O Amor pelo Estado, o Ódio pela Política

O brasileiro possui uma dicotomia peculiar que somente se vê pelas bandas tupiniquins. Em nosso atual contexto, o ódio pela política vem se acentuando cada vez mais, porém o amor pelo Estado cresce cada vez mais, ainda mais em tempos de crise econômica. Se o brasileiro médio parasse para pensar um pouquinho, ele veria que as pessoas que formulam as políticas de estado são justamente quem elas odeiam. O cientista político, Bruno Garschagen reforça isso num livro de sua autoria, conhecido como: “Pare de Acreditar no Governo”. Bruno mostra como o brasileiro possui apreço pelas políticas governamentais, porém acaba rejeitando quem produz ou mentaliza essas políticas.

O brasileiro sempre teve um órgão dirigista e opressor em seu cangote, seja na época da coroa com os impostos, seja no governo da Nova República com sua carga tributária regressiva. Entretanto, o que podemos avaliar é que esse dirigismo foi aumentando conforme o tempo foi passando. Com a independência do Brasil, tivemos um novo governo sendo formado, uma constituição, uma nova ordem. Esta constituição, no entanto, não era tão intervencionista, e possuía apenas 179 artigos bem definidos, além de uma moeda estável e poucos impostos. 

Isto vigorou até o golpe militar de 1889, que instituiu a república. Por mais golpista que seja a república brasileira, sua primeira constituição e seus primeiros governos respeitavam muito mais o indivíduo do que os demais que virão. A constituição de 1891 tinha apenas 92 artigos, a moeda, por mais que tivesse sofrido com o encolhimento do início republicano, também era estável e a carga tributária era baixa, apenas 10%.

Todavia, tudo isso mudou com o golpe de Getúlio Dornelles Vargas, em 1930. Vargas ascendeu ao poder com sua mentalidade nacionalista, trabalhista e paternalista, explorando um povo carente que sofreu nas mãos de oligarquias republicanas durante 40 anos. Vargas, que em 1934 conquistou sua constituição corporativista e, mais tarde, em 1937, a jogou fora para outorgar uma nova carta e instituir uma ditadura no Brasil, duplicou a carga tributária para 20%, quando sua era foi finalizada. Até mesmo parentescos da família real, como o atual deputado federal Luiz Phillipe de Orleans e Bragança, descreve em seu livro “Por que o Brasil é um país atrasado?” que o Brasil do período da primeira república até o período do início “Era Vargas”, era um país mais livre e com menos amarras burocráticas.

Mesmo com todas essas nefastas ações, Getúlio tinha o carinho da população através de seu populismo. Instituiu programas de rádio, fazia comícios, atacava adversários políticos e fazia dificuldades, como já foi dito na estrofe acima, para vender facilidades, como as tais leis trabalhistas, que segundo Vargas “protegiam o trabalhador”. Com isso, Getúlio conquistou o coração do povo com seu populismo barato, instituindo e dando início, assim, a era dirigista no Brasil.

Vargas fez escola de populismo e todos os seus subsequentes fizeram igual ou semelhante às suas propostas. O povo se acostumou com isso, mas tudo tem o seu preço. Quando se aumenta o tamanho do Estado, também se aumenta o número de funcionários, o número de pessoas ligadas, aumenta-se o corporativismo. Em 1999, a carga tributária chegou a 36%, hoje, estamos em 33%, este número não sustenta somente benefícios sociais e o bem-estar geral, mas sustenta toda a corte republicana que vive do pagador de impostos.

Com toda essa corte “mamando nas tetas”, a corrupção também aumenta, e isso cria um descontentamento na população, que acaba desacreditando as instituições democráticas, desacreditando a política e os políticos e colocando a democracia em xeque, dando espaço para que projetos autoritários de poder conquistem o posto que outrora foram destes que se diziam os representantes do povo. E aqui, não estou dizendo para que se confie nos políticos, mas o que estou querendo dizer é que é dever do povo fiscalizar o político, não abandoná-lo ou querer acabar com todo o sistema.

O povo brasileiro precisa começar a exercitar o seu pensamento democrático e cidadão, pois isto o levará a fazer escolhas mais qualificadas e prudentes. Vejam um exemplo sobre isso. A pandemia da Covid-19 impôs ao povo inúmeras restrições como o uso de máscaras, a adesão às vacinas anti-covid, entre outras medidas sanitárias para conter o vírus. Muitas pessoas usavam máscaras e tomaram a vacina apenas porque o Estado mandava, e não porque elas chegaram a uma conclusão sobre o assunto, escutando especialistas e médicos.

O mesmo se aplica à política e aos políticos. A população paga o salário do político, paga o salário do funcionário público, portanto, é dever do mesmo cobrá-lo por resultados positivos, afinal, estamos numa democracia representativa e eles são nossos representantes.  O apelo que faço aqui é para que a população brasileira comece a raciocinar mais, quem faz o Estado são os mesmo que estão na política. Para o brasileiro, o político é corrupto, mas o mesmo recebe um afago com um auxílio de R $600,00 feito por um político que ele considera corrupto. Todos eles estão dentro de uma superestrutura, sem exceção, como já dizia o filósofo italiano Norberto Bobbio. Portanto, não existe santo nessa história, existe protagonista, e os protagonistas somos nós, o povo.


*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição

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