Você não acha contraditório, ou no mínimo engraçado que, em plena era do coletivismo, estejamos cada vez mais aficionados em acompanhar a vida de um indivíduo? Os reality shows que mostram como as pessoas vivem suas vidas e tomam suas decisões estão por todos os lados.
Mesmo lotando shows de seus artistas preferidos e entendendo-os como pessoas únicas e insubstituíveis, como indivíduos e não como partes de um coletivo, ainda temos problemas explicando as terríveis consequências do coletivismo como corrente de pensamento.
Recentemente figurou no blog o artigo “A destruição da Identidade pelo Coletivo” de Tailize Scheffer, uma leitura necessária para todos os que querem entender como estamos perdendo aquilo que temos de mais precioso e que nos torna únicos. Percebam, para você pode parecer óbvio, mas nem todos entendem realmente o que é o individualismo.
Não cometa o erro dos ignorantes de pensar que um individualista é um homem que diz: “Eu farei o que quiser às custas de todos”. Um individualista é um homem que reconhece os direitos individuais inalienáveis do homem – os seus próprios e os dos outros.
– Ayn Rand
Parte deste problema em compreender o individualismo é cultural, e não estou falando isso para inferiorizar nossa cultura e modo de vida, é apenas uma constatação. Pensem comigo: você vai ao banco resolver um problema e, como todos os outros, espera na fila até que seja atendido. Repentinamente uma pessoa entra na agência e, ao invés de seguir as regras como todos os outros, resolve “furar fila”. Todos se incomodam, mas ninguém fala nada, e se alguém ousar confrontar será visto como chato(a), barraqueiro(a) e outros adjetivos do tipo.
Ainda que o “infrator” tenha ferido o direito de mais de um indivíduo ao mesmo tempo, não vemos com bons olhos aquele(a) que defende uma posição plenamente razoável e extremamente necessária: cumpra as regras, espere no último lugar da fila. Até porque, nem quem já estava esperando, nem quem chegou recentemente é melhor ou pior do que ninguém. O critério é objetivo: ordem de chegada.
Considere, também, que às vezes o coletivismo é a saída mais “confortável”, ou a que dará menos trabalho para o indivíduo. Há alguns anos li o relato de uma amiga que, ao voltar para sua terra natal, os Estados Unidos da América, foi trabalhar como garçonete em um restaurante. Creio eu que sua convivência de anos com o povo brasileiro deu a ela um gingado que é difícil de encontrar em outros países, por isso, suas gorjetas eram sempre muito generosas.
Adivinhem só! Diante deste sucesso passou a existir uma regra que todos deveriam colocar as gorjetas em um mesmo local e, ao fim da noite, o montante seria dividido igualmente entre todas. Gostaram da ideia? Quando alguém faz algo muito melhor do que os outros, ao invés de aprender como está sendo feito e procurar o aprimoramento pessoal, vamos punir essa pessoa a fazendo dividir seus lucros com todos os outros que não foram tão bons ou tão esforçados.
Neste caso não há critério algum, afinal, todos estão trabalhando para pagar suas contas, sustentar suas famílias e estilos de vida, todos têm sonhos e aspirações. No entanto, nem todos têm os mesmos resultados. Entenda uma coisa: quanto tudo pertence a todos, na verdade, ninguém possui coisa alguma.
Ideias como esta de “dividir os lucros” de todos, seja em qual for o contexto produzem duas coisas:
1 – Incentiva o incompetente a manter-se na mediocridade, afinal, para que melhorar se outra pessoa pode fazer isso?
2 – Incentiva o competente a estagnar. Por que melhorar senão serei recompensado por isso?
Não se pode ignorar que cada um de nós tem um sonho, um desejo, uma necessidade e que, apesar de parecidas, são todas únicas, pois dependem de nosso entorno, história de vida e outros fatores que impedem a comparação. É tolice esquecer que o ser humano trabalha com riscos e recompensas e que não permanecemos por muito tempo em uma situação que não nos traga bem algum.
Você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade.
– Ayn Rand
A dificuldade em compreender o que realmente é o individualismo e para que ele serve em nossas vidas é porque somos uma sociedade paradoxal que ainda não se reconheceu como tal. Ainda não entendemos as barreiras culturais que nos impedem de abrir nossas mentes para alguns conceitos, por mais óbvios que eles pareçam ser.
Talvez devamos considerar, também, que o individualismo te força a olhar para si mesmo com um olhar mais objetivo, encarar seus defeitos, entender o que deve melhorar, o que deve mudar e o que precisamos aprender. Esta reflexão não é fácil e a colocar as conclusões em prática é mais difícil ainda. Quiçá toda esta resistência seja motivada por uma boa dose de medo, o medo de encarar a si mesmo(a).
*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto insituição.