Você é egoísta! (E isso é bom)

Você é egoísta e isso é bom!

“O caráter vem de berço

Você com certeza já ouviu falar de egoísmo. Na escola, no trabalho, na televisão, internet, e até mesmo no seu ambiente familiar. Geralmente na forma de “dividir as suas coisas é certo”, e “quem não divide é mal”, ou quando você conquista algo com esforço próprio e pretende usufruir dos ganhos sozinho e ouve algo como “vai querer ficar com tudo só pra você?! Não vai ajudar fulano ou ciclano?!”, ou até mesmo num dos mais simples atos de interação social, quando alguém pede um bombom (ou um pedaço do único que você tem) e por ter pedido “por favor” a pessoa se sente no direito de receber o que pediu;, além disso, se você decide não atender ao pedido, a pessoa ainda te julga mal e faz cara feia, como se estivesse profundamente ofendida, o que faz parecer que dividir seu bombom era sua obrigação moral e você falhou em cumpri-la e, em alguns casos, a pessoa passa a lhe considerar “mau educado”, o que tem a intenção de ser um insulto a você e a sua família. Muitas vezes isso até faz com que você se sinta mal e acabe dando o que foi pedido, mesmo que contra a sua vontade. Mas cumprir essa suposta obrigação (implícita) te torna uma pessoa melhor, ou apenas te poupa da pecha de “egoísta” ou “mesquinho”?

A filósofa Ayn Rand tem uma visão completamente diferente do senso comum quando o assunto é egoísmo. Para começar, é importante dizer que apesar da diferença entre o “Egoísmo Racional”, como Rand denomina, e o “Egoísmo” que você conhece, o tratamento que ela dá ao termo é puramente LITERAL. No dicionário, a palavra egoísmo é definida como “Atitude daquele que busca o próprio interesse, acima dos interesses dos demais”. Ora! Isso parece errado pra você?! Possivelmente sim!! E você já vai entender o porquê.

O buraco da agulha

Quando falamos em egoísmo, a primeira coisa que vem à mente (geralmente) é uma pessoa rica. Isso porque existe um esforço gigantesco de alguns grupos para que todos enxerguem a riqueza e acúmulo de capital como algo mal, e pra reforçar ainda mais esse tipo de pensamento, nada melhor do que usar palavras já existentes, “adaptando” levemente sua definição para algo que lhes convém, e, provavelmente, sem você perceber. Talvez você não tenha notado, mas a definição de “egoísmo” que dei acima não diz que os seus interesses serão buscados através da mazela de terceiros. Mas simplesmente que você dá mais valor aos seus próprios interesses do que ao de terceiros.

Ao pensar em seus familiares, por exemplo, muitos diriam que dariam sua vida por seus entes queridos. Isso seria de alguma forma um ato heróico, ou um sacrifício?! Bem, se uma pessoa dá mais valor à vida de um ente querido do que à sua e, por isso, seria capaz de dar sua própria vida para salvar a dele, essa pessoa não está sendo nada além de coerente. Sim, coerente!! Se algo ou alguém tem mais valor pra você, o correto é você agir em prol dela e em detrimento a todo resto que tem valor menor. Mas e por alguém desconhecido, será que essas pessoas também fariam esse “sacrifício”? Nesse caso, posso até remover as aspas, pois seria de fato um sacrifício dar a sua vida por um desconhecido, em detrimento a todos os seus familiares e amigos que sofrerão pela sua perda ou até mesmo a pessoas que dependem de você de alguma maneira (uma mãe solteira, por exemplo). Já que, a não ser que você seja um altruísta por completo, o valor que sua própria vida tem pra você, DEVE ser maior do que a de um estranho.

Apesar dessas situações serem bem específicas, é bem provável que você esteja acostumado a tratar desse assunto com esse tipo de pergunta. Isso porque elas servem para forçar você a decidir se é altruísta ou egoísta. Egoísta nos termos daqueles que convém que todos ao seu redor sejam altruístas.

Amar é (e sempre será) puro egoísmo

Quando você ama alguém, isso significa que, de alguma forma, esse alguém gera algo em você que te faz sentir bem. Na maioria das vezes esse “algo” é um sentimento. Nem sempre sabemos explicar exatamente que sentimento é esse, já que em alguns casos, temos familiares que constantemente nos desapontam e até mesmo nos “ferem” e, ainda assim, continuamos amando-os. Mas perceba que o critério para esse amor existir é completamente subjetivo. De tal forma que para uma pessoa, o fato de ter sido xingada por alguém que ela ama possa fazer com que ela mude completamente seu jeito de pensar sobre aquela pessoa,,  por exemplo, por considerar esse xingamento um absurdo completo. Enquanto que para outra pessoa, um “simples” xingamento jamais poderia mudar o que ela sente pelo(a) seu/sua amado(a). 

Além disso, como o tempo é um recurso limitado e amar alguém significa agir em prol desta pessoa, usando o seu tempo, isso necessariamente só funciona se você deixar de agir em prol de algumas bilhões de outras pessoas que existem no mundo. Ora, mas isso não seria um gigantesco egoísmo?! Sim, e isso é bom! Porque é da natureza do ser humano agir em prol da sua sobrevivência e do seu próprio bem estar. O que necessariamente implica em deixar de agir em prol de terceiros, ao menos, na maior parte do tempo.

Mas afinal, se não tem nada de errado em agir para si, porque essa ideia é tão difundida na nossa sociedade e a quem ela beneficia? 

Controle x Liberdade e natureza humana

O ser humano deve agir em prol de si mesmo e em detrimento a terceiros para sua própria sobrevivência. Isso é da sua natureza. Mas isso não significa que ele não deve colaborar com outros da sua espécie. Afinal, essa colaboração tem se mostrado como um fator importantíssimo para a evolução da qualidade de vida de cada um dos seres humanos nesse planeta. Mas apenas deve colaborar com seus semelhantes se, e quando, decidir fazê-lo. Forçar alguém a fazer algo que você quer não configura colaboração, mas coerção.

No entanto, coerção não é uma coisa fácil de se fazer. Todo ser humano tem um impulso animal de se proteger quando está em perigo, e a tentativa de coerção costuma acionar esse gatilho em nós. Então o indivíduo que tenta coagir outro a fazer o que ele quer, precisará usar força, o que na maioria dos casos demanda recursos. Seja em forma de algum tipo de arma para garantir a execução do ato, seja um exército de pessoas que vão querer algo em troca de seu esforço (recursos).

Assim, era uma questão de tempo até que alguém percebesse que existiam maneiras mais eficientes de conseguir a colaboração de terceiros, sem que seja por pura vontade, mas também sem o uso da força. Essa forma é: gerando, reforçando e difundindo o máximo possível o sentimento de altruísmo. Com esse sentimento, cada pessoa passa a ter uma noção distorcida da realidade, na qual as vontades de terceiros ou, mais especificamente, de um coletivo, valem mais do que a sua própria. Mesmo que isso vá de encontro à sua própria natureza.

Com a ideia de que os interesses coletivos são mais importantes do que os individuais entranhada na cabeça de todos, fica fácil fazer com que alguém faça o que você quer. Basta convencê-la de que existe um grupo do qual ela faz parte (ou não) que precisa de recursos mais do que ela, individualmente. Porque isso faz com que cada pessoa, ao pensar em tomar uma atitude egoísta, entre em conflito consigo mesma e termine agindo de forma altruísta, abdicando do que é seu em prol de terceiros, mesmo que estes não tenham para ela o mesmo valor de um ente querido, ou nem mesmo de uma aspiração pessoal, por exemplo. Logo, quem tiver o poder de controlar uma das formas mais difundidas de comunicação entre os seres humanos (a língua escrita), terá o poder de gerar esse sentimento com muita facilidade. E fica claro o quão bem isso tem funcionado quando você faz uma pesquisa rápida no Google pela palavra “egoísmo”. A grande maioria dos resultados trazem uma ideia sutil, mas imensamente diferente da original (trazida no início do artigo), sendo algo como “Apego excessivo aos próprios interesses”. Perceba que a sutil ligação do termo “excessivo” a “próprios interesses” denota a ideia de algo fora do limite, algo que facilmente pode ser interpretado como errado.

Junte tudo isso à ideia de que os ricos, por não dividirem suas riquezas com os mais necessitados, são “egoístas” e você terá a fórmula perfeita para uma sociedade que tem apreço por aqueles que sacrificam seu tempo e dinheiro por terceiros e desdém por todos que não o fazem. Uma bela vitória para o altruísmo. Porém, junto a isso, teremos também uma bela vitória para governos autoritários e sanguinários, que constantemente usam o “bem comum” como argumento (amplamente aceito, diga-se de passagem) para todas as atrocidades cometidas em seus regimes. 

Seja egoísta

Com isso, a mensagem que deixo aqui é que você deve ser egoísta. Deve isso a você mesmo e, consequentemente, àqueles que te amam (se você der o devido valor aos sentimentos deles).

Não se deixe levar pelos sentimentos e caprichos de terceiros, especialmente se forem estranhos. Isso te fará sacrificar o seu tempo, seu dinheiro e sua vida, por coisas e por pessoas que, no fim das contas, não tinham mais valor para você do que o seu tempo. E parafraseando Ayn Rand, você é um fim em si mesmo e não precisa procurar por um propósito externo à sua própria existência. Então viva a sua vida da forma que achar melhor. Aja da maneira que melhor convir. Seja livre para, inclusive, ser burro de decidir não colaborar com pessoas que de fato tentam gerar algum valor na sua vida em troca de você gerar valor na vida delas. Desde que você tome essa decisão porque você quis.


Tiago Santos

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.

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