Como o Talibã voltou ao poder

Como o Talibã voltou ao poder

O que é o Talibã?

Na época da Guerra Fria, o Reino do Afeganistão era próximo dos EUA e da Europa Ocidental, mas, em 1973, um golpe de Estado transformou o país numa República alinhada com a URSS, só que esse governo foi se afastando dos soviéticos até ser derrubado em 1978 por um golpe do Partido Comunista.  Em 1979, os soviéticos resolveram invadir o Afeganistão para tentar controlar as coisas, e passaram uma década em confronto com os guerrilheiros islâmicos radicais conhecidos como “Mujahedin”, que eram apoiados por países como Paquistão, Arábia Saudita, Irã e China, e recebiam armas e treinamentos dos EUA.

Em 1989, a União Soviética retirou as tropas do país, foi quando começou uma guerra civil com vários grupos lutando entre si, e foi a partir daquele momento que alguns guerrilheiros “Mujahedin” formaram uma milícia chamada de Talibã. O grupo dominou mais de 75% do território do Afeganistão, e em 1996 criou um governo calcado em uma visão totalmente opressiva e radical das leis islâmicas (Proclamação da fé, oração, caridade compulsória, o jejum de Ramadã e a peregrinação à meca). Esse cenário só começou a mudar em 2001, depois dos ataques de 11 de setembro que levaram à chamada “guerra ao terror”, declarada pelo presidente George W. Bush, naquele mesmo ano, os americanos colocaram na mira, vários grupos islâmicos radicais que eles enxergavam como os grandes inimigos da América, e um deles era o Talibã. 

Os EUA, juntamente com seus aliados, invadiram o Afeganistão e tiraram o Talibã do poder, e ajudaram a estabelecer um novo governo que era apoiado por eles e pelas potências europeias. É importante ressaltar que o objetivo da “guerra ao terror” era acabar de vez com o terrorismo dos grupos radicais contra os EUA, só que o fato de os americanos ocuparem o Afeganistão não resultou nisso. É claro que o Talibã perdeu o seu poder, mas ainda fazia constantes ataques terroristas contra a presença norte-americana, inclusive, em agosto de 2011, eles mataram 30 soldados americanos depois de derrubar um helicóptero operado pela mesma equipe militar que tinha assassinado Bin Laden 3 meses antes. A verdade é que o Afeganistão continuou instável e hostil à presença norte-americana.

No governo Donald Trump, foi anunciado um acordo entre os EUA e o Talibã, que foi assinado em 2020, e dizia que as tropas americanas iriam deixar o Afeganistão, e o Talibã iria proibir o terrorismo nas regiões que eles controlavam. O ponto central do acordo foi a promessa do Talibã de não atacar as tropas estrangeiras durante o processo de retirada, e ainda prometeram conversar com o governo afegão sobre uma divisão de poder no país, só que essas tentativas de manter uma estabilidade não fizeram progresso. Dito isso, o atual presidente Joe Biden seguiu com o acordo, e no mês de maio de 2021, as tropas norte-americanas saíram do Afeganistão, e, com isso, o Talibã foi atacando e assumindo os territórios que o exército afegão não conseguia defender sozinho, enquanto isso o governo americano fingindo que uma guerra de 20 anos tinha chegado ao fim. O resultado foi que, em agosto de 2021, o Talibã já tinha cercado a capital, Cabul, e em seguida o presidente fugiu para os Emirados Árabes, o governo implodiu e logo foi notório a volta do Talibã ao poder. 

Por que as pessoas estão com tanto medo de ficar no Afeganistão?

Pessoas que seguiam outras religiões, ainda com as mesmas correntes do islamismo diferentes daquela que o Talibã acreditava, eram caçadas implacavelmente, e quem criticasse o Talibã era chicoteado, mutilado, ou, executado no meio da rua. A repressão era tão grande, que as atividades de lazer como jogar xadrez ou futebol eram proibidas. No primeiro regime do Talibã, as mulheres eram vistas como seres humanos de segunda classe, e tinham as funções de cuidar da casa e gerar filhos, ou seja, não podiam estudar e nem trabalhar, aliás, elas nem poderiam sair de casa sem ter um homem da família andando ao seu lado. O próprio Talibã declarou que as normas do novo regime vão continuar sendo baseadas na visão radical que eles têm da Sharia (sistema jurídico do Islã), e que o país está longe de ser uma democracia, e mudaram o nome para Emirado Islâmico do Afeganistão, assim como aconteceu em 1996.

A Sharia consiste em um conjunto de normas derivado de orientações do Corão, falas e condutas do profeta Maomé e jurisprudência das fatwas – pronunciamentos legais de estudiosos do Islã. Em tradução literal, Sharia significa “o caminho claro para a água”. A Sharia serve como diretriz para a vida que todos os muçulmanos deveriam seguir. Elas incluem orações diárias, jejum e doações para os pobres. O código tem disposições sobre todos os aspectos da vida cotidiana, incluindo direito de família, negócios e finanças. 

Essa foi uma das maiores derrotas dos EUA, e, por mais que o presidente Joe Biden não admita, a ideia era levar a democracia ocidental para o povo afegão, mas deu tudo errado. Foram gastos 2 trilhões de dólares, e uma ocupação que durou 20 anos, para que no final, devolvessem o país para os mesmos indivíduos que tiraram do poder. 

É importante ressaltar que, após a tomada do Talibã no governo do Afeganistão, eles paralisaram a vacinação, decapitaram jornalistas e violaram direitos individuais (sobretudo de mulheres e gays). 

Infelizmente, o retorno do Talibã ao poder foi visto como uma vitória por algumas instituições e partidos políticos, como o próprio PCO – Partido da Causa Operária, que lançou uma nota dizendo “a vitória do Talibã contra o imperialismo é uma vitória de todo o povo oprimido”.


Victor Queiroz

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