Quem foi Hannah Arendt?

Hannah Arendt, nome de origem judaica, nasceu no dia 14 de outubro de 1906, em Hannover, Alemanha. Perdeu seu pai na infância e viveu com sua mãe. Sempre muito inteligente, na adolescência já havia lido e compreendido obras de Immanuel Kant. Mulher que enfrentou as massas e os intelectuais, muitas vezes criticada e sofrendo acusações no decorrer da sua carreira é conhecida como Hannah Arendt, a maior filósofa do século XX. 

No ano de 1924 ingressou na Universidade de Marburg, onde conheceu Martin Heidegger, que na época era seu professor. Os dois tiveram um romance, considerado, posteriormente, a história de amor entre uma judia e um nazista, rendendo o livro “Hannah Arendt e Martin Heidegger: História de um amor”, publicado no Brasil apenas em 2019. Dois anos depois de iniciar sua vida acadêmica, em 1926, transferiu sua formação para a Universidade Albert Ludwig em Freiburg. Arendt recebeu o título de doutora em filosofia, com a tese “O Conceito de Amor em Santo Agostinho”, em 1928. 

Com a ascensão do nazismo, Hannah se manteve firme nas suas convicções, largando os estudos filosóficos para apoiar as resistências antinazistas internamente, quando o nazismo ganhou diversos territórios a filósofa se juntou a resistência de rua, lutando pela liberdade do povo judeu. Durante essa trajetória, foi capturada pelas forças nazistas e presa, mas após oito dias conseguiu escapar. Saindo do seu país de origem, passou por algumas cidades até chegar em Paris. Mesmo em um colapso autoritário, onde sua vida e das pessoas que amava corria risco a cada segundo, Hannah contou com a sorte do destino e conheceu Heinrich Blücher, poeta e seu grande amor, com quem casou em 1940. 

Como todos sabem, o nazismo se espalhou pela Europa, chegando na França e, mais uma vez, capturando Hannah Arendt e levando-a ao exílio, também, foi presa no sul da França, mantida em cárcere no campo de concentração de Gurs. No filme “Hannah Arendt – Ideias que chocaram o mundo”, a diretora conta detalhadamente como foi o percurso enfrentado pela filósofa até conseguir fixar residência nos Estados Unidos, no ano de 1941. 

Em segurança, no continente americano, passou a dizer que sentia como se estivesse chegando ao paraíso. Iniciou sua jornada no país da liberdade e em 1951 recebeu a cidadania norte-americana, para então publicar seu livro “As origens do totalitarismo”, obra que a consagrou como a filósofa mais influente do século XX e abriu oportunidades para divulgar suas ideias e combater, através da filosofia, o totalitarismo em suas raízes. A obra está dividida em três grandes partes, tratando de forma singular e cuidadosa as ideias que levaram pessoas a permitirem o avanço de sistemas totalitários, como, por exemplo, o nazismo e o stalinismo na Europa. Na primeira parte aborda a relação do indivíduo com o anti-semitismo, seguindo para o imperialismo e fechando com o totalitarismo. 

Porém, Hannah Arendt não parou nesta obra, continuou seus trabalhos e em 1961 publica “Entre o passado e o futuro”, livro que debate a busca do homem pelo seu lugar no presente, utilizando o passado e futuro como ferramentas de construção. Em 1963, após acompanhar o julgamento do nazista responsável por administrar e comandar as operações que levaram milhares de judeus a morte, Eichmann, realizado no tribunal de Jerusalém, e criar a sua teoria sobre a banalidade do mal, a filósofa publicou a obra “Eichmann em Jerusalém”, o livro mais polêmico da sua trajetória, rendendo momentos tensos e incertos na carreia intelectual e pública da autora, também, originando o filme que conta a história e os momentos mais importantes da vida da Arendt. “Homens em tempos sombrios”, publicado em 1968, é a junção de análises que diversos indivíduos fizeram quando estavam em momentos complexos. 

O entendimento da filósofa e a expressão de suas ideias, que contrariavam a maioria, acabaram resultando em uma rejeição social após divulgar suas ideias referente ao julgamento ocorrido em Jerusalém. Na época, Arendt lecionava, suas turmas eram lotadas e normalmente não eram todos os interessados que tinham oportunidade de fazer parte dos debates. Então, com os debates sobre o caráter de Hannah ganhando notoriedade na mídia, os diretores da instituição – por unanimidade – aconselharam-na a desocupar o cargo. Neste mesmo dia, pedindo licença para fumar o seu cigarro, manifestou sua defesa e filosofia, teoria conhecida como “banalidade do mal”, compreendida por um grande número de estudantes que assistiam sua aula, incluindo alguns conselheiros. Entretanto, infelizmente, defender sua inteligência filosófica fez com que Hannah se afastasse de muitos amigos, a maioria judeu, que não concordavam com o posicionamento da filósofa. Mais tarde, por conta de todas as questões que estiveram presentes em sua vida, Hannah declarou que não era mais uma filósofa e sim uma teórica política, retornando a aceitar a filosofia apenas em 1967, quando voltou a lecionar na New School for Social Research. 

Hannah perdeu o seu marido, confidente e amor da sua vida em 1970. Em 1975, ela morreu de um ataque cardíaco fulminante, quando tinha apenas 69 anos. Mas o seu legado na filosofia e teoria política ainda não havia terminado, em 1977 é publicada a sua última obra, “A Vida do Espírito”. A maior lição que Hannah Arendt deixou na sua vida, tirando as suas obras e conteúdos, foi que não podemos deixar nossas ideias se transformarem por pressão das massas. Não é e nunca foi considerada uma intelectual individualista, muito menos coletivista, sempre buscou defender ideias e trabalhar contra o totalitarismo.


Texto por Tailize Scheffer Camargo

Arte por Nathalia Wanderley

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