O dilema da responsabilidade em Avatar: A Lenda de Aang

O dilema da responsabilidade em Avatar: A Lenda de Aang

“Avatar: A Lenda de Aang” é uma série de animação que se passa em um mundo fictício dividido em quatro nações, cada uma baseada em um elemento: Água, Terra, Fogo e Ar. 

A história se concentra em Aang, o Avatar, um mestre do controle de todos os quatro elementos, que desapareceu por cem anos. Porém, ao retornar, ele e seus amigos, Katara e Sokka, embarcam em uma jornada para derrotar o Senhor do Fogo e restaurar a paz no mundo.

Aang precisa dominar os outros três elementos para se tornar um Avatar completo e enfrentar o Senhor do Fogo, líder da nação do Fogo, que busca dominar todas as nações. A série é uma mistura de aventura, humor, drama e elementos de artes marciais, explorando temas como amizade, sacrifício, equilíbrio e responsabilidade.

Qual o objetivo do texto?

Esse breve resumo nos coloca a par do que irei utilizar no texto de hoje como base para a nossa discussão: princípios.

Avatar pode ser considerado uma das melhores animações produzidas pelos norte-americanos, haja vista a complexidade e a maturidade cujo os temas da obra são tratados. Poucas obras americanas lidam com conceitos como: o valor da liberdade, princípios, responsabilidade e muito mais.

No presente texto, estarei apresentando uma síntese de como a obra trata o tema princípios e como entrelaça essa ideia com o conceito de responsabilidade pessoal.

Responsabilidade

Como avatar, o objetivo de Aang é retomar o equilíbrio do mundo outrora perdido com a expansão ditatorial da nação do fogo, com isso cabe ao garoto, uma mera criança de 12 anos de idade, pôr fim ao reinado do senhor do fogo e restaurar o mundo.

Porém, além deste ser um fardo muito pesado para Aang, o qual ele se queixa muitas vezes durante a série, afinal como qualquer criança Aang gostaria apenas de brincar e se divertir, mas Aang não é qualquer criança, ele é o avatar, e isso cobra dele certa responsabilidade, que independe de suas vontades pessoais.

Mas as responsabilidades de avatar são demais para Aang, afinal para pôr um fim à guerra, Aang se depara com um dilema muito difícil: tirar uma vida, a vida do senhor do fogo. 

Princípios

Por mais que na série animada o senhor do fogo seja inegavelmente um tirano impiedoso, para Aang e os monges do ar, toda vida é sagrada, mesmo que seja de um inseto em uma teia de aranha, logo é inaceitável para um monge do ar tirar a vida de um ser humano, mesmo que seja para pôr fim a uma guerra de séculos.

Por isso, Aang decide consultar os avatares que vieram antes dele para obter conselhos do que fazer diante do seu dilema. Cada Avatar na série tem uma perspectiva única sobre o dilema moral de Aang em matar o Senhor do Fogo:

Roku (Fogo): Roku foi o último avatar antes de Aang, por causa disso ele é também o avatar mais próximo do protagonista da série, sendo uma espécie de mentor para Aang em muitas situações. A palavra chave para Roku é “decisão”, ele diz que Aang deve ser assertivo com a sua escolha. 

Roku explica para Aang que, por causa de sua clemência quando ele era o Avatar, guerras como essa aconteceram, Roku não foi firme e não tomou decisões com assertividade para garantir a paz no mundo. 

A resposta de Roku não alivia Aang, pois ele deixa claro que: dilemas morais não podem lhe impedir de agir, pois isso terá consequências.

Kyoshi (Terra): A Avatar Kyoshi é mais objetiva e pragmática com Aang, ela diz que “apenas a justiça trará a paz”, e para Kyoshi matar ou não o Senhor do Fogo não é a questão, mas sim trazer a justiça ao mundo e não importa como isso seja feito.

Aang também não é acalentado pelo conselho da Avatar, pois Kyoshi deixa claro para Aang que: o importante é o resultado, não o caminho.

Kuruk (Água): Kuruk é prático em sua resposta, ele diz a Aang que ele deve moldar o seu destino e o destino do mundo de forma ativa. A resposta de Kuruk é dura para Aang, pois deixa claro que Aang, assim como Roku o aconselhou, terá que tomar uma decisão por conta própria, não podendo delegar isso a mais ninguém.

Yangchen (Ar): Por fim, Aang conversa com Avatar Yangchen, que assim como ele havia sido uma monja do Ar em vida, então Aang esperava que Yangchen entendesse o seu dilema e desse uma resposta para ele.

No entanto, Yangchen dificulta ainda mais a vida de Aang dizendo-lhe que apesar de ser um monge do Ar, Aang era primeiramente um Avatar e que a sua responsabilidade era com o mundo, mesmo que isso ferisse suas convicções pessoais.

Yangchen lembra a Aang que a sua responsabilidade é grande demais para que Aang se desse ao luxo de tomar uma decisão como se fosse algo que dissesse respeito apenas a ele, pelo contrário, a decisão de Aang impactaria o mundo inteiro.

Às vezes a vida não é tão simples

O dilema de Aang nos ensina que a vida não é tão simples, traduzindo isso para os nossos dias, muitas vezes nossos princípios irão esbarrar com as nossas vontades e também irão nos causar desconforto, de certa forma é incorreto afirmar que dar significado às nossas ações facilitam a execução delas, pelo contrário, quanto maior o significado maior o peso de uma de nossas escolhas, por consequência maior o dilema.

Isso nos demonstra que as nossas escolhas não seguem um caminho unidimensional, afinal se olharmos tanto para o dilema de Aang quanto para os conselhos dados pelos avatares podemos concluir que nenhum está propondo algo absurdo ou está substancialmente errado, muitas vezes estaremos lidando com escolhas que não possuem um certo ou errado claro, esse é o caso de Aang.

Ora, é tão comum para nós que estamos envolvidos com ideias políticas a utilização de preceitos claros e princípios definidos que muitas vezes esquecemos a área cinzenta de nossas escolhas. 

Soluções difíceis requerem criatividade

Mesmo lidando com uma situação conflitante, Aang acha uma solução que tanto põe fim à guerra quanto não fere os seus princípios individuais, cabe aqui um questionamento: Aang foi irresponsável ao não abrir mão de seus princípios individuais?

Veja, mesmo que Aang tenha cumprido o seu papel como Avatar e parado o Senhor do Fogo, Aang escolheu ativamente não abrir mão de seus princípios, isso é algo a se pensar, afinal muitas vezes nossos princípios podem custar muito caro.

No entanto, é louvável que Aang não tenha se abstraído do seu dever (dever este que não foi sua escolha), utilizando da criatividade para acabar com a guerra e destronar o Senhor do Fogo. A questão aqui não é como Aang derrotou o Senhor do Fogo, mas sim o que ele fez.

Convicção requer coragem

Na história, o Avatar Aang busca poderes alternativos que não estavam em vista tanto de seus antecessores quanto de seus companheiros de equipe. Aang aprendeu a dominar a energia, que na obra seria como um “quinto elemento”.

Isso possibilita a Aang retirar os poderes do Senhor do Fogo sem precisar acabar com a sua vida, porém sendo o suficiente para acabar com a guerra, porém nem tudo são flores, o risco de Aang utilizar o elemento energia para tirar os poderes do Senhor do Fogo seria de que, caso Aang não possuísse força o suficiente ele não só morreria, como o Senhor do Fogo venceria a guerra.

É muito claro o preço que Aang estava disposto para manter os seus princípios e cumprir a sua responsabilidade: a sua própria vida. 

Conclusão

Em suma, “Avatar: A Lenda de Aang” oferece uma profunda reflexão sobre princípios e responsabilidade, destacando como esses conceitos se entrelaçam em momentos de dilema moral. A jornada de Aang como Avatar nos lembra que as escolhas nem sempre são simples, e muitas vezes enfrentamos situações em que nossos princípios entram em conflito com nossos desejos pessoais. 

No entanto, a série também nos mostra que soluções criativas e coragem podem ser fundamentais para encontrar um equilíbrio entre nossas convicções e nossas responsabilidades. Aang, ao buscar alternativas que respeitem seus princípios sem ignorar sua missão como Avatar, nos inspira a considerar o verdadeiro custo de nossas escolhas e o valor da integridade pessoal.

Em um mundo político frequentemente polarizado, é crucial lembrar que as escolhas nem sempre são claras, e os líderes muitas vezes enfrentam dilemas éticos difíceis. Da mesma forma que Aang buscou equilibrar seus princípios pessoais com sua responsabilidade como Avatar, nós devemos considerar como nossas decisões afetam não apenas nossos interesses pessoais.

Em resumo, “Avatar: A Lenda de Aang” oferece lições valiosas que podem ser aplicadas não apenas em um contexto fictício, mas também em nossa realidade política, lembrando-nos da importância de tomar decisões éticas e responsáveis, mesmo em meio a desafios aparentemente insuperáveis.


Gabriel Barros

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.

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