O que o governo fez com nosso dinheiro?

A resposta pra essa pergunta pode ser trabalhada tanto de forma simples ou complexa, a grande realidade é que o tema monetário e sua relação com o governo é um dos temas mais explorados dentro do campo econômico, podendo dizer até que a própria tarefa do economista envolve isso, logo seria muito difícil definir uma resposta objetiva à pergunta do título.

Mas afinal, podemos ao menos especular e criar conjecturas acerca do tema em questão, tendo em vista uma linha de raciocínio clara e coesa, é possível determinar “o que o governo fez com o nosso dinheiro?” Porém precisaremos destrinchar essa pergunta em vários tópicos para enfim obtermos uma pista que nos aponte a resposta para essa pergunta.

1.Começando do começo: o que é dinheiro?

Essa talvez seja a pergunta mais simples, mas ao mesmo tempo, a mais importante para toda a linha argumentativa acerca do tema em questão, afinal para determinarmos o que foi feito com o nosso dinheiro, precisamos saber o que é.

Utilizando a explicação, famosa entre economistas, definimos o dinheiro como um bem que assume três estágios, com o adendo de que dinheiro e moeda NÃO são a mesma coisa dentro da literatura econômica, mas para efeito de praticidade, ambos serão tratados como a mesma coisa. Entende-se dinheiro como: o valor real que é negociado por bens e serviços. Já a moeda como: o bem que carregamos para fazer nossos pagamentos diários.

1.1) Meio de troca

Trata-se da primeira fase de todo dinheiro. Imagine o seguinte cenário: 3 pessoas, João, Mário e Pedro, produzem materiais diferentes. Agora imagine que João produza vestes, Mário seja um exímio pintor e Pedro é um engenheiro eletricista. 

Em nosso cenário fictício, Pedro, o eletricista, deseja obter um quadro para a sua casa, no entanto o que ele tem para oferecer é apenas os seus serviços como eletricista, o que para o seu azar, não é desejo do único pintor disponível, Mario. Porém, Mário deseja obter vestes, pois as que ele possui não estão sendo o suficiente para ele, no entanto João, o que produz essas vestes, não está interessado no único bem que Mario é capaz de oferecer, quadros.

Como solucionar essa situação? Afinal nenhum dos três consegue obter o que deseja através do que podem oferecer. Bom, a resposta para isso foi encontrada por nossos ancestrais da seguinte forma: Definindo um bem que sirva como meio de troca.

O que isso significa? É bem simples, no caso mais comum da humanidade, o ouro vem obtendo esse papel, como um dos principais meios de troca da história. A situação é resolvida facilmente a partir do momento em que existe um meio de troca, Pedro, o eletricista que deseja um quadro, oferece uma certa quantia de ouro para Mário, o pintor, que não necessariamente quer ouro, a realidade é que ele quer as vestes que João produz.

Mas então porque ele aceita o ouro? Porque ele sabe que João irá aceitá-lo. Por que João irá aceitar esse ouro? Porque ele sabe que Pedro irá aceitá-lo. Por que Pedro irá aceitá-lo? Porque ele sabe que Mário irá aceitá-lo. E assim segue-se a economia, dentro de um ciclo de bens e serviços circulando de um lado e o dinheiro circulando de outro. Isso é chamado, dentro do mundo da economia , de  Diagrama do fluxo circular.

1.2) Reserva de valor

Certo, sabemos então que o dinheiro é, antes de tudo, um meio de troca, essa é basicamente a função primordial do dinheiro, porém além disso, o dinheiro pode ser considerado também uma reserva de valor, ou seja, algo que conserva o próprio valor ao longo do tempo.

Seguimos com o exemplo do ouro, afinal você acha mais confiável fazer as suas poupanças, ou seja guardar o dinheiro que você irá usar não no presente, mas no futuro, em pesos argentinos ou lingotes de ouro?

A resposta para isso é bem simples, qual dos dois provavelmente manterá o seu valor ao longo do tempo, considerando o histórico de variação de preços de ambos?

Valor do peso argentino comparado ao dólar durante 20 anos.

Cotação do preço do Ouro em cerca de 25 anos.

Vendo os dois gráficos, não é difícil dizer que o Ouro muito provavelmente manterá o seu valor, isso se não aumentar de valor, como tem feito ao longo dos anos, já o peso argentino, muito provavelmente não conseguirá manter o seu valor.

O que isso significa? Significa que se hoje você guardar ouro para gastar apenas no futuro, você está fazendo algo seguro, afinal muito provavelmente você irá conseguir comprar a mesma quantidade de coisas, se não mais, com a mesma quantidade de  dinheiro. Isso é o que acontece quando um bem se torna uma reserva de valor, é um bem que confia-se que não irá perder valor ao longo do tempo, logo vale a pena fazer os seus investimentos e poupanças neste bem, afinal acumular ouro nunca é ruim, já acumular pesos argentinos…

1.3) Unidade de conta

E por fim, após as pessoas notarem que todo mundo aceita um bem, ou seja ele é um meio de troca, depois nota-se que esse mesmo bem é confiável o suficiente para ser acumulado, afinal ele muito provavelmente não irá perder o seu valor ao longo do tempo, o que determina uma reserva de valor, o dinheiro chega ao seu último estágio: Unidade de conta.

Que nada mais é do que quando as pessoas começam a precificar outros bens com esse bem específico. Por exemplo, imagine uma loja que tem no seu balcão à venda: 1 livro que vale R$20,00, 1 celular que vale R$400,00 e 1 par de tênis que vale R$100,00.

Por que nós não falamos: “Olha só, esse celular vale 4 pares de tênis” ou “Esse celular vale 20 livros”. Nós não falamos isso porque a nossa unidade de conta, no Brasil, é o real, logo nós simplesmente dizemos “Esse celular vale R$400,00” porque sabemos exatamente tudo que é possível comprar, apenas com a informação desse valor.

1.4) Resumo

O dinheiro não é um ente abstrato, ele é um bem como qualquer outro, a única diferença é que ele tem características peculiares a ele, como ser o determinador de valor dentro da sociedade, porém conseguimos compreender que o dinheiro é algo que serve como denominador comum para todas as trocas na sociedade, é algo que conserva o seu valor ao longo do tempo e por fim é o referencial para todos os outros bens dentro do mercado.

Novamente deixando claro que o conceito de dinheiro não é a mesma coisa que moeda, mas ambos foram tratados como a mesma coisa por questões de praticidade, caso você pegue um manual tradicional de economia, talvez denote-se com algumas diferenças, no entanto por hora não é um problema fazer essa mistura.

2. Sabemos o que é o dinheiro, mas qual o conceito da economia?

Para termos uma compreensão mais adequada de como o governo utiliza o nosso dinheiro, não só precisaremos saber o que é dinheiro (como já sabemos agora), mas também precisaremos ter uma noção de como a ideia de economia se desenvolveu ao longo da história. A ideia aqui é compreender como o governo enxerga a sua atuação dentro da economia e para isso precisaremos entender um pouco de história.

2.1) Grécia e Roma: A era da filosofia

Dentro desse período histórico, entende-se economia por uma das diversas áreas da filosofia, a questão aqui é a seguinte, nessa época as questões econômicas não eram tratadas de forma estruturada como atualmente, não era uma ciência formal, logo pode-se encontrar dentro de diversos escritos dos pensadores mais famosos como Platão, Aristóteles, Cícero e etc, conteúdo econômico, porém não pode-se dizer que eles estavam produzindo economia.

Falava-se sobre usura, propriedade, valor, agricultura, formação de riqueza e etc, por exemplo, Xenofonte escreveu diversos ensaios sobre agricultura e o sistema tributário, reunindo em “As formas de aumentar as receitas em Atenas (355 A.c)” suas principais ideias econômicas. Mas eram apenas concepções e formulações, não era uma disciplina em si, ideias econômicas misturavam-se com moral e ética, por exemplo, sendo apenas uma extensão.

Ou seja, percebemos que nessa época, a influência do estado dentro do pensamento econômico, que já existia assim como a gravidade, mas apenas não estava formalizada em um sistema de pensamento, era quase zero, afinal considerava-se a filosofia e a suas implicações, não pensava-se em como o estado deveria intervir ou não em qualquer um dos assuntos de maneira sistemática.

2.2) Idade média e a escolástica

A cosmovisão da sociedade durante a idade média e a era clássica era tão absurdamente diferente que é até difícil expressar de uma forma palatável para o nosso pensamento moderno a sua forma de pensar a economia, porém pode-se considerar que não houve uma grande mudança.

O grande pensador da era escolástica foi Santo Tomás de Aquino, um dos maiores pensadores da história da humanidade, dele depreende-se alguns conceitos como condenação da usura e de certas prática de comércio, lembrando que a idade média não era marcada pelo comércio assim como nossa era, pode-se entender a era da escolástica como uma extensão natural da sua era anterior, ampliando as considerações filosóficas e fazendo um forte paralelo com a teologia.

No entanto, é importante considerar algumas coisas, a primeira é ressaltar a absurda diferença de cosmovisão da idade média para a idade moderna, o mundo era outro, logo não é tão simples fazer um salto temporal e interpretar alguns conceitos sem a luz do contexto histórico, é comum incorrer em falácias como dizer que a idade média foi a “idade das trevas” por causa de falsificações históricas e anacronismo.

E o período da escolástica também teve uma imensa influência na economia, no que tange a escolástica tardia, digo isso porque a escola austríaca de pensamento econômico é praticamente toda influenciada pelos escolásticos espanhóis, pode-se dizer que esses pensadores foram os primeiros “economistas” de certo modo, porém mantenho claro o fato de que ainda não estamos falando de economia, no sentido que compreendemos hoje.

Caso queira se aprofundar no pensamento econômico durante a era da escolástica, recomendo as seguintes obras:

  • Dos protoaustríacos a menger: Uma breve história das origens da escola austríaca de economia, de Ubiratan Jorge Iorio
  • A escola austríaca, de Jesus Huerta de Soto
  • História do Pensamento Econômico – Uma Perspectiva Austríaca – Antes de Adam Smith, de Murray N. Rothbard

2.3) O mercantilismo: a era do estado soberano

Com o fim da idade média, muitas mudanças ocorreram no mundo e uma das principais delas foi a expansão do comércio, com ações como as grandes navegações, e o fortalecimento do estado e da ideia de nacionalismo, a “economia” nessa época girava em torno do estado.

De modo geral, a economia era compreendida como a riqueza do estado, o entendimento das riquezas estatais, tendo como foco o acúmulo de metais preciosos, que era considerado sinônimo de riqueza. Em  resumo, essa época foi marcada pela forte presença do estado no pensamento econômico, a ideia era de que o estado tinha que ser rico e essa riqueza vinha por meio de metais preciosos, logo a função do pensamento econômico era fazer com que o estado obtivesse mais metais preciosos.

Assim como na idade média, não é tão simples entender e definir a era do mercantilismo como simplesmente A ou B, existiam pensadores que formularam conclusões diversas, porém a síntese geral foi essa exposta.

2.4) A era do liberalismo: O nascimento de uma nova ciência

Por que algumas nações são ricas e outras não? Essa é a pergunta que inaugura o nascimento da economia como uma ciência de fato, um sistema de pensamento sistematizado, com a publicação, em 9 de Março de 1776, de: “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações” do filósofo escocês Adam Smith.

Não, Smith não inventou a economia nem o liberalismo econômico, nem sequer trouxe muitas ideias novas à mesa, afinal muito do que Smith trouxe, já havia sido dito por outros pensadores como Richard Cantillon e outros economistas da chamada “Escola Fisiocrata”, que foi basicamente a economia liberal da França.

Smith foi o fundador da “Escola Clássica” de economia, que é marcada pela ideia do livre mercado, porém então por que tanto destaque para Adam Smith? Bom, porque Smith foi o responsável por organizar todo o pensamento econômico da época e formalizá-lo e sistematizá-lo, por isso Smith é considerado o “Pai da economia”, afinal se hoje podemos dizer que a Economia é uma ciência, muito disso é devido ao trabalho de Adam Smith, mesmo que diferentes economistas tenham diferentes opiniões a respeito de sua obra, como Murray N. Rothbard, que o critica com veemência ou Deidre McCloskey que o elogia com muito afinco em sua obra “Why Liberalism Works” (Obra essa inclusive traduzida pelo Damas de Ferro)

A marca dessa era foi a concepção de que a riqueza não tem nada a ver com a quantidade de metal precioso que um país tem, inclusive o próprio Smith em A riqueza das nações faz esse adendo, ao afirmar que a China era um país muito “Rico” em termos de metais e matéria prima, porém com uma população pobre. A ideia de riqueza vem a partir da consideração do mercado, ou seja, uma nação cujo mercado é pulsante, através da divisão do trabalho, produz mais bens e serviços, com melhor qualidade, assim aumentando o padrão de vida da população.

A riqueza passa a ser tratada como valor que é agregado à sociedade através do mercado, logo um indivíduo não é rico porque possui muito ouro, o fato dele possuir muito ouro significa que ele agrega muito valor à sociedade e então por isso ele é rico. Não é preciso dizer que o pensamento econômico dessa época não vê o estado com bons olhos acerca da interferência na economia, o famoso laissez-faire, que é uma economia livre, é o caráter da economia nessa época.

Como Deidre McCloskey afirma, a economia era a Ciência da Riqueza, nessa época, mais importante do que compreender como deixar o estado mais rico, era compreender como gerar riqueza, quais as leis que regiam a economia para o surgimento da prosperidade.

2.5) O século XIX: Olá, Karl! Como vai?

Bom, o mundo mudou e a realidade do século XIX, uma era marcada pela revolução industrial, não é a mesma do século anterior, época da escola clássica, tendo isso em vista as explicações sobre a economia da escola liberal foram postas a cheque, mas o resultado não foi nada bom para elas.

A tradição de pensamento clássico da economia foi duramente criticada nessa época, em especial a influência do pensamento de “progresso histórico” foi um fator muito forte nessa época, a ideia de que a história caminhava até certo ponto e evolui segundo uma linha histórica, era uma filosofia pulsante nessa época.

E tendo essas mudanças em vista, as explicações da velha geração sobre os fenômenos econômicos não foram aceitas pela nova geração, mais uma vez a nova geração questionava os feitos da geração passada e se propôs a formular uma nova explicação das coisas, que conseguisse explicar as mazelas do mundo em que estes estavam vivendo.

E essa geração é simbolicamente representada por ninguém mais ninguém menos que Karl Marx, o queridinho dos liberais e conservadores. Marx, assim como Smith, foi mais um pensador que organizou vários pensamentos e sistematizou um novo pensamento, no caso de Smith, a economia, no caso de Marx, o Socialismo.

Mão invisível? Divisão do trabalho? Geração de riqueza? Isso tudo é balela burguesa para alienar o proletário, a grande realidade é que a economia é determinada pela exploração da classe trabalhadora pela burguesia e a mais-valia é a maior prova disso é o que isso significa? Bom, trabalhadores de todo mundo uni-vos e lutemos para progredir a história rumo ao comunismo.

De modo geral, o pensamento econômico dessa época foi marcado por ideias socialistas, mais especificamente marxistas, não que não houvessem outros pensadores, porém Marx, após a sua morte, foi como uma febre entre os intelectuais, dentre esses os economistas. 

As principais coisas que precisamos absorver dessa época é que o controle da economia deve ser estatizado e os meios de produção devem ser distribuídos entre os proletários, as concepções feitas por Smith, Ricardo, Turgot, Quesnay, Cantillon e etc, não necessariamente foram jogadas no lixo, porém não serviam mais para o propósito da época, era coisa do passado, especialmente, ideias burguesas que não serviam para a revolução do proletariado.

Para compreender melhor o pensamento de Karl Marx, recomendo o livro “Marxism: Philosophy and economics”, do economista americano Thomas Sowell, nele Sowell destrincha em detalhes a filosofia e a economia de Karl Marx, um dos autores mais comentados da história, mas também um dos menos lidos, Sowell apresenta de maneira direta e objetiva o pensamento de Marx, deixando suas críticas e refutações apenas para o fim do livro, é uma excelente obra para estudo do pensamento marxista.

2.6) A era moderna: Neoclássicos e impressoras

E chegamos no fim da nossa parada histórica até o momento “atual” da economia, mas antes dos questionamentos, deixe-me explicar o que caracteriza o século XX.

As guerras mundiais, a crise de 29 e a guerra fria foram os pontos chave, no que tange a economia, no século XX, um mundo alterado pela herança trágica de milhões de mortos em duas guerras brutais, aliados a tensão geopolítica criada por dois pólos com visões de mundo e pensamento completamente opostos, o século XX foi um caldeirão de ideias e pensadores, e um desses pensadores marcou a história da economia para sempre, John Maynard Keynes.

John Maynard Keynes, inglês, data de nascimento 5 de Junho de 1883, talvez o economista mais influente da história moderna (sem chiliques!), foi um pensador extremamente relevante no cenário econômico do século XX e a base que sustenta toda a economia moderna, quer você goste disso ou não. Mas antes de compreendermos o seu impacto, precisamos entender de onde ele veio.

Keynes estudou filosofia (sim, ele não era formado em economia), tendo como um de seus mestre, ninguém mais do Alfred Marshall, fundador da escola neoclássica de economia, escola de pensamento vigente na época de Keynes.

Mas do que falam os neoclássicos? Bom, basicamente tudo que os clássicos falam, mas em períodos diferentes. Salvo a explicação extremamente simples do pensamento neoclássico, a questão foi a seguinte: Mais uma vez as novas gerações se desvirtuaram das velhas gerações, e Alfred Marshall foi um desses, ele foi um dos responsáveis por resgatar os conceitos e ideias de livre mercado da escola clássica e trazê-los de volta à mesa, em oposição a moda intelectual do Marxismo.

Marshall resgatou conceitos, remodelou e formulou algumas ideias aplicadas aos tempos modernos, além de receber influências de outros pensadores que vieram após o período clássico, pode-se considerar Carl Menger, fundador da escola austríaca de economia, também um desses remodeladores e talvez o primeiro neoclássico de fato, porém Marshall não só detém a cátedra de fundador da escola, como também chega a algumas conclusões diferentes de Menger.

Nesse sentido, pode-se dizer que Keynes viveu uma era do reavivamento da escola clássica de economia, com uma nova roupagem e outras influências, assim como ele próprio foi um neoclássico e pode-se dizer até liberal. Mas por que então Keynes é tão odiado pelos liberais? Pelo fato de que Keynes rompeu com essa tradição clássica/neoclássica. A crise de 29 foi um dos fatores mais importantes na história da economia e os seus desdobramentos são vistos até hoje no debate econômico.

Keynes propôs um modelo econômico contrário à época, hoje sabemos que a crise de 29 ocorreu por uma série de intervenções realizadas pelo estado americano na economia (Leia: A grande depressão americana, de Murray N. Rothbard), porém durante o período da crise, muitos tentaram elaborar diversas respostas diferentes e Keynes foi o que obteve mais sucesso nisso, não necessariamente por acertar, mas por dizer aquilo que os governos queriam ouvir.

Keynes apresentou uma síntese de intervenção moderada na economia, nem tão livre como a tradição clássica, nem tão estatal como o pensamento marxista. Keynes acreditava que, em momentos de crise, o governo tinha salvo conduto para intervir na economia, de modo a estimular ela a sair de tal crise, dentro dessa perspectiva, Keynes criou as bases e elaborou o conceito que hoje estudamos em economia chamado “Macroeconomia” que é basicamente o estudo da economia como um todo.

A ideia clássica de entender como a economia funciona e quais são as “regras do jogo” ficou delegada para o que hoje chamamos de “microeconomia”, a macro trata de conceitos amplos, chamados de agregados, como P.I.B, inflação, desemprego e etc. A questão é a seguinte: independente da teoria de Keynes estar correta ou não, ela foi seguida com afinco pelos economistas e até hoje, salvo as devidas proporções, é seguida, por isso pode-se considerar Keynes um dos economistas mais influentes da história.

2.7) Resumo

A história da economia é ampla e complexa, logo é extremamente evidente que muito foi deixado de fora aqui nessa explicação, como a escola austríaca por exemplo, porém a ideia aqui foi remontar como nós chegamos ao estado em que estamos hoje, por isso há a necessidade de algumas breves explicações.

Muitas das teorias keynesianas ou foram abandonadas ou reformuladas, mas isso não muda em nada as bases que Keynes lançou. Segundo, a história da economia continua seguindo o seu fluxo, porém acredito que desde Keynes, não tivemos um grande rompimento com a tradição vigente, até hoje somos muito “keynesianos” em certos aspectos.

Tendo isso em mente, entendemos que a economia saiu de conjecturas filosóficas, para a busca por fortalecer o estado por meio de metais preciosos, para a ciência da riqueza, para o socialismo e por fim, o estado interventor, aquele estado que menos ou mais liberal, tem um papel dentro da economia, muitas vezes sendo considerado o “salvador” ou motor da economia.

3.Mas então, o que o governo fez com o nosso dinheiro?

Agora compreendemos como chegamos onde chegamos, de modo geral, hoje nós temos muito presente dentro dos governos a ideia de estado como motor da economia, compreende-se como papel do estado estimular a economia e realizar a prosperidade dos cidadãos.

Note o seguinte, o estado tem seus próprios interesses também e para isso, diversas artimanhas são delimitadas, mas no fim, o papel dos economistas e da população acerca do que o estado deve fazer é algo marcante, agora podemos entender como o governo utiliza-se da prerrogativa de interventor para fazer uma série de insanidades com o nosso dinheiro.

3.1) Banco Central: O carcereiro monetário

O que  é preciso para uma empresa falir? Essa pergunta tem um número diverso de respostas, como má administração, falta de clientes, má adaptação ao mercado e coisas do tipo, porém uma pergunta ainda mais difícil de responder é: O que é preciso para um banco falir?

A resposta é: “Ele não vai falir!”. E isso acontece devido a existência dessa belezinha chamada Banco Central, que nada mais nada menos é uma forma do governo centralizar toda a atividade econômica em si, podendo assim manipular a economia ao seu bel-prazer.

Em uma economia contemporânea,  o Banco Central é o único banco que tem autorização para a emissão de moeda, ou seja ele é o único que pode “injetar” dinheiro na economia, além de que todos os bancos são obrigados a depositar parte de seu dinheiro a ele, isso é chamado de depósito compulsório. Mas afinal qual o problema do Banco Central?

Como funciona um sistema de crédito normal? Bom, uma pessoa poupa parte do seu dinheiro, ficando superavitária, logo por possuir uma quantidade acima do que ela precisa de dinheiro, ela decide emprestar a juros para alguém que assim a solicite, logo terá crédito, que nada mais é do que um sinônimo de dívida.

Porém, existe um fator crucial em um sistema normal de crédito, que é justamente a existência do dinheiro, afinal como eu vou emprestar para você um dinheiro que eu não possuo? Pois é, é exatamente isso que o Banco Central permite, o empréstimo de dinheiro imaginário por parte dos outros bancos. 

Afinal um banco normal iria armazenar o dinheiro dos seus clientes e cobrar uma taxa pelo serviço, assim caso o banco emprestasse mais do que possui em seu estoque, ele teria que correr o risco de não ter dinheiro para devolver a algum cliente que quisesse sacar o seu dinheiro de volta, o que limitaria o banco a uma clientela selecionada, afinal o banco precisará fazer uma seleção exigente de pessoas a quem ele irá conceder crédito, afinal ele conta que o dinheiro seja devolvido, além de não poder sair concedendo mais crédito do que o dinheiro que ele possui disponível.

No entanto, o Banco Central, o “banqueiro dos bancos”, resolve esse problema da seguinte maneira: Quando um banco corre o risco de não possuir estoque suficiente para quitar suas contas, o Banco Central, utilizando do dinheiro que ele recebe de todos os bancos, empresta para o banco necessitado, evitando a sua falência, dessa forma tornando quase impossível de um banco falir.

 3.2) A teoria austríaca dos ciclos econômicos

Compreendendo a sua impossibilidade de falir, os bancos começam a cada vez mais fazer conceder mais crédito, assim aumentando a demanda no mercado, o que gera uma falsa percepção de que as pessoas estão com mais dinheiro para consumir, o que aumenta a produção, o que aumenta o número de contratações, o que aumenta a demanda na economia, porque terão mais pessoas empregadas e assim segue o ciclo.

E esse ciclo continua até a bolha estourar, afinal a demanda original que gerou esse boom não é justificada, pois ela foi feita através de linhas de crédito, crédito esse lastreado em absolutamente nada.

Para ficar mais claro, foi exatamente isso que aconteceu na crise de 2008, esse efeito que começou nos mercados imobiliários e se lastreou para absolutamente toda a economia, que inclusive foi exatamente o que foi praticado no governo lula.

3.3) O circo está armado e você é o palhaço

E assim segue a lógica de atuação estatal com o dinheiro da população, todo tipo de ação estatal envolvendo a economia, cedo ou tarde, vai dar nesse ciclo.

A ideia do estado de gerir os recursos da sociedade melhor do que a própria sociedade sempre parte da premissa de que é possível criar um sistema perfeito, se for feito da “forma eficiente” Porém como diz Thomas Sowell, a economia é feita de trade-offs, logo não é possível fazer esse tipo de ação.

Todo empreendimento estatal na economia eventualmente rui, exatamente pelo fato do estado distorcer e não obedecer ao sistema que gere a economia: oferta e demanda. O estado não responde às demandas da sociedade por meio da livre escolha, ele responde às demandas que ele julga serem necessárias, porém a economia é justamente formada através da alocação eficiente de recursos por meio da oferta e demanda. 

Quando um produto está sobe de preço, significa que a quantidade disponível para a sociedade daquele produto, para a sociedade, está menor, logo ele sobe de preço para que menos pessoas possam comprá-lo, assim equilibrando a sua quantidade no mercado, permitindo com que as pessoas julguem se elas realmente querem ou não aquilo.

4.Conclusão

Gregory Mankiw, em seu livro “Introdução a economia” nos expõe o conceito de “Economia Normativa” Que é a economia que responde aos incentivos políticos, e “Economia Positiva” Que é a ciência econômica de fato, ou seja, o conjunto de proposições e premissas formuladas que explicam como a economia funciona.

Nós vivemos um mundo de economia normativa, ou seja, mesmo que a maioria dos economistas treinados concordem que o salário mínimo não é uma política eficiente, os responsáveis pela alteração dessa política, que são os próprios políticos, jamais vão dizer isso, afinal não é politicamente vantajoso para eles.

Tendo isso em mente, precisamos entender que o nosso dinheiro é a garantia que o estado tem de fazer o que bem entender sem precisar arcar com as consequências, então ao invés de responder a pergunta do título, eu proponho uma nova: o que o governo fará com o nosso dinheiro? 

Absolutamente tudo que ele quiser para beneficiar-se.


Gabriel Barros

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