As eleições de São Paulo são um evento de grande termômetro no cenário político brasileiro, não apenas por ser o estado de maior economia do Brasil, mas também por oferecer importantes lições que podem ser aplicadas em outros contextos políticos e sociais mais amplos.
Dessa forma, avaliar os resultados e dinâmicas dessas eleições nos permite compreender melhor os obstáculos e as oportunidades que acontecem no processo democrático. Confira o texto abaixo!
A construção de uma eleição de sucesso
Uma das grandes lições das eleições de São Paulo é a importância das alianças políticas. A reeleição de Ricardo Nunes (MDB) como prefeito, com um amplo leque de coligações que abrange doze partidos (PP, MDB, PL, PSD, Republicanos, Solidariedade, Podemos, Avante, PRD, Mobiliza, Agir e União Brasil), demonstra como a formação de alianças estratégicas pode ser crucial para atingir a vitória eleitoral e garantir a governabilidade. A capacidade de articular diferentes partidos e interesses é pertinente para conseguir uma base sólida de apoio. Cabe afirmar que o acordo garantiu um maior tempo de propaganda de TV no primeiro turno.
Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, não passou despercebido apoiando Nunes em momentos decisivos e foi fundamental para garantir a vitória de Nunes.
“Eu agradeço muito a Deus, agradeço à minha família. Queria deixar agradecimento especial a minha esposa Regina que esteve sempre ao meu lado, em todos os momentos da minha vida e sofreu enormes maldades nessa campanha. E ao líder maior, sem o qual não teríamos essa vitória, meu amigo, que me deu a mão na hora mais difícil, governador Tarcísio de Freitas […] Tarcísio, seu nome é presente, mas seu sobrenome é futuro”, declarou Nunes.
A colaboração entre Nunes e Tarcísio foi reforçada pela indicação do Coronel Mello Araújo (PL) como vice-prefeito, uma decisão costurada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Outra questão importante é o engajamento e a mobilização do eleitorado. A campanha de Nunes utilizou intensamente as redes para mobilizar os eleitores, além de manter uma agenda consistente de eventos presenciais, incluindo passeatas, bandeiraços para engajar a população.
Nunes ganhou a reputação de gestor experiente e candidato da direita moderada, se diferenciando de candidatos oportunistas, como Marçal (PRTB) e Boulos (PSOL). Uma vez ganho, Nunes expressou a satisfação de ser eleito para governar para todos. O equilíbrio havia superado todas as dificuldades. A vontade de São Paulo necessitava ecoar para todo o Brasil. Nas palavras de Nunes, os confrontos ideológicos foram substituídos pela governança efetiva de entregar resultados. “O trabalho triunfou sob a retórica ideológica. As mudanças profundas derrotaram a retórica fútil de extremistas nacionalmente.
Nunes conquistou os empreendedores, uma parcela que havia votado no Marçal no primeiro turno. Entre as suas promessas de campanha que fidelizaram o eleitorado está expandir o Programa Vila Reencontro para pessoas em situação de rua, promoção de cursos vocacionais para empreendedores nos Centros Educacionais Unificados (CEUS), e a construção de Unidades de Pronto-Socorro (UPAs), 25 UBS (Unidades Básicas de Saúde), e cinco centros de saúde “ Paulistão da Saúde.”
Embora tenha recebido apoio do ex-presidente, Nunes optou se distanciar dele durante a campanha, focando no suporte do governador Tarcísio Freitas. O consenso era que os posicionamentos radicais de Bolsonaro poderiam afetar o desempenho de Nunes entre os eleitores de São Paulo, já que Bolsonaro perdeu as eleições na capital.
Nunes logrou realizar incursões em áreas tradicionalmente dominadas pela esquerda, como as periferias de São Paulo. Ele adquiriu expressivos votos nessas regiões, o que foi primordial para sua vitória.
As eleições sublinharam a importância de adaptação às transformações sociais. As questões foram diversas. A mobilidade urbana foi um tema central pela necessidade de melhorar o transporte público, diminuir os congestionamentos prejudicados à qualidade de vida das pessoas da região e construir mais ciclovias e promover soluções aos desafios do trânsito. Além disso, a inclusão social ganhou espaço nos debates pelo foco em políticas públicas que promovam liberdade de oportunidades e qualificação profissional, como maior oferta de cursos profissionalizantes e integração de comunidades marginalizadas pelo poder público.
Questões como tecnologia, segurança pública, educação e saúde foram amplamente abordadas para o avanço de melhorias para a população. Esses temas remeteram ao preparo dos candidatos e partidos de responder aos anseios da população.
A transparência e a prestação de contas também são fatores cruciais. Candidatos que asseguram que os recursos utilizados nas campanhas estejam seguindo as regras e são financiados de maneira ética, os eleitores se sentem mais confiantes em relação à integridade das eleições e o candidato, quando eleito, não se envolve num desvio de finalidade.
No final, as eleições de São Paulo evidenciaram as dificuldades diante de tempos já considerados de pós-polarização na política. Ou seja, o candidato, mesmo com intensa rejeição, pode influenciar no rumo das eleições com propostas fáceis e teatralidade. A divisão entre diferentes campos ideológicos pode dificultar a criação de diálogos e a aplicação de políticas concretas. A política pode servir para abraçar uma cooperação entre os diferentes setores da sociedade em prol do bem coletivo.
Conclusão
As eleições de São Paulo ressaltam lições sobre a relevância das coligações políticas, o apadrinhamento com lideranças políticas, e estratégias de mobilização e ações voltadas para a construção de soluções, da adaptação ao contexto social e problemas da comunidade, bem como a transparência para sobrepor à polarização.
Essas lições podem ser valorosas para futuras campanhas e para atrair mais pessoas à política e o fortalecimento de um meio político mais pacífico e com foco nas preocupações do cidadão. Ao aprender com essas experiências, podemos eleger representantes com promessas racionais, assumir a responsabilidade de pressionar os eleitos a vereador e prefeitos a realizarem uma boa gestão da cidade, sonhar um futuro com maior liberdade e segurança para nossos filhos.
*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.