Imagine um governo centralizador que controla todas as decisões políticas mais impactantes em todo o planeta. Todas as nações devem prestar obediência a esse governo, sob a promessa de estabilidade, paz e ordem em meio ao caos global. Com o tempo, percebe-se que essa centralização de poder é, na verdade, autoritária, injusta e resistente a qualquer oposição. Essa é a essência do Governo Mundial retratado na animação japonesa One Piece, criada por Eiichiro Oda.
A ficção, no entanto, parece refletir a realidade. Afinal, como dizem, “a arte imita a vida”, e as características desse governo centralizador se assemelham a várias formas de governo que já existiram, além de remeterem a alguns projetos de poder da atualidade. A pergunta que surge é: o Governo Mundial seria apenas uma teoria da conspiração ou haveria um fundo de verdade nesse assunto que, ao mesmo tempo, fascina e preocupa?
A ideia de controle global vem desde a antiguidade
A ânsia humana pelo poder não é novidade. Desde os primórdios da civilização, líderes em diferentes épocas e lugares manifestaram o desejo de governar tudo e todos. Na Idade do Bronze, os reis egípcios pretendiam dominar “Tudo o que o Sol circunda”, enquanto os reis mesopotâmicos almejavam governar “Tudo desde o nascer ao pôr do sol”.
Já o Império Romano, ensaiou a concretização desse ideal, expandindo seu domínio da Península Ibérica até o Oriente Médio. Mas, apesar de seus avanços em infraestrutura e governança, esse poder centralizado frequentemente culminava em autoritarismo e repressão das populações.
Esse modelo, de poucos privilegiados vivendo muito acima da média da população, é bem ilustrado em One Piece, onde os Dragões Celestiais representam a elite aristocrática que governa com impunidade, escravizando e subjugando qualquer um que cruzar seu caminho.
O Governo Mundial em One Piece
No anime, o Governo Mundial é uma organização política que controla a maior parte do mundo, sendo liderada por uma cúpula central chamada Cinco Anciões. Esses, por sua vez, [ALERTA DE SPOILER] respondem a um governante misterioso conhecido como Im, cuja existência é desconhecida pela maioria das pessoas.
Criado há 800 anos, o Governo Mundial é sustentado por sua principal força militar, os marinheiros, e por um rígido controle narrativo que suprime qualquer questionamento. A “justiça absoluta” imposta por eles é marcada por corrupção, escravidão e violência, enquanto os Nobres Mundiais, descendentes dos fundadores do governo, vivem como “deuses” acima das leis.
No anime, esses atos de opressão são constantemente desafiados pelo protagonista Luffy e os Chapéus de Palha. Em um dos momentos mais emblemáticos da animação, Luffy ousa confrontar um desses nobres, conhecidos como Tenryuubitos, questionando diretamente a autoridade intocável desse sistema corrupto. Tal ato, resultou em implicações terríveis para Luffy e sua tripulação.
Esse cenário fictício reflete debates reais sobre a centralização de poder: será que um governo global poderia ser neutro e amigável ou, inevitavelmente, sucumbiria à corrupção e autoritarismo?
O plano comunista de controle mundial
Na história real, a busca por um governo unificado e centralizado também esteve presente em ideologias como o comunismo. A Internacional Comunista (Komintern), fundada em 1919, tinha como objetivo reunir partidos comunistas ao redor do mundo para promover a revolução global.
Liderada por Lênin, a Komintern buscava estabelecer a ditadura do proletariado e superar o capitalismo. Essa centralização de poder trouxe repressão, fome e perseguições, tornando o comunismo uma das ideologias mais mortíferas da história da humanidade.
Uma herança dessa visão centralizadora foi o Foro de São Paulo, fundado em 1990 por Luiz Inácio Lula da Silva e Fidel Castro. Criado para unificar partidos e movimentos de esquerda na América Latina e Caribe, o Foro de São Paulo é frequentemente citado como um exemplo de articulações supranacionais que buscam influenciar políticas regionais, despertando preocupações sobre perda das liberdades individuais. Ditadores como Evo Morales e Nicolás Maduro figuram entre os participantes da organização.
Embora sua existência tenha sido inicialmente tratada como uma teoria da conspiração, o Foro de São Paulo, hoje, é de conhecimento público.
O Coletivismo na Governança Mundial: Um Perigo à Liberdade
Atualmente, o termo “globalismo” tem ganhado destaque, muitas vezes cercado por controvérsias e acusado de ser uma teoria da conspiração. No entanto, sua essência está na promessa de “harmonizar” leis e políticas em escala mundial. Sob o pretexto de resolver problemas globais complexos – desde crises econômicas até mudanças climáticas – o globalismo defende que decisões sejam centralizadas em órgãos supranacionais, com legislações uniformes que ultrapassam as fronteiras nacionais.
No universo de One Piece, o Governo Mundial segue uma lógica semelhante de centralização, impondo suas leis absolutas sem considerar as particularidades de cada ilha ou região. Essa centralização extrema resulta em um regime burocrático e autoritário, onde qualquer desvio da norma é reprimido e a diversidade é eliminada em nome de uma suposta ordem global.
Da mesma forma, na vida real, o globalismo busca criar um sistema unificado onde o conceito de descentralização se torna obsoleto. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) – ambos braços da Organização das Nações Unidas (ONU) – exemplificam essa tendência. Recentemente, a OMS passou a determinar políticas globais de saúde que devem ser seguidas por todos os países, enquanto o FMI condiciona empréstimos ao cumprimento dessas orientações. Essa transferência de poder para órgãos supranacionais frequentemente ignora as especificidades locais, promovendo uma agenda centralizadora que coloca em risco as liberdades individuais.
Um alerta para o futuro
O paralelo entre ficção e realidade serve como um alerta: uma governança centralizadora pode ser pintada como uma solução ideal para os problemas do mundo, mas os riscos de corrupção, repressão e desrespeito às diversidades.
A lição é clara: a liberdade individual e a descentralização do poder são essenciais para preservar a autonomia das pessoas e a diversidade das nações. Assim como Luffy desafia o Governo Mundial, cabe a cada geração resistir à centralização desmedida e defender um mundo onde as decisões sejam tomadas de forma voluntária. Afinal, a liberdade é sempre o preço da verdadeira prosperidade.
*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.