“O estado assistencialista é a trapaça mais antiga do mundo. Primeiro você toma o dinheiro do povo silenciosamente e depois você devolve uma parte dele ao mesmo, de modo extravagante.”
-Thomas Sowell
Começamos nossa conversa com essa citação bem ilustrativa sobre o assunto que trataremos no artigo de hoje. Iremos destacar aqui a importância de estruturas institucionais que condicionam os indivíduos a um comportamento ativo e empoderado (saber pescar), para que os mesmos não precisem mais (caso usem) ou nem cheguem a usar políticas públicas assistencialistas ( ganhar o peixe).
Primeiramente, o que de fato seria ensinar a pescar?
Muitos países, principalmente o nosso, têm como base dos planos de governo, os programas assistencialistas, programas esses que abrangem tanto a população carente, quanto instituições privadas (subsídios). Esses, em sua maioria, não têm prazos estabelecidos com critérios definidos. Em suma, caso os beneficiados saiam da linha de “precisão”, eles ainda continuarão sendo “financiados”, o que acaba tornando essas medidas vitalícias.
Quando falamos em políticas que ensinam a pescar, estamos nos referindo ao total oposto do que temos hoje. Trata-se de reformas desses programas, com intuito de instruir para o mercado de trabalho, aqueles que hoje não tem capacidades técnicas para um auto sustento. O ideal seria a não existência desses programas, porém, já que eles existem, são necessárias algumas modificações para que cumpram seu papel: mudar as condições de vida das pessoas carentes.
A forma ideal disso se materializar, seria através, por exemplo, de cursos técnicos incluídos nos currículos escolares, garantindo a entrada eficaz dos jovens no mercado de trabalho. A implementação também, junto a programas de assistência financeira a famílias carentes, bolsas parciais ou integrais de cursos profissionalizantes, de empreendedorismo e comunicação (essencial para o mercado hoje). Com essas pequenas medidas, é possível ter êxito no combate à pobreza (principal problema), pois condicionará esses indivíduos a não só mudarem sua condição, mas também mudarem a vida de todos em sua volta.
O mar tem que tá pra peixe
Tão importante quanto ensinar a pescar, ter um mar com disponibilidade de peixe é essencial. Referimos aqui a um ambiente com liberdade de mercado, para que os indivíduos possam, aplicando o que aprendem, colher os frutos dos seus trabalhos. Pois o que temos hoje é uma estrutura que impede a mobilidade social, com regulamentações no trabalho, nas estruturas empresariais e até mesmo na educação, logo ela, a peça principal para o desenvolvimento.
Problemas como esse, abrem espaço para políticos ganharem votos com a distribuição dos “peixes”, mesmo que estes sejam os principais agentes que impedem os seus “subordinados” de pescar.
Podemos citar aqui o exemplo da Nova Zelândia, que cortou subsídios no ano de 1987 do setor agropecuário, que antes contava com produtores dependentes do Estado, causando ineficiência quanto à produtividade. Apesar de ter instabilidades nos primeiros anos, houve uma retomada crescente do setor, sendo hoje um dos países de referência no agronegócio, com os melhores métodos tecnológicos e inovadores na área.
Outro fator que trouxe esse êxito para Nova Zelândia foram as reduções de impostos, o que trouxe menores custos para o agronegócio, além de abrir espaço para inovação e competitividade.
Resumidamente, a Nova Zelândia não só parou de oferecer o “peixe”, como também abriu o espaço para a “pesca”, forçando os “pescadores” a pescar de forma eficiente, desenvolvendo-os e tornando-os assim, produtivos. Para elucidar bem o quão benéfico foram essas reformas, vejamos a fala de Mike Petersen, representante de Assuntos de Comércio em Agricultura da Nova Zelândia:
“Há um consenso que a retirada de subsídios foi totalmente positiva para o setor, gerando uma agroindústria mais dinâmica, direcionada e sustentável”.
Em rio sem peixes nao deites a rede
Falamos sobre a importância de ensinar a pescar, mas há um outro fator importante quanto a esse tema, que convém mencionar também, nem todo rio dá peixe e ensinar a pescar pode ser inútil.
Na vida, os recursos não são equivalentes para todos, uns vão ter mais oportunidades comparados a outros que não terão. Tão verídico quanto, é o fato de que cada um tem ambições diferentes, o que influencia nos resultados que esses indivíduos terão, seja na vida financeira, profissional, amorosa e familiar.
Aonde vamos chegar com isso?
Queremos elucidar aqui que as realidades são distintas e talvez, um mesmo método de ensino pode não ser eficaz em algumas delas. Um exemplo bem grotesco que podemos usar é: Ensinar moradores do deserto a podar árvores, apesar de que isso caberia pra quem mora em um oásis, em um contexto geral, não seria útil para nada.
Dessa maneira, deve-se levar em consideração que muitas vezes a realidade varia de um lugar para outro, e fornecer conhecimento, num local que o mesmo não vingará, é desperdício de tempo e dinheiro. Portanto, uma educação descentralizada seria a solução, pois ela abrange vários contextos econômicos e sociais, sendo eficiente em atingir ótimos resultados.
“Somos todos geniais. mas se você julgar o peixe pela sua capacidade em subir em árvores, ele passará sua vida inteira acreditando ser estúpido” Albert Einstein
– Albert Einstein
Se não puder ajudar, atrapalhe
Uma vez que entendemos que medidas assistencialistas são benéficas em um curto espaço de tempo e, quando ultrapassado esse período, pode ter um efeito reverso, a estagnação, compreendemos que dar esse papel assistencialista ao Estado é perigoso. Pois o interesse estatal é o poder contínuo, e não há nada tão populista quanto promessas de criação ou continuidade de políticas assistencialistas, afinal elas rendem votos para aqueles que as fazem. E isso torna um incentivo para que um apoio que seria momentâneo vire uma obrigação, como dizia Milton Friedman:
“Nada é tão permanente como um programa temporário de governo”
Tá mas se não for o estado quem fará?
Diante do que expusemos aqui, é claro que a educação é o fator principal para desenvolvimento dos indivíduos, seja qual for o contexto sociocultural na qual estes estão inseridos. No entanto, percebemos que a educação tradicional fornecida pelos governos, sempre veio com intuito doutrinador, igualitário e nada equivalente com a realidade.
E hoje existem instituições e projetos que cumprem um bom papel na disseminação de uma boa educação sobre a luz do empreendedorismo, e contam apenas com recursos privados para se financiarem, sejam esses através de doações, arrecadação voluntária dos membros ou contribuição dos usuários (geralmente valores baixos).
Podemos aqui citar o Student For Liberty Brazil, uma instituição que busca desenvolver líderes para propagar ideias de liberdade, promovendo projetos, realizando treinamentos e aprimorando as habilidades de seus voluntários seja qual for sua área de atuação. A mesma, através dessas ações, formou grandes movimentos institucionais e grandes líderes.
Esse é um exemplo de sucesso, dentre vários, no Brasil, mas poderíamos ter melhores resultados caso não existissem tantos impedimentos por parte do Estado, seja na regulação dos conteúdos ensinado nas escolas, seja nas burocracias impostas na criação de instituições de ensino.
É uma decepção saber que os pais, caso queiram, não possam praticar homeschooling, mesmo que os dados dessa prática mostram melhores resultados relacionados à educação tradicional estatal. Os dados que temos mostram o quão benéfico para os jovens é o homeschooling, não só na vida acadêmica, mas também, na vida profissional, acompanhado de ótimas pontuações a frente de alunos de escola tradicional.
Esse sucesso acontece devido a possibilidade do contato maior com a realidade local, a atenção individual que é dada, diferentemente do que acontece na sala de aula com muitos alunos, o que permite uma melhor orientação para o aluno. Lembrando que, até em quesito de discriminaçao, o homeschooling se tornou um ótimo meio para crianças negras nos EUA por exemplo, diminuindo a exposição ao preconceito devido a cor, muito frequente em escolas.
Importante mencionar que temos textos bons sobre educação aqui no blog, e há um bem interessante sobre homeschooling (clique aqui e confira).
Aqui podemos chegar à conclusão que, ensinar a pescar caminha sobre a educação, e a mesma deve ser descentralizada, voltada ao indivíduo, para que seja eficiente, isso transforma a realidade de qualquer sociedade, não tornando a mesma dependente de subsídios de seus governantes.
Nova Zelândia mostra como faz
Apesar de não ser um sistema perfeito, a Nova Zelândia mostra números positivos, comparado com vários países na área da educação. Basicamente a sua estrutura educacional trabalha afinco desde o primário. A leitura e resolução de contas matemáticas (foco principal), além de possuir também como base disciplinar, habilidades de interação social (comunicação, responsabilidade e participação) e atividades esportivas, fatores essenciais para desenvolvimento e preparação dos jovens para o mercado de trabalho desde cedo. Outro fator que contribui bastante, é o fato de os professores terem liberdade quanto às estratégias para guiar seus alunos ao patamar estabelecido, seguindo o padrão nacional.
A Nova Zelândia está entre os países com os melhores índices educacionais do mundo, superando médias da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) um dado interessante que podemos usar como exemplo, é de um aluno médio neozelandês que conseguiu uma pontuação 503 em leitura, matemática e ciência, valor esse acima da média da OCDE que é 488. (confira aqui a visão geral sobre a Nova Zelândia) .
Esses e outros agentes foram essenciais para a evolução competitiva de mercado e bem estabelecidos que a Nova Zelândia tem. Seus cidadãos têm uma liberdade muito maior, espaço para o crescimento e desenvolvimento. Tudo isso baseado num governo menos intervencionista que condiciona os seus cidadãos a um comportamento autônomo e como autores das suas histórias.
Ensine a jogar e saia do campo
Com tudo que falamos aqui, espero que entenda que o governo ensinar ao invés de sempre amparar, é importante, mas dar liberdade de aprender é mais que essencial, é crucial.