Há uma ideia de que os liberais não deveriam fazer concurso ou participar, de qualquer forma que seja, do estado, afinal estes seriam contra o estado. Esta ideia é um erro de lógica no fim das contas. Afinal, um dos lugares mais importantes para um liberal estar é dentro do estado.
Os liberais acreditam que um estado que garanta a segurança pública está de bom tamanho. Na realidade o liberalismo é um espectro que abrange uma complexa variedade de pensamentos, porém esse reducionismo vai nos servir, do contrário, seria necessário um livro intitulado: ”Liberalismo: a definição”. Então os liberais querem diminuir o estado mas querem participar do estado? Querem ser o estado? Qual é o sentido?
Inicialmente, os liberais se preocupam com a vida prática, com as consequências de cada ato. Afinal a frase atribuída a Ayn Rand: “Você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade.” é uma boa forma de resumir boa parte da argumentação liberal, que chama a atenção. Que chama a atenção para as consequências reais de cada ato e não pensando meramente nas intenções de quem toma a atitude. Portanto, o liberal está sempre observando as reais consequências de cada política pública e não apenas as supostas intenções de quem age.
Este pensamento pragmático é essencial para a garantia de responsabilidade por quem está com o poder, por exemplo, o marco do saneamento básico, Lei 14026/2020, que visa atrair capital privado para o setor. O discurso da esquerda era, de maneira genérica, “querem privatizar a agua”, tentando trazer uma conotação negativa, como se o fato de querer lucrar com a água fosse diminuir sua distribuição. Contudo, o investimento necessário será preciso é de 893 bilhões de reais até 2033 para alcançar a universalização do saneamento básico. (Abcon Sindcon). Portanto, fundamental o investimento privado, visto que o estado, apesar de arrecadar 2 trilhões em 2022, é deficitário e “não tem dinheiro” para investir em saneamento. Além disso, a lei já atraiu 72 bilhões em investimentos para o setor, uma quantidade muito expressiva em comparação com governo federal que investiu 8,1 bilhões.
Contudo, ainda com 19,3 milhões de pessoas beneficiadas em 212 municípios a esquerda se nega a ver a realidade. Lula propõe revogaço que propõe atingir o novo marco do saneamento. A edição da medida provisória nº 1154/2023 segundo o jornal Gazeta do Povo “As medidas vinculam a Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) a duas pastas diferentes (Meio Ambiente e Cidades) e retiram do órgão o papel de editar normas de referência para o segmento de água, esgoto e resíduos, o que contraria a legislação em vigor.”
Creio que poderíamos chamar de negacionista quem não leva em consideração as expectativas de estudos bem planejados. Por outro lado, negar a realidade em pleno curso parece ser má fé. Mas ninguém entende a política até perceber que as prioridades de um político, segundo Thomas Sowell é se eleger e se reeleger, a terceira, seja ela qual for, está muito atrás.
A participação dos deputados liberais quanto ao novo marco do saneamento foi essencial para a aprovação. Por exemplo, neste vídeo vemos o posicionamento do Tiago Mitraud, explicando que a saúde é mais importante que manter o saneamento nas mãos do estado. Neste outro vídeo, vemos a explicação de Van Hattem, logo após a aprovação da lei, explicando que mais concorrência traria melhores preços e maior qualidade.
A participação de liberais no estado vai muito além da política. O que esse exemplo explica não é apenas sobre a garantia de serviços básicos à população. É sobre princípios e valores, o liberalismo é um conjunto de valores os quais colocam em ênfase a vida prática, como ela é, não como gostaríamos que fosse. Por exemplo, quando Margaret Thatcher diz que não existe dinheiro público e que todo dinheiro arrecadado é tirado do orçamento das famílias. É fundamental entender que esse raciocínio serve sempre, então um liberal, trabalhando dentro do estado, deve respeitar o dinheiro público, usar bem, da forma mais eficiente possível, apesar da natureza burocrática e ineficiente do estado. Quando o Sowell explica as já citadas intenções de um político, então o liberal sempre pensará que as instituições estatais devem ser independentes e técnicas. Portanto, o posicionamento dos liberais em favor da lei complementar 179/2021 que versa sobre a independência do banco central, não se tratava apenas de contexto ou circunstância e sim sobre valores. Desta forma, um liberal, trabalhando por exemplo no banco central, deve garantir a independência e a visão técnica, que no caso desta instituição, se trata de perseguir a meta de inflação. Que mais uma vez, o presidente eleito, se posiciona contra e se mostra contrário a atual meta de inflação, querendo aumentá-la para 4,5%.
Portanto, o liberal, se desejar entrar no estado, deve cumprir sua função em observância a seus valores. Respeitando o dinheiro público dinheiro das famílias, buscando ser o mais eficiente possível e tendo compromisso com seu dever moral, ao saber a origem do dinheiro e a forma com que este foi retirado das pessoas. É plenamente normal, na realidade se faz necessário, que liberais ocupem as mais diversas posições dentro do estado, do contrário, há o risco de que as pessoas que ocupem estas posições simplesmente não tenham a mesma responsabilidade por não cultivar os mesmos valores.
*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.