Romanos 13: o socialismo contra a Bíblia

Disse o Cristo no evangelho que se deve dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César, essas palavras significaram uma espécie de separação entre os deveres religiosos e a contribuição que todo cidadão cristão deve para a sua comunidade; vale salientar que isso não quer dizer que o sujeito religioso deva ter como que uma identidade dupla: um “eu” político, que age como se não cresse em religião nenhuma, e um “eu” religioso, que tem suas crenças e convicções; querer que alguém viva desse modo dúbio é exigir dele uma vida de dissimulação e mentiras. A separação entre Deus e César é antes um modo de assegurar o bem da polis e a prática da religião em liberdade de consciência, é como dizer: siga sua consciência e aja do melhor modo, mas não se esqueça que todos nós temos deveres para com nossa comunidade, todos nós devemos a César o que lhe é devido segundo a justiça. Entretanto, a longa marcha da história é rica em episódios em que ofertaram ao Cristo o que era de César — e que tão pouco interessava ao filho de Deus – e em muitos Césares que quiseram o que era do Cristo: a obediência religiosa e a adoração que se tributa somente a divindades. 

O cristianismo e a política:

Tendo feito a divisão do que cabe a cada um, ao César e ao Cristo, vemos que o cristianismo, embora não se vincule a um projeto político específico, não deixa de trazer uma contribuição para a vida política, uma tipo de ética para a vida na polis. Essa ética política baseia-se em dois princípios:

  1. Respeito a autoridade legitimamente constituída, pois a autoridade vem de Deus (Romanos 13,1)
  2. Amor recíproco como a base de uma boa convivência civil: “a ninguém fiqueis devendo coisa alguma, a não ser o amor recíproco” Romanos 13, 8.

O primeiro princípio não apresenta nenhuma novidade em relação ao que já se vivia na época em que São Paulo escreveu sua carta — os romanos, por exemplo, exigiam de seus cidadãos o culto de seu imperador –; entretanto o segundo princípio apresenta um novo modo de ver a vida política, um modo que une as obrigações civis à noção de Caridade cristã. Até no dar a César o que é de César encontra-se o dever de amar ao próximo como a si mesmo. E esse modelo de convivência é em tudo contrária ao ódio revolucionário de que o socialismo é feito; na revolução não há amor ao próximo, só há a luta de classes; e até mesmo as formas de caridade privada são vistas por qualquer bom socialista não como um ato de amor, mas como uma tentativa vinda da classe dominante de apaziguar a classe dominada e evitar assim a própria destruição. Poucas idéias são tão falsas como a de que cristianismo e socialismo são parecidos, a realidade é que são diametralmente opostos.

Contrastes entre socialismo e cristianismo:

No socialismo, há a usurpação das funções do povo pelo governante: o partido fala e age em nome do povo, e pouco importa o que o cidadão realmente pensa. Sempre que o homem comum pensar e se expressar contra o partido e a ideologia socialista, faz porque a ideologia burguesa o levou a fazê-lo, nunca por sua própria iniciativa e vontade. O César socialista quer ser o povo; mas não somente isso, quer também ser Deus: ao considerar a religião uma parte importante do aparato ideológico burguês, a ideologia socialista tenta suprimi-la ou aparelhar-lá. Disso temos vários exemplos, desde a perseguição religiosa durante a revolução russa, que via na Igreja Ortodoxa um dos braços do Czarismo, até o projeto de aparelhamento da Igreja Católica no Brasil e restante da América Latina executado pelas esquerdas — e, lamentavelmente, muitas vezes, com conivência de padres e bispos.

Essa noção de caridade cristã como a base de uma boa convivência civil, o respeito à autoridade legítima e a separação entre os deveres que o sujeito tem para com sua polis e sua religião – duas esferas que se relacionam mas não se fundem – representam o oposto do socialismo: a iniciativa aqui está separada em diversas instituições, no socialismo toda iniciativa provém do estado; a autoridades aqui tem diversas fontes e configurações, no socialismo só o partido confere “legítima” autoridade; aqui pode-se exigir dos religiosos que façam jus às suas crenças e que contribuam com o bem comum como manda a noção de caridade cristã, no socialismo, o ópio do povo. 


As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição

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