projeto abstrato de “liberdade” e “revolução”. Basta considerar que um dos partidos mais expressivos do Brasil tenta conciliar a ideia de socialismo e liberdade.
Fidel e os cubanos, Lula e os brasileiros
Ao considerar a situação precária de Cuba, é interessante notar o tamanho do patrimônio que Fidel obteve em vida. Além disso, o número obtido pela Forbes, foi apenas uma estimativa e o tamanho real da riqueza de Fidel pode ser muito maior do que a levantada pela revista.
No entanto, nós podemos notar um padrão. Afinal, outro líder “revolucionário” carrega as mesmas características de Fidel, mas em outro país, o nosso Brasil. Luiz Inácio Lula da Silva, no ano de 2022, declarou R$ 7,4 milhões em bens ao tribunal superior eleitoral (TSE).
Nota-se o exato mesmo fenômeno relacionado a Fidel com Lula: a criação de uma “segunda realidade”, como explica Eric Voegelin em Hitler e os Alemães:
“Então, a realidade e a experiência da realidade são substituídas por uma falsa imagem da realidade. O homem, assim, não vive mais na realidade, mas em uma falsa imagem da realidade, que diz, no entanto, ser a realidade genuína. Há, então, se essa condição pneumopática ocorreu, duas realidades: a primeira realidade, onde o homem normalmente ordenado vive, e a segunda realidade, em que o homem pneumaticamente doente agora vive e que, portanto, entra em constante conflito com a primeira realidade.”
Hitler e os Alemães, Parte 1 – Descida ao abismo, §12 – Eric Voegelin
Logo, esse padrão é repetido ad infinitum e segue a linha paradoxal do estímulo ao contraditório, onde afirma-se que o líder esquerdista é contra bilionários, mesmo que ele seja um; contra a exploração, mesmo que ele seja um explorador; representante das “minorias”, mesmo que ele não seja de uma “minoria” e “a favor da democracia”, mesmo que ele não seja democrático.
*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição