Como pensar sobre economia: uma cartilha – Parte 1

O livro didático para leigos de Escola Austríaca

Livro escrito por Per Bylund, lançado em agosto deste ano, traz uma nova abordagem sobre economia, diferentemente dos livros teóricos tradicionais da Escola Austríaca.

Com a necessidade de uma nova maneira de apresentar os assuntos econômicos,  “Como pensar sobre economia” traz, de forma incrível e animadora, posso dizer, conceitos básicos que todos nós, defensores de um Estado menor ou extinto, conhecemos. 

Claro que, mesmo com uma roupagem diferente do que costumamos ver, o livro se deleita sobre princípios de gigantes da Escola Austríaca, como por exemplo Hans-Hermann Hope. Na obra, é tratado com bastante ênfase o que é a economia e como podemos entendê-la.

Economia 

A economia funciona sem ordem. Digo, ela não tem uma maneira certa de funcionar, pelo fato de ser determinada a partir dos desejos dos indivíduos que se relacionam entre si em busca de objetivos, nos quais os valores são empregados de forma subjetiva.  

É importante enfatizar o valor subjetivo individual, porque muitas vezes não há uma lógica nas vontades humanas, há desejos diferentes determinados por fatores pessoais. Isso, do ponto de vista de alguns indivíduos, pode fazer sentido, enquanto para outros não. E a economia é o reflexo disso, indivíduos buscando satisfazer suas vontades por meio de trocas com outros indivíduos, onde todos saem ganhando.

Claro que não é perfeito, produtos não são gerados do nada, eles são resultados de um processo de transformação  de recursos naturais ou não naturais. E esses recursos são escassos, e por esse motivo podem determinar a quantidade de produtos existentes na economia ou o quanto os indivíduos podem ter suas demandas supridas.

A decisão do melhor implemento desses recursos é baseado na expectativa de indivíduos estarem dispostos a adquiri-los  quando transformados em produtos, pois o objetivo de se produzir algo é fortemente relacionado em ter um ganho sobre o trabalho empregado, pois caso seja produzido produtos que ninguém está disposto a tê-los, temos aí um esforço em vão. 

Por esse motivo, que se acredita que nada tem valor intrínseco, o valor é determinado pela satisfação das pessoas sobre um bem ou serviço.

Algo importante a mencionar é que nem sempre há uma relação proporcional de recursos e produtos, digo, quanto mais recursos, mais produtos. Muitas vezes podemos produzir mais produtos com os mesmos ou até menos quantidades de recursos, isso diz respeito a nossa capacidade produtiva e ainda mais, quando colocamos inovação no processo. 

Resumidamente,  a economia é resultado de ações humanas e essas ações provêm de vontades que são subjetivas, e os componentes não precisam saber sobre todo o processo econômico.

João não precisa entender de fabricação de fornos, para assar seus pães, como também não precisa entender sobre confecção para fazer seu trabalho vestido adequadamente. Todos nessa “cadeia produtiva” tem um papel, e essas relações se ligam de forma voluntária beneficiando a todos de acordo com sua relevância no processo.

Teoria Econômica

Sabemos que a economia é baseada em ações humanas, isso significa que os humanos agem para mudar seu estágio atual na expectativa de melhorias. Isso envolve escolhas, e o ato de escolher envolve deixar de mão algo em troca de outro por parecer benéfico. De forma resumida, quando Ana compra maçãs, por exemplo, na feira do João, nas entrelinhas isso significa que ela vê mais valor nas maçãs que ela tá adquirindo, do que no dinheiro que ela está dando pra João. Como João também, do outro lado, vê mais valor no dinheiro que Ana está entregando do que nas maçãs que ele está trocando.

Na teoria econômica partimos desse ponto para entender o funcionamento do mercado, não precisamos saber o porque pessoas desejam A ao invés de B, ou a qualidade de suas escolhas, apenas precisamos analisar as suas ações, pos no final de tudo é isso que importa, quando olhamos sistemas de preços ou funcionamento de empresas e negócios, tudo gira em torno de uma razão: ação.

Preços e Valores

Quando valorizamos algo, estamos dispostos a nos desfazer de algumas coisas para tê-los, e apenas precisamos encontrar alguém que tenha tais coisas ,que esteja afim do que temos a oferecer para que a troca ocorra. Essa relação é refletida nos preços. 

Sobre a perspectiva de livre mercado, sabemos que relações de trocas mudam, um mesmo produto pode ter preços diferentes dependendo da demanda das pessoas nos contextos nas quais inseridos. Por exemplo, as pessoas tendem a valorizar mais água no deserto do que no conforto de suas casas, se adicionarmos um vendedor de água em ambos os cenários, saberemos em qual deles  ele teria bom êxito.

Isso é um exemplo simplista, mas quanto mais produtos e pessoas inserimos na explicação mais complexo fica,  porém o princípio é o mesmo , preço é relação de trocas, o bem comum usado para a troca, o dinheiro, também pode ser considerado como produto e sofre os mesmos efeitos da oferta e demanda. 

Mercado

Para melhor compreensão de mercado, é importante que se tenha em mente que ele não é um estado e sim, um processo. Para que todos os produtos que vemos nas gôndolas de mercado estejam lá, é necessário que uma série de fatores dentro de uma cadeia ocorra.

O produto é resultado de várias pessoas trabalhando em conjunto com um único objetivo, satisfazer seus clientes. Um exemplo que é usado no livro para ilustrar isso, é que numa produção de doces dificilmente quem produz os doces, fabricaram o açúcar, os aromas ou os corantes usados da fabricação. Existe toda uma cadeia produtiva por trás da produção de doces, cada um responsável por uma parte dos ingredientes ou até mesmo do material que é feito as máquinas de produzir doces.

Vemos que é um processo coordenado onde cada peça desse jogo tem um papel crucial no resultado final, mesmo sem todos terem consciência para o quê seus produtos serão usados.

Produção e empreendedorismo 

Bens são escassos pois não há tudo pra todo mundo,e há duas maneiras de combater a escassez. A primeira é economizar, como por exemplo coisas finitas, em situações específicas como pouco alimento e água, nesse caso para melhor proveito consome  aos poucos para que dure mais. A segunda maneira, é a produção, procura-se maneiras de combater escassez disponibilizando mais recursos para suprir necessidades e desejos.

Nesse contexto entra o papel do empreendedor, aquele que olha em sua volta,  analisa a demanda e procura maneiras de supri-las com máximo de valor, sempre a economizar  os recursos que usa (pois  adquirir recursos de certa forma, é um custo).

E assim, à medida que a demanda por um determinado produto aumenta, os empreendedores veem oportunidades de ganhos produzindo esse produto para seus clientes. Mesmo que no começo o produto tenha um preço alto, à medida que mais pessoas se interessam em vendê-lo para ganhar também, os preços tendem a cair pois a concorrência entre empreendedores impulsionam os preços para baixo, tornando o poder de compra do consumidor maior.

Tudo isso alimenta um sistema, começando pela base da produção, os bens de produção (matéria prima) e os bens de capital (máquinas e equipamentos). Apesar de não tá dentro do conhecimento consumidor final, esses dois elementos são essenciais para o mercado como um todo, e interessa muito para o comerciante que está vendendo os produtos e serviços dado que, são eles que garantem a qualidade e a sua capacidade de gerar mais valor para seus clientes.

Deste modo , à medida que o mercado vai crescendo tem-se mais necessidades de investimento e inovação, aumentando assim, o incentivo para empresas na área de produção trazer máquinas mais sofisticadas e econômicas.

O papel do empresário

Como vemos, o empresário é aquele que procura maneiras de prover soluções para problemas da sociedade com objetivo de ganhos. 

Mas nem sempre a demanda é tão clara ou visível, cabendo ao empresário correr o risco de perder o que investiu. E resumidamente o empresário é aquele que só consegue o seu ganho quando de fato as pessoas veem valor naquilo que ele produz, e quanto vai ganhar também porque como sabemos, valores são subjetivos e não importa o quanto o empresário tenha utilizado   de tempo  e recursos, se acham que o seu produto vale menos do que seu valor “inicial”, talvez não ocorrerá a troca.

Apesar da incerteza de ganhos, há incentivos nas resoluções de problemas para os empresários, quanto mais complexo forem as vontades dos indivíduos mais ganha aquele que a sacia . E nesse sentido, o mercado se retroalimenta.

Claro que  empresários cometem erros, seja numa má avaliação de mercado ou na incapacidade de convencer clientes sobre a eficácia do seu produto. Com isso, podemos ver que há espaço para rever o que está errado e inserir-se de volta no mercado na tentativa de não cometer  erros que os levaram a cair na primeira vez.

Isso tudo é possibilitado por um mercado livre e competitivo onde a criação de valor é o foco e todos os incentivos cooperam para que haja inovação e qualidade nos bens e serviços.

Valor, dinheiro e preços

Valor é o combustível  principal para as nossas ações, ele que nos move. Vimos esse fato bem retratado até agora, se fizemos algo é porque vemos um valor no seu resultado final

É difícil mencionar valores subjetivos de diferentes pessoas e isso é um problema, pois suas experiências de satisfação são pessoais. Não tem como dizer que fulano gosta 20% a mais de um produto que ciclano.

Nesse sentido, fica difícil mencionar as vontades humanas e assim satisfazê-las. O mercado resolve essa questão com dinheiro e preços, permitindo comparações, tendo como economizar no que se diz respeito a valor de bens.

O dinheiro entra nessa história como meio de trocas, diferentemente do que muitos pensam, ele não tem valor em si mesmo . Ele só ganha valor quando se mostra útil para nós quando usamos, assim como outros produtos. A expectativa que temos de comprar algo com o dinheiro diz muito sobre o seu valor, caso contrário, não aceitaremos em trocas. 

Resumidamente o dinheiro é baseado na confiança  de quem usa, e mesmo que por força (Estatal), as pessoas irão procurar outros meios de troca caso não confiem no valor da moeda imposta. 

O papel do dinheiro  vai muito além de meio de troca, imagine que num cenário sem o dinheiro você precise de um produto específico,mas para você obter teria que encontrar alguém que não só tenha o produto mas também, que tenha interesse no que você tem a oferecer. Isso de fato, seria ruim, pela dificuldade. O dinheiro facilita esse processo, não precisando produzir exatamente o que a outra pessoa precisa para trocar com ela, mas apenas ter um meio de troca em comum que as duas valorizam (o dinheiro). E isso torna a precificação de produtos mais eficiente.

O papel moeda que temos hoje é uma evolução de moedas de metais preciosos e do setor bancário. Era preciso guardar suas moedas, e em troca você recebia um recibo emitido pelo banco, “papel moeda” que era totalmente fungível, quem o tivesse poderia trocar o papel pelos bens no banco emissor. Como esse papel circulava livremente pela “praça” consequentemente poderia ser depositado em outro banco, nesse sentido o banco “fazia um limpa” no banco na qual as moedas estão guardadas.

Claro que não era perfeito, como nem todo mundo ia  sacar o dinheiro ao mesmo tempo, isso criava um incentivo para os bancos emitirem mais papéis moedas do que realmente tinham de  “bens” guardados. Porém em um mercado-livre, esses bancos quebrariam porque à medida que outros bancos fossem resgatar os “bens” contidos nele, poderiam denunciar colocando a reputação do banco em questão. Isso é um incentivo, como todos os banco querem mais clientes, mais incentivo eles tem pra denunciar os concorrentes que cometem erros.

Quando trazemos para os dias atuais, as moedas que usamos são monopolizadas, são emitidas pelos bancos centrais estatais e sua capacidade de compra é diluída à medida que o tempo passa, justamente pelo fato que abordamos acima, emitem mais papel moeda do que tem de recursos pois isso dá mais poder de compra ao governo. E o motivo de não quebrarem é pelo fato de o dinheiro estatal ser curso forçado, ou seja, as pessoas são obrigadas a usar.

Como o poder de compra da moeda está intrinsecamente referente a relação dinheiro e bens, quanto mais dinheiro tem em circulação sem o aumento equivalente dos bens e produtos, os preços sobem.

Conclusão

A economia não precisa ser um bicho de sete cabeças, muitos dos assuntos abordados por essa ciência são mais simples do que parecem e o livro de Per Bylund deixa isso claro. Nós podemos nos beneficiar das ações voluntárias dos indivíduos sem o necessariamente recorrermos a coerção para isso. 


Mikael Santo

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição

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