Há conexão entre K-dramas, Coletivismo e Ayn Rand?

Há conexão entre K-dramas, Coletivismo e Ayn Rand?

Em dezembro de 2019, além de, infelizmente, começar a pandemia da covid, outro “vírus” explodiu e contaminou a população mundial, a fama das produções sul-coreanas com a estreia da série Crash Landing on You na Netflix. O K-drama conta de forma cômica como uma mulher sul coreana vai parar na Coreia do Norte sem querer e se apaixona por um militar. Entre as cenas românticas e engraçadas, vemos o retrato da Coreia socialista, pobre e a sua população sofrendo dentro desse sistema coletivista. Foi nesse momento que eu me apaixonei pelas produções sul-coreanas e foi também quando comecei a me interessar mais por entender o que era a Coreia do Norte.

Isso me levou a conhecer a autobiografia “Para poder viver” escrita pela ativista de direitos humanos norte-coreana Yeonmi Park, publicada em 2015, que relata sua incrível jornada de fuga do regime opressivo da Coreia do Norte. Assim que terminei essa leitura, foi inevitável não lembrar do livro 1984 que retrata uma realidade distópica de opressão como ainda hoje ocorre em contexto semelhante para a população norte coreana. Mas eu ouso dizer que George Orwell foi incoerente em ser contra ao totalitarismo em seus textos, mas ainda sim defender o “socialismo democratico”.

Assim, busquei encontrar um outro autor que pudesse ser mais inequívoco com suas ideias. Foi nesse momento que fiz a leitura de O Cântico de Ayn Rand. Um romance filosófico escrito pela autora russa-americana, publicado em 1957 que apresenta a história do personagem principal, Igualdade 7-2521, que vive em um mundo coletivista controlado pelo Estado e onde a individualidade é considerada um crime. A luta de Igualdade 7-2521 e de Yeonmi Park foram as mesmas, alcançando a liberdade individual fugindo do sistema coletivista opressor.

Enquanto, especialmente, no Brasil, a bipolaridade ocorre entre a discussão de direita e esquerda, as pessoas esquecem que o problema é muito mais complexo do que isso. O coletivismo é uma filosofia política e social que enfatiza a importância do bem comum e da coletividade em detrimento da individualidade. Quando eu era mais nova, certamente eu iria dizer que o bem comum é algo que deve ser alcançado. Eu lembro das aulas de história e sociologia no meu ensino fundamental e médio, onde os professores criticavam o individualismo e eu acha okay, mas quando eles falavam sobre a luta da esquerda no Brasil, eu criticava. Minha mente infantil e em formação, querendo ou não, estava sendo sim manipulada pelos meus professores, pois eles não incentivavam o pensamento livre, mas plantavam ideologias prontas nas cabeças dos alunos. Hoje eu acredito no individualismo, defendo que as pessoas penseam por si só, existem direitos individuais que são justificados pela racionalidade que cada indivíduo possui e que o coletivismo é incoerente em pensar que a individualidade ser suprimida em prol do bem coletivo gera algum bem.

Afinal o que é o coletivo? O que é a sociedade, se não pessoas, indivíduos singulares que possuem objetivos de vida únicos. O bem coletivo é uma abstração, o coletivo é uma persona irreal que fere os direitos individuais, como vemos no regime da Coreia do Norte, onde o Estado é o centro da vida social, política e econômica e onde a individualidade é suprimida em prol do “coletivo”. O Estado exerce um controle totalitário sobre a vida das pessoas, incluindo o controle da mídia, da educação e das atividades culturais. O governo exige lealdade absoluta ao líder do país e ao Partido dos Trabalhadores da Coreia, que é a única entidade política legal no país. A individualidade é vista como uma ameaça ao regime e é suprimida por meio de inúmeras medidas opressoras, como a propaganda estatal, doutrinação ideológica e punições para aqueles que desafiam o regime.]

A guerra não é sobre direita e esquerda, a guerra é entre a liberdade e a opressão do bem coletivo. Ayn Rand era russa e escreveu seu romance alguns anos depois da Guerra da Coreia e da estabilização do governo socialista na região do norte. Ela escreveu O cântico pensando em sua realidade na URSS socialista do século 20, e Yeonmi Park viveu na pele o mesmo sofrimento, no século 21, tendo experiências até piores que o personagem fictício de Rand enquanto lutava para fugir do coletivismo socialista.

Dito isso, fica a minha recomendação de assistir Crash Landing on You, ler o livro da Yeonmi e O cântico de Rand, e fica o questionamento para aqueles que defendiam o coletivismo sem saber que estão defendendo a abolição da liberdade e, consequentemente, a abolição da humanidade.


Diane Matos

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