Sonho de Liberdade, e Liberdade para o Sonho

Sonho de Liberdade

É um ditado popular que nós só notamos a importância das coisas quando as perdemos. Para nós da sociedade liberal esse ditado ecoa com força, afinal, o capitalismo já dura há tantas gerações que nos esquecemos que muitos dos direitos e garantias que temos hoje são resultados de longas e duras lutas. Em memória de tudo que conquistamos nos últimos séculos, gostaria de lembrar a você leitor as conquistas históricas em prol da liberdade.

Liberdade para sonhar

Já se perguntou o que o seu ancestral fazia da vida quinhentos anos atrás? Com tanto tempo assim parece difícil, mas se seu sobrenome for alemão, é bem fácil de descobrir: posso te dizer sem sombra de dúvidas que os ancestrais do corredor Michael Schumacher eram sapateiros. Como? Antes do liberalismo econômico, você só poderia exercer uma profissão se fosse membro de uma guilda, e as barreiras de entrada eram tantas que sua única opção viável era trabalhar desde criança na mesma profissão que seu pai ou mãe.

Foi dessa realidade que surgiram os sobrenomes alemães, que nada mais eram do que a profissão daquele indivíduo (Schumacher = Shoemaker = Sapateiro). Se nessa época, nós nascêssemos filhos de um sapateiro, nossa única opção na vida seria ser sapateiros. Nossos filhos, netos e bisnetos seriam todos sapateiros, por ser o liberalismo que nos permitiu escolher com o que queremos trabalhar. Antes disso, não havia espaço para sonhos.

Liberdade para amar

Assim como as profissões, antes do liberalismo não tínhamos liberdade para amar… em ambos os sentidos. Casar por amor é uma invenção recente, pois antes os indivíduos já nasciam com um casamento arranjado pelos pais. E mesmo que fossem pobres e tivessem conseguido casar por amor, ainda assim não eram livres para se “amar”.

Era o rei (e seus fiscais) que determinava se um casal poderia ou não ter relações. No caso da Inglaterra, todos os casais eram proibidos de ter relações até conseguir pregar na porta de sua casa uma permissão do rei escrita Fornication Under Consent of the King (F.U.C.K). Já em Portugal era o contrário, pois o Estado português obrigava os seus cidadãos a terem relações para resolver o problema de natalidade. Era pregado nas portas das casas o documento de Fornicação Obrigatória por Despacho Administrativo (F.O.D.A) para os casais e o documento de Processo Unilateral de Normalização Hormonal por Estimulação Temporária Auto-induzida (P.U.N.H.E.T.A) para solteiros e viúvos. Alguns países tinham até uma única posição sexual permitida, sendo preciso enviar uma carta para autoridades pedindo permissão para mudá-la.

Claro que as pessoas tinham relações independentes disso, mas era ilegal. No Brasil de 1600, por exemplo, havia uma lei que condenava até pena de morte à mulher pega traindo seu marido… a não ser que ela fosse nobre, é claro.

Livres e iguais

Uma constituição e direitos humanos são uma conquista política do liberalismo. Antes dele, os governantes absolutistas faziam o que queriam com a vida das pessoas. Haviam leis, claro, mas que poderiam ser alteradas, revogadas ou ignoradas quando uma autoridade assim quisesse. Além disso, as leis antes do liberalismo eram escritas explicitamente desiguais. Temos o exemplo da lei de adultério acima, que era inválida se o crime fosse feito por um nobre, mas outro exemplo, as leis imperiais de garantias individuais que terminavam com “exceto se o indivíduo for escravo”.

A desigualdade era explicitamente institucional, com leis escritas de um jeito para o peão e de outro para o fidalgo. Isso porque, antes do liberalismo, os únicos indivíduos que importavam para o Estado era os nobres da corte. Se um nobre não gostou da sua apresentação de teatro, ele podia mandar fechar o teatro. Se um nobre gostou da vista da sua casa, ele podia te expulsar dela para demolir e construir a dele. Caso você irritasse um nobre, e não importa se você estava certo ou não, ele podia mandar matar você e sua família. Se os nobres decidissem que iriam guerrear, todos os homens adultos seriam arrancados de suas famílias para morrer lutando numa guerra que nem sabiam o motivo. Isso para não falar de quando sua família estava do lado conquistado, e os soldados te escravizariam para trabalhar o resto de sua vida numa terra desconhecida onde você sequer sabe a língua.

De geração em geração

Tudo isso que observamos no texto é hoje para nós corriqueiro e dado como garantido, na verdade, é resultado de mais de dois séculos de conquistas das ideias de liberdade, e pode novamente ser perdido a qualquer momento fora de uma sociedade livre. Como já dizia Mises: para julgar o capitalismo, não devemos compará-lo consigo mesmo, mas sim com os sistemas que vieram antes. Não foi o capitalismo laissez-faire que criou o trabalho infantil e a escravidão, mas foi ele que os extinguiu.

Se hoje uma criança pode ter uma infância, sonhar com uma profissão, e encontrar o amor da sua vida para casar, é uma conquista das ideias de liberdade. Isso no Brasil está longe de ser perfeito, afinal a desigualdade e a pobreza são um inigualável câncer na história de nosso país. Ainda assim, há esperança enquanto houver liberdade, e cada geração nos últimos cem anos vem se aproximando cada vez mais desse ideal.

Nada disso foi graças aos nobres cariocas ou aos burocratas de Brasília, mas sim à vontade do povo de melhorar suas condições de vida. É o legado da sociedade livre ao longo da nossa história, e deve ser protegido a todo custo.


Paulo Grego

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