A disputa curricular entre modelos tradicionais e progressistas é um tema central nas discussões educacionais contemporâneas. Essa polarização reflete diferentes concepções sobre o que deve ser ensinado, como deve ser ensinado e qual o papel do aluno e do professor no processo educativo.
Os modelos tradicionais de ensino focam na transmissão de conhecimento, enfatizando as disciplinas acadêmicas e conteúdos formais. Nesse modelo, o professor é o principal agente do conhecimento. Enquanto os modelos progressistas são focados no aluno, sendo o professor apenas mediador do conhecimento e não transmissor. Os progressistas enfatizam as habilidades sobre os conteúdos, alegando que esse modelo desenvolve competências como, por exemplo, o que eles chamam de “pensamento crítico”.
A seguir, apresentaremos as características, vantagens, desvantagens e impactos dessas abordagens no currículo escolar.
Fundamentos da educação tradicional
A educação tradicional concentra-se na transmissão de conhecimentos e na aprendizagem intelectual por meio de conteúdos teóricos, partindo do pressuposto de que o aluno não constrói o conhecimento de forma automática. Para que o estudante desenvolva um pensamento crítico, é fundamental que possua conhecimentos prévios que lhe foram transmitidos.
O currículo, estruturado em disciplinas acadêmicas como matemática, ciências e história, é organizado de maneira linear e sequencial. As aulas, frequentemente, são expositivas. Muitos intelectuais contemporâneos criticam esse método de ensino, argumentando que ele se baseia na repetição e na memorização de conteúdos. No entanto, a educação não se resume apenas à aprendizagem de dados; ela também envolve a capacidade de julgar, compreender eventos e teorias, e discernir o verdadeiro do falso.
Esses conhecimentos prévios são transmitidos pelo professor, que é um especialista em sua área de atuação. Isso capacita o aluno a alcançar fluência intelectual e, a partir desse ponto, a construir seu próprio conhecimento de maneira crítica e consciente. Essa abordagem implica que a autoridade na sala de aula reside no professor, o que pressupõe a necessidade de disciplina e ordem.
Para que uma escola funcione de maneira eficiente, é essencial manter a ordem e um regimento escolar com normas claras e bem definidas. Essas diretrizes servem para assegurar a organização, a segurança e garantir um ambiente propício à aprendizagem para todos os alunos.
A seguir, será listado algumas vantagens do modelo de educação tradiocional:
- A abordagem sistemática de transmissão de conteúdos permite que os alunos construam uma base sólida de conhecimentos fundamentais;
- O currículo linear e sequencial permite que os alunos tenham acesso ao conhecimento de forma coerente;
- A figuara do professor como autoridade proporciona um ambiente de respeito e disciplina. Isso favorece um espaço propício para aprendizagem, minimizando distrações;
- Prepara os alunos para desafios acadêmicos e profissionais, desenvolvendo a responsabilidade e a capacidade de seguir diretrizes. O que, por sua vez, fornece aos alunos ferramentas para desenvolver habilidades e competências que lhes trarão sucesso acadêmico.
Propostas progressistas de educação
O modelo progressista de educação prioriza a socialização em detrimento da aprendizagem. Nesse contexto, o professor deve se preocupar com os interesses e as motivações dos alunos, levando em consideração seu ambiente social. O ensino deve ser centrado no estudante, enfatizando sua autonomia, enquanto o educador atua apenas como facilitador do processo de aprendizagem.
Inger Enkvist, em seu livro “O complexo ofício do professor”, apresenta uma crítica relevante que a professora Daisy Christodoulou fez ao termo “pedagogia progressista”. Ela constatou a ineficiência dos novos métodos de ensino aprendidos na formação de professores:
A autora sugere que falemos em pedagogia pós-moderna, não progressista. Não se constrói muito e é por isso que o termo construtivista não é apropriado. Nenhum progresso é feito e é por isso que o termo progressista é descartado. Ela considera que o termo pós-moderno é mais adequado porque é uma pedagogia que não se interessa em transmitir dados e desconfia da verdade (…) a pedagogia pós-moderna insiste em que alunos não estudem em manuais, mas descubra o mundo por si mesmo.1
Os defensores da educação progressista (ou construtivista) criticam veementemente o modelo tradicional, argumentando que os tempos mudaram e que as abordagens antigas estão ultrapassadas. Como resultado, o conhecimento específico das disciplinas tem sido cada vez mais negligenciado, dando espaço à interdisciplinaridade e à educação baseada em projetos. Nesse novo paradigma, o professor não precisa ser um especialista em sua área, uma vez que os conteúdos não são considerados o aspecto mais relevante.
Além disso, os progressistas veem a educação tradicional como elitista e defendem a necessidade de “democratizá-la”. Nesse sentido, a busca por um maior número de alunos nas escolas e a consideração dos desejos e das realidades sociais dos estudantes levam a uma diluição da qualidade do conhecimento, resultando em um ensino mais medíocre. A ideia de nivelar por baixo, com o intuito de garantir acesso universal à educação, é uma preocupação central nesse modelo.
Disputa pelo currículo escolar
A disputa pelo currículo escolar é, em grande parte, uma batalha ideológica. Os defensores da educação tradicional argumentam que o conhecimento e a disciplina são essenciais para a formação de cidadãos competentes e bem-informados. No ensino tradicional, o currículo é estruturado de forma linear e disciplinar, com ênfase em conteúdos teóricos. As aulas são predominantemente expositivas, e a avaliação é frequentemente baseada em testes e exames que medem a capacidade de retenção de informações.
Por outro lado, os defensores da educação progressista defendem que a aprendizagem deve ser relevante e significativa para o aluno. Nesse modelo de educação, o currículo é flexível e interdisciplinar, permitindo que os alunos façam conexões entre diferentes áreas do saber. No entanto, essa abordagem pode diminuir a qualidade da educação. A ênfase na socialização e na interdisciplinaridade pode resultar em uma diluição do conteúdo, levando a uma formação superficial. Ou até mesmo ideológica, como nos lembra Pascal Bernadin:
A reforma pedagógica que ocorre atualmente em numerosos países quer substituir os ensinamentos clássicos e cognitivos por um ensino “multidimensional e não cognitivo” que toque em todos os componentes da personalidade: ético, afetivo, social, cívico, político, estético, psicológico. Trata-se de esvaziar os ensinamentos de seus conteúdos (cognitivos) para substituí-los por um doutrinamento criptocomunista e globalista, que vise a modificar os valores, as atitudes e os comportamentos.2
Nesse modelo de ensino, o professor atua como facilitador, incentivando a autonomia e o que chamam de “pensamento crítico”. Entretanto, esse “pensamento crítico” pode se tornar um pensamento hegemônico, em que a cultura woke é inserida no currículo, dando ênfase ao ativismo político e deixando o conhecimento de lado. Nessa abordagem, os conteúdos das disciplinas são cada vez mais substituídos por pautas sociais. Hoje, se fala até em matemática “antiracista”. Segundo o wokismo, a matemática é racista por ser objetiva. Veja o que Douglas Murray diz acerca da desconstrução da matemática por alguns professores:
De acordo com esses educadores, a afirmação de que 2+2=4 não é verdadeira. Embora o resultado possa ser 4, também pode ser outro, incluindo 5. (…) Outros concordaram que era óbvio que o resultado de 2+2 não podia ser 4, para o que deram várias razões, que incluíam afirmações de que a soma 2+2=4 é parte de uma ‘narrativa hegemônica’ que as pessoas que impõem tais narrativas não deveriam decidir o que é verdade, que a soma de 2+2=4 deveria resultar no que as pessoas quisessem e fazer tal afirmação tão definitiva exclui outras formas de saber.3
E essa é apenas a ponta do iceberg. Na ânsia de transformar o aluno em agente de mudança em seu meio, os progressistas propõem que se discuta sobre tudo na sala de aula, mas, no final, o estudante não adquire, praticamente, nenhum conhecimento.
Resultados dos dois modelos de ensino4
A educação é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento de uma nação, e os modelos educacionais adotados podem ter um impacto significativo nos resultados acadêmicos e sociais. Vários países que mantêm um modelo educacional tradicional têm demonstrado resultados positivos em termos de desempenho acadêmico e formação de cidadãos competentes. Por exemplo, países como Japão e Coreia do Sul, que ainda incorporam elementos da educação tradicional, apresentam altos índices de alfabetização e desempenho em avaliações internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).
Por outro lado, em países que priorizam a educação progressista, observam-se sinais de decadência no sistema educacional. Exemplos de nações que adotaram amplamente esse modelo, como alguns países da América Latina, têm enfrentado desafios significativos.
Considerações finais
Ao comparar os modelos de educação tradicional e progressista, percebe-se que abordagens pedagógicas mais estruturadas, baseadas na transmissão sistemática do conhecimento, tendem a apresentar melhores resultados em termos de desempenho acadêmico e aquisição de habilidades fundamentais. Uma educação pautada na disciplina, no rigor conceitual e na valorização do papel do professor como transmissor do saber oferece uma base mais sólida para o desenvolvimento dos estudantes. Em contraste, os modelos progressistas, apesar de suas “boas intenções” de promover autonomia e criatividade, têm mostrado dificuldades na consolidação do conhecimento, resultando em um declínio cada vez maior nos níveis de aprendizado.
- ENKVIST, Inger. O complexo ofício do professor: conselhos para uma educação de qualidade. Tradução de Ricardo Harada. Campinas, SP: Kírion, 2021, p.66.
↩︎ - BERNADIN, Pascal. Maquiavel pedagogo: ou o ministério da reforma pedagógica.Tradução de Alexandre M. Ribeiro. Campinas, São Paulo: Ecclesiae e Vide Editorial, 2012, p. 86. ↩︎
- MURRAY, Douglas. A guerra contra o Ocidente. Tradução de Fernando Silva. São Paulo: Faro Editorial, 2022, p. 169 – 170. ↩︎
- Confira a análise de I. Enkvist em: ENKVIST, Inger. A boa e a má educação: exemplos internacionais. Tradução Felipe Denardi. Campinas, SP: Kírion, 2020. ↩︎