Ouse saber: o conhecimento liberta

Ouse saber: o conhecimento liberta

Há diversos períodos históricos que, à sua própria maneira, transformaram o conhecimento em um luxo para poucos, um poder concedido a um pequeno grupo. Independentemente dos métodos utilizados, o resultado era a escravização intelectual, e por muitas vezes literal, daqueles que não podiam questionar. Sim, o uso da força foi essencial neste processo, mas com conhecimento até mesmo a força é superada bela boa estratégia. 

O problema é que, por qualquer que seja a razão, passamos a crer que nós somos uma exceção a esta triste regra histórica, que não impedimos ninguém de saber e de questionar. Talvez a internet tenha criado esta ilusão, mas a era da hiperinformação é, também, a era das fake news e da disseminação em massa das mais absurdas teorias da conspiração. 

Levem em consideração o que o INAF – Indicador do Alfabetismo Funcional constatou em sua pesquisa: 

Três em cada 10 brasileiros na faixa de 15 a 64 anos são considerados analfabetos funcionais – ou seja, apresentam limitações para fazer uso da leitura, da escrita e da matemática em atividades cotidianas. Isso inclui, por exemplo, reconhecer informações em um cartaz ou fazer operações aritméticas simples.1

Mais uma vez, muitos ficam presos em armadilhas intelectuais feitas especialmente para enganar, a diferença é que, em outros momentos históricos, as pessoas criavam uma nova compreensão a respeito do presente por meio da alteração do passado. Infelizmente, a esta velha tática foi adicionada a capacidade de mudar a percepção da realidade transformando o momento em si. 

Você pode argumentar, com certa razão, que nem todos querem o conhecimento, e terei de concordar em parte. Mas preciso te lembrar que quando tornamos o estudo uma tarefa enfadonha e temos mestres que, ao invés de incentivar, preferem te relembrar da sua ignorância – talvez para que você se esqueça da deles – não estamos tornando o conhecimento algo agradável. 

Precisamos reconhecer, também, que nossa cultura não ajuda muito. O questionador, aquele que não admite que forcem uma afirmação “goela abaixo”, que quer saber mais sobre algo e se aprofundar em determinado assunto não é visto como uma pessoa legal e agradável, de maneira geral. 

No entanto, nossas heroínas da liberdade: Isabel Patterson, Ayn Rand, Nadine Strossen, Deirdre Mccloskey produziram, e ainda produzem, trabalhos de qualidade excepcional que contribuem para mudanças positivas na sociedade, que nos inspiram a aprender e a trabalhar em prol da liberdade. Todo o fruto de seu trabalho só é possível porque elas compreenderam o poder do conhecimento e decidiram buscá-lo com disciplina e determinação. 

O saber é o único tesouro que, quanto mais compartilhado, mais se multiplica e, por consequência, maior e mais importante fica. Para além das mais modernas e letais armas de guerra, é o conhecimento que destrói ditaduras e vence a batalha pela liberdade, sem um tiro sequer. 

Por isso, benditos sejam os inquietos, que não se satisfazem com uma meia resposta nem se curvam a um “porque sim”; benditos os questionadores que tanto irritam com seus incontáveis porquês e insistem em colocar uma interrogação onde muitos desejariam simplesmente um ponto final. 

Ainda há muitos percalços no caminho do conhecimento, mas quanto mais debatermos, quanto mais questionamos e quanto mais compartilhamos aquilo que sabemos, mais espalhamos para todos o tesouro que alguns insistem em dizer que é para poucos. 

Ouse saber, pois ninguém rouba seu conhecimento e, de posse dele, terão cada vez mais dificuldade em atentar contra a sua liberdade. 


Suellen Marjorry

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.


  1. Informação disponível em: https://revistaeducacao.com.br/2018/08/08/tres-em-cada-10-brasileiros-sao-analfabetos-funcionais-1/
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