Como se vende a liberdade?

Muitos dos senhores ainda têm lembranças razoavelmente frescas do maravilhoso ensino médio em suas memórias, em especial, dos agentes mais sociáveis de suas escolas, neste texto quero dar ênfase em um agente em especial: o menino feio que encantava as menininhas. 

A grande habilidade deste senhor em se fazer viável amorosamente para qualquer menina que achasse interessante sempre foi um ponto de intriga e análise pessoal para mim. Pense comigo: “como pode este sujeitinho que tem cenho semelhante ao Guernica do Picasso, uma coisa totalmente remendada, sem pompa, insuficiente, pode e CONSEGUE conquistar a quem deseja?” Claro, há muito de um ressentimento juvenil que permeia estes meus pensamentos, a análise viria apenas depois. Olhando através da memória e ao fazer uma constatação, o óbvio parece: ele é um exímio vendedor de si! Ele sabe apresentar-se, entender a demanda da cobiçada e a fazer-se o produto ideal para o que ela precisa. A resumir em uma única frase: ele sabe flertar.

É o que nos falta como defensores da liberdade: saber flertar

Quando digo que não sabemos flertar não é sentido amoroso da coisa, mas sim no sentido de vender nossas ideias: toda venda é um flerte, onde existe sedução e paciência, e assim como  a necessidade de entender a demanda do outro, de saber a hora de se aproximar e de se retrair. 

Nossas ideias são simples: liberdade em sua integralidade, desde que não agrida o coleguinha, livre comércio, e que você é dono de si. Coisas simples de se entender e que em sua maioria fazem parte da lógica e do desejo das pessoas, claro que discretamente. Falhamos em não conseguirmos ser seduzentes o suficiente para mostrar que há pessoas que pensam e defendem o que as pessoas querem no fundo de seus corações: ficarem em paz. Parte da falha é uma falta de sensibilidade do nosso lado, defensores da liberdades orgânicos, que naturalmente leram por sua conta e risco e deduziram que este é o melhor caminho tende a ter mais estes defeitos. Os senhores de grande profusão como Rafael Lima e Hélio Beltrão têm mais idade do que nós e mais tempo de mercado também, e portanto eles puderam errar muito antes de se tornarem os comunicadores que são hoje, e para não errarmos devemos observá-los!

Falta de sensibilidade e um pouco de arrogância fazem parte do pacote de erros que cometemos, mas o que mais vejo como danoso é a falta de goût de l’effort, gosto pelo esforço. Esta falta não se acomete apenas nas pequenas relações, mas também por não haver uma reflexão interna do que individualmente representa o movimento de defesa da liberdade, uma falha individual reflete sobre todo o resto. Falhas irão acontecer? Sim! Mas podemos minimizar para que este tipo de coisa aconteça de forma rara, e como podemos fazer isto? Através do esforço, pela capacidade de autoavaliação; melhoramento de estratégias, e por fim, que somos sim parte importante do movimento das liberdades. 

Elenco aqui pontos que fazem parte dos nossos deslizes, com algumas observações. Como primeiro ponto que havia indicado há o da autoavaliação, fundamental para uma evolução de melhoramento, assim como os senhores também não estou imune a estas falhas e faço estas reflexões diariamente! 

CARISMA

O mais simples e óbvio aspecto, carisma. Quantos dos senhores foram atendidos com excelência em uma loja e fazem questão de comprar lá quando se faz necessário? Um atendimento especial, feito sob medida para você, vai desde a apresentação de quem o atende, um sorriso no rosto; olhos nos olhos; chamando sempre pelo seu nome; perguntando quais suas preferências; entendendo para que servirá aquela sua  compra, seu objetivo, e falando pouco dele mesmo, mas ainda ouvindo e perguntando sempre mais para você, tentando estabelecer uma conexão contigo. Ele faz você sentir-se especial. Este jeito deve ocorrer para os que vão comprar deste vendedor ou não, pois o não-cliente de hoje pode ser o cliente de amanhã! 

VESTES e CHEIROS

Nossas roupas e nosso cheiro chegam antes de nós mesmo em quaisquer lugares que fomos. Prezem por isto! Nossos aspectos externos defendem quem nós somos e o que nós defendemos. E temos que fazê-lo da melhor forma possível, de forma consciente. Todo lugar que iremos há um dresscode, a pergunta que devemos fazer é, esta roupa que estou a usar permite que eu entre e sai de quaisquer lugares que eu queira ir? 

Para os odores corporais vale a mesma premissa, sempre usar o bom senso. Imagina que o senhor fique preso por alguma hora em um elevador com uma pessoa que tomou um banho de perfume, e aquele cheiro começa a ficar enjoativo e irrita seu nariz, olha que desconforto. Tudo isto porque passou umas borrifadas a mais.

REPERTÓRIO 

Nós iremos conversar com todos os tipos de senhores, cada qual tem seu repertório, valorizando e repudiando temas. E por isso é de nossa responsabilidade ler sobre tudo: como plantar café; bitolas de trilhos de trens; fazer perucas; como bordar. Ter todo este repertório aparentemente avulsos faz com que nos conectemos com quaisquer pessoas e consigamos criar metáforas e vender liberdade nas entrelinhas, mostrando para nosso interlocutor que sabemos conversar sobre um tema que ele goste. E não caiamos na mesma situação que nosso irmão Caim, ao não sermos entendidos achar que isto é culpa do outro e não nossa!

Estes foram os três pontos que vejo que faltam sensibilidade para que consigamos transpor as adversidades! 

Por mais irreal que isto possa parecer ao ser lido despretensiosamente, somos descendentes de Hipólito da Costa; Silvestre Pinheiro; Ruy Barbosa; André Rebouças; Joaquim Nabuco e outros próceres históricos divulgadores da ideias de liberdade, apesar do Brasil não ter criado um tradição de liberdade, como podem ler neste artigo, eles foram os que primeiros fizeram isto, e devemos preservar e ampliar seu legado.

Devemos beber de suas fontes, e representá-los da melhor forma!

Em minhas considerações finais, quero deixar posto a seguinte reflexão que permeia todo o texto: habilidades para trabalhar com eficiência a venda da liberdade são treinadas diariamente através de atividades que pouco tem a ver com liberdade, e podem parecer até chatas em certo ponto. Não pensem que há habilidades inúteis, todo conhecimento é válido. A observação entra como maior virtude aqui, olhar com atenção para uma simples atividade ou comportamento e ver que podemos tirar proveito do que está a ser feito. Aprendam sempre!


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