O Exame Nacional do Ensino Médio é realizado todos os anos pelo governo federal desde 1998, de lá pra cá, passou por algumas mudanças, mas ainda é a porta de entrada de muitos estudantes que sonham ingressar na universidade, o que faz com que ele se torne o evento mais importante para muitos jovens.
Anualmente são apresentadas para os vestibulandos 180 questões que são divididas em Linguagens, Humanas, Matemática, Biológicas e Exatas, além de uma redação, cujo tema, o estudante descobre no dia da prova.
Olhando assim, parece ser simplesmente uma prova que testa as habilidades de uma pessoa a fim dela alcançar seu objetivo, no entanto, algumas questões afirmam determinados posicionamentos que, além de não serem unanimidade, trazem uma bagagem ideológica que em si já é um problema, mas, principalmente, o fato de tais ideologias serem apresentadas como verdades universais.
A questão 89 (caderno branco) do Enem 2023, gerou uma grande repercussão na internet pois, ao abordar a temática do agronegócio, a pergunta não poupou críticas ao modelo capitalista e ao agro de maneira geral.
O cientista político Christian Lohbauer, que já trabalhou com agronegócio, acredita que uma das soluções para o problema está nas famílias, ele orienta que os pais busquem meios para que as escolas e os professores levem os estudantes para verem de perto o trabalho de quem de fato trabalha e vive do agro, ele garante que as ideologias caíram por terra, ele admite que a distância entre a população das grandes cidades e o campo contribui para que este imaginário se perpetuasse até hoje.
Os jornais O Globo e Estadão, inclusive, publicaram editoriais que criticam e chamam atenção para o viés ideológico presente na prova., O enunciado da questão 12 afirma que a dificuldade dos negros brasileiros é imposta pelo racismo estrutural, uma teoria defendida por uma parte da militancia de esquerda; o capitalismo é acusado de provocar a economia das ilegalidades na questão 61 e a questão 43 usava a idade média para falar de fake news.
A redação do Enem apresenta também algumas falhas, pois não é novidade a existência de modelos prévios com estruturas de texto prontas onde o vestibulando apenas precisa decorá-lo se ele quiser buscar a aprovação, a prova induz o aluno a redigir um texto crítico, entretanto, a crítica deve corresponder ao ponto de vista descrito na proposta, os textos motivacionais, direcionam o vestibulando para a opinião que ele deve ter.
tema de redação do ‘Enem 2023’
A jornalista Madeleine Lacsko falou sobre o Enem em uma recente entrevista para o podcast ‘RivoTalks’, segundo ela, a nova geração está sendo treinada para não raciocinar e consentir com tudo que poderosos falam e fazem, mesmo que não concordem, para sobreviverem; ela discorda da ideia de que a prova doutrina os estudantes, para ela, o modelo os obriga a responder às questões de acordo com a ideologia apresentada no enunciado e não com o conteúdo em si.
O objetivo desse texto não é diminuir a existência da prova em questão, mas trazer à tona uma observação que vem sendo feita já a algum tempo e que em sua última edição também foi percebida e questionada por grandes veículos de informação. O problema não é apenas que apresentem um viés ideológico, mas, também, apresentar a ideologia como uma verdade universal, é como se a prova quisesse medir até onde o aluno vai e abdica de seu ponto de vista e se molda ao viés mainstream por conta de uma vaga na universidade.
Esse problema ideológico da educação brasileira, não parece ser algo exclusivamente do Enem, e talvez a solução não comece a partir dele, mas é fato que se continuar do jeito que está, uma educação de qualidade seguirá sendo destaque em propagandas políticas em muitas eleições.
*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.