Liberalismo não é só economia

Liberalismo não é só economia

O Liberalismo, enquanto corrente de pensamento, é visto muitas vezes como uma doutrina que não preza por questões além do campo da economia. Essa visão distorcida acaba por afastar muitas pessoas dessa ideologia que, quando foi aplicada de maneira eficiente, ajudou no enriquecimento e prosperidade de diversas nações ao redor do mundo e tirou inúmeras pessoas da miséria. 

Afinal, o que, de fato, significa Liberalismo? 

Quando se fala sobre Liberalismo, muitas vezes tende-se a associar essa doutrina, logo de cara, com a defesa da liberdade. Por mais correta que essa associação possa estar, ela não é o suficiente para resumir o liberalismo. Marxistas, por exemplo, em seu próprio modo de verem sua ideologia, também podem alegar que defendem a liberdade. No caso deles, a liberdade seria a consequência da luta da classe trabalhadora pela emancipação contra a burguesia, mas para que essa emancipação ocorra, a classe trabalhadora deve implementar uma ditadura. Outras ideologias coletivistas, tais como Nazismo ou Fascismo, também defendem, mesmo que de maneira totalmente distorcida, que lutam pela liberdade. 

O Liberalismo, porém, defende genuinamente a liberdade, mas com um detalhe que muda tudo: a individualidade é o grande foco. 

Essa é uma ideologia política que se baseia na defesa da liberdade individual, na propriedade privada e na limitação do poder do Estado sobre o indivíduo. Os defensores dessa filosofia acreditam que todos têm direito a uma ampla gama de liberdades, como, por exemplo, liberdade de expressão, de culto, de associação, de imprensa, etc. 

Um de seus pilares é a defesa dos direitos negativos, ou seja, as garantias de que as pessoas possam agir sem a interferência de terceiros, desde que isso não afete outros indivíduos ou seus direitos. Liberdade, vida e propriedade são elementos que se encaixam nessa lógica, já que ninguém é forçado a se sacrificar para garantir que algum desses existam.

Erroneamente, existe também uma tendência das pessoas que não conhecem bem o pensamento liberal, de falar que quem se identifica com essa doutrina se preocupa somente com questões econômicas. É fato que, para os liberais, o livre mercado, baseado no laissez-faire, é crucial para que um país se desenvolva. Porém, pautas sociais, culturais, ambientais, dentre outras, são amplamente discutidas por diversos autores adeptos a essa ideologia. 

Então, liberais não pensam apenas na economia?

Na realidade, esse pensamento está extremamente equivocado. Uma das maiores críticas da esquerda do mundo todo ao liberalismo, se dá no sentido de atacar o egoísmo e a falta de preocupação por parte dos liberais para com as questões sociais, tal como a pobreza e o preconceito. 

Como o individualismo é uma das bases do liberalismo, quem compactua com essas ideias tem em mente que as aspirações de cada pessoa são bastante diversas. Desse modo, todas as ações que você faz, partem de um pensamento egoísta, desde a compra de um carro de luxo, até a doação de dinheiro para a causa animal na Amazônia. Ambas as escolhas farão com que quem as executa se sinta bem, se o fizerem de maneira voluntária, e são moralmente aceitáveis, já que se dão sem o uso de qualquer tipo de coerção.

A questão, de acordo com a ética abordada, é que ninguém deve se sentir mal pelo simples fato de utilizar seus recursos da forma que achar mais conveniente, independentemente de suas motivações.  

Tendo isso em mente, o incentivo à caridade é bastante disseminado dentre os liberais. A doação voluntária para causas que merecem atenção é sim uma preocupação, apesar de ser algo bastante subestimado. Friedrich von Hayek, Adam Smith e Milton Friedman são só alguns exemplos de autores liberais que defendiam a caridade como uma maneira importantíssima de ajudar os menos afortunados e de diminuir a miséria no mundo. 

Além disso, a lógica do liberalismo também ajuda em questões como a proteção ao meio ambiente. Se, por exemplo, uma empresa toma fama de prejudicar a natureza, e seu público consumidor é contra esse tipo de prática, uma maneira do consumidor punir essa empresa, seria a boicotando e não utilizando mais seus produtos ou serviços. Quem consume é quem tem o poder de decidir para onde vai seu dinheiro. A própria demanda do mercado vai definir se aquela ação é passível de ser punida. Não se trata somente de economia, mas sim da vontade dos indivíduos de se associarem à marca ou não. A imagem, no capitalismo, é fundamental para definir se uma empresa prosperará ou não. 

Liberalismo e democracia

Não bastasse isso, o liberalismo tem uma forte conexão com a democracia. Sim, ao contrário do que muitos pregam, liberalismo e democracia não são antagônicos. 

Tendo em vista que os indivíduos querem ter sua liberdade e propriedade respeitados, essa corrente de pensamento vê como importante a ação do Estado para garantir tais direitos. Desse modo, o sistema representativo do Estado democrático é parte do liberalismo.  

Quando se segue essa lógica, inevitavelmente chega-se à defesa da liberdade individual, igualdade de todos perante a lei, defesa dos direitos humanos (incluindo o direito ao voto), e da participação popular na tomada de decisões políticas. 

Para os liberais, a democracia tem como papel de limitar o poder do Estado e garantir os direitos individuais, protegendo-os da tirania do governo. Ao mesmo tempo, dentro da ética liberal, não é desejável que o Estado seja o planejador central dos mais diversos assuntos da sociedade, ou seja, o ele deve se ater a garantir os direitos negativos.

Conclusão

Como deu pra notar, o liberalismo não se trata (apenas) de economia. Trata-se das preferências individuais. A economia é, certamente, importantíssima para os liberais, já que essa reflete a vontade das pessoas. Porém, acima de tudo, essa filosofia se baseia no indivíduo, na não agressão, na tolerância, e na garantia de que seus anseios não sejam submetidos a qualquer autoritarismo. 


*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.

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