Fuga de cérebros: por que o Brasil perde seus maiores gênios?

Fuga de cérebros: por que o Brasil perde seus maiores gênios?

A fuga/drenagem de cérebros é um termo derivado da expressão em inglês “brain drain”, e remete à emigração de profissionais altamente qualificados de um país para outro que garante melhores oportunidades de vida. Em países subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil, esse fenômeno é bastante corriqueiro e a tendência é que, nos próximos anos, essa fuga aumente ainda mais. 

Segundo dados do Centro de gestão e estudos estratégicos, no ano de 2022, o Brasil tinha entre 2000 a 3000 cientistas fora do país. Entre os motivos desse êxodo, pode-se destacar a possibilidade de maior reconhecimento, mais recursos e remuneração em outros países, fuga de um ambiente regulatório restritivo, a instabilidade econômica e política de um país, dentre outros.

Além de todos esses motivos, no caso do Brasil, existe uma razão fundamental para que haja cada vez menos profissionais de alta qualificação: os empregos no Estado tornaram-se alvo dos melhores talentos do país. Em média, um servidor do governo federal recebe uma remuneração significativamente maior do que um trabalhador equivalente no setor privado e, o movimento natural, nesse caso, é de pessoas qualificadas escolhendo uma carreira em serviços com maiores salários e “mais estabilidade”.

Mesmo em tempos de grandes crises, como foi o caso da recente pandemia, os servidores públicos mantiveram seus empregos e conseguiram se proteger, enquanto trabalhadores da iniciativa privada sofreram fortemente com a baixa da demanda em vários setores, causada pela queda da economia mundial. Em casos como esse, por exemplo, para aqueles que, por necessidade ou por opção, optam por permanecer no Brasil, o setor público se torna bastante atrativo. 

Isso, porém, tem um preço. Os brasileiros, principalmente os mais pobres, são quem financiam esses salários através do pagamento de impostos bastante onerosos. Em contrapartida, é também a parcela mais pobre da população, quem mais sofre com a queda do setor privado. O Brasil conta com uma enorme insegurança jurídica e é bastante hostil com o empreendedorismo. Isso acaba por minar a concorrência, acarretando em preços mais elevados para a população e na queda da oferta por empregos. 

Outra opção viável em resposta a esse desincentivo governamental ao sistema privado, para aqueles que possuem boas qualificações, é tentar a vida em outros países. Essa fuga de cérebros acaba por fazer com que o Brasil perca um conjunto de conhecimentos que poderia ser utilizado para incrementar seu próprio desenvolvimento, cedendo talentos para nações competidoras. E em um mundo totalmente globalizado como o de hoje, essa competição só aumenta.

Empresas da Europa, Ásia e Estados Unidos, investem forte no “ganho de cérebros” para melhorarem seu desenvolvimento científico e, no final das contas, para obterem melhorias econômicas e sociais. A oferta de empregos com melhor estrutura e remuneração atrai diversos brasileiros para esses lugares. O Brasil tem uma moeda tradicionalmente fraca (o país já teve oito moedas e, segundo a calculadora de inflação do Banco Central, para ter o poder de compra de R$ de 1 quando ele foi lançado você precisaria hoje de R$ 7,48). Para além da desvalorização monetária frente a outros países, o Brasil não possui capacidade de concorrer de igual para igual com potências mundiais pela má administração dos recursos públicos para áreas relevantes, como ocorre na ciência e na tecnologia. 

O interessante sobre a realidade brasileira é que tem havido um aumento nos investimentos em inovação e aprimoramento profissional. Além disso, as universidades brasileiras têm recebido avaliações positivas em comparação com instituições de ensino ao redor do globo. No entanto, como bem aponta o texto “O Abismo entre a universidade e o mercado de trabalho” da Tecmundo, tais investimentos não estão efetivamente preparando os jovens profissionais para enfrentarem os desafios do mercado.

Dados de 2015 da OCDE apontam que o Brasil gasta US$ 14,261 mil ao ano por cada aluno na universidade, ficando à frente de países como Estônia, Espanha, Portugal, Itália, México e Irlanda, que, na época do estudo possuíam uma renda per capita bem superior à renda brasileira. Isso quer dizer que o gasto estatal em universidades públicas no país é desproporcionalmente mais alto em relação a outros países.  

Isso faz retornar ao argumento da dificuldade de empreender no Brasil. De nada adianta liberar rios de dinheiro para inovação e pesquisa e ao mesmo tempo jogar contra o mercado, com grandes taxações e regulamentações estatais. 

O que falta para que o Brasil mude a chave no cenário mundial é exatamente o fomento à competição e a abertura ao capitalismo (leia o artigo “Por que o liberalismo funciona?” do blog Damas de Ferro para mais detalhes). Em outras palavras, menos Estado. À medida que o cenário econômico se torna mais competitivo e o trabalho adquire maior valor agregado, torna-se crucial contar com profissionais altamente capacitados. Em resposta a isso, mais talentos irão permanecer no país. 

Em suma, é essencial criar condições para que profissionais altamente qualificados optem por permanecer no Brasil, por meio de uma combinação de fatores como salários competitivos, ambiente regulatório favorável, estabilidade política e econômica, além de políticas de estímulo ao empreendedorismo e à inovação. 


Gilson Assis

*As opiniões do autor não representam o Damas de Ferro enquanto instituição.

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