O Deus falho

As vezes sinto o mundo desconexo,

Quase como que meio irreal.

Tudo nasce num tom obtuso ou convexo,

Tudo desce numa nova espiral,

Tudo que seja algo complexo,

Virará algo viral e banal.

Uma contradição fora de nexo,

Onde o crucial nunca é cabal.

Uma contradição ambulante,

Quase como algo rotativo,

Nascerá a todo novo instante

Em alguém mais por algum crivo.

A nova loucura vai avante,

Perante um novo morto-vivo,

Numa mente pouco vasculante,

Vacilante e sem objetivo.

Tal qual um progressista fiscal,

Da vida sexual alheia,

Ou um moralista dito liberal,

Se deleitando da pública ceia.

Um falso Cristo das nove e meia,

Rasgando a democracia já feia.

A política nunca poderá ser pudica,

Nunca reze e nunca creia.

Há robin hoods de bolso cheio

E territorialistas invasores

Um ladrão merendeiro fica ali no meio

Canibalizando nossas dores

Ninguém sabe de onde veio

Mas todos buscam seus odores

Vamos lá, mexa no vespeiro

E sinta o breve temer desses tumores

Ser logo substituídos por risadas,

e palavras difíceis enchendo linguiça,

Misturando pautas auto-proclamadas,

Com a palavra do padre na missa,

A votação futura já se atiça,

Junto com as nulidades já votadas,

Mantendo preguiça como premissa,

E conforto como conquista.

E os supostos servidos são idólatras,

Do suposto próprio funcionário,

Numa junta de idiotas, burros e alcoólatras,

Batizados no sangue do erário,

Veja o que de bom a morte lhe traz,

Quando o mensageiro bater seu horário,

Mensageiro de cima do púlpito fugaz,

Símbolo brasão do falsário.

Onde tudo só é possível pelos fiéis,

Estes que se dão por gado honorário,

Adoradores de guerrilheiros e quartéis.

E o gado nelório só não é páreo,

Ao burro que cava covas com nove dedos anéis,

E sofrerá um açoite diário,

Como quem pensa andar em carrosséis,

Sepultado sem rosário, agrado agrário ou viés.

O pai dos pobres comete abandono,

O capitão desonra o seu batalhão.

Uma nova liderança caiu de sono,

E nasce um trono de sangue e grilhão.

Ferida da praga que menciono,

Banhada de gritos juntos em milhão.

E do fundo do ser me traciono,

Ao prever censura e morte de reputação.

Juntas da meia palavra e dissuasão,

Coação e remoção sistemática,

Em qualquer resultado ou resolução,

Prevejo a vida morrendo errática,

No coração de quem não vê solução,

Por meio da prática e produção,

De uma nova problemática.

Falsa que cobre a velha podridão.

Aqui não existe figura divina,

E quem era quase santo alguém assassinou,

Ou morreu para se santificar.

Só sobra a sangria indireta de quem morticina,

Pois optou por não se prontificar.

A democracia é o Deus que falhou,

Não há nada para conservar.


*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição

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