A emergência de um mundo multipolar, liderado por nações como China e Índia, e o crescimento do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) desafiam a hegemonia das potências ocidentais e de instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Essas nações buscam reconfigurar o sistema financeiro internacional, reduzindo a dependência das estruturas de governança existentes e adotando novas estratégias para enfrentar as incertezas globais. Entre as iniciativas estão a reconfiguração das cadeias de suprimentos e a reforma da arquitetura financeira internacional.
1. Reconfiguração das Cadeias de Suprimentos
A pandemia de COVID-19 e o aumento das guerras comerciais, principalmente entre os EUA e a China, ilustram a vulnerabilidade das cadeias de suprimentos globais.
A dependência excessiva de componentes fabricados na China, Taiwan e Coreia do Sul, como semicondutores, expôs riscos que podem ter impactos significativos na economia global.
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou em meados de janeiro de 2025, a imposição de altas tarifas sobre produtos importados de países como Canadá, México e Brasil, alegando que esses países se beneficiam da liberdade de exportar para os EUA, enquanto produtos americanos enfrentam barreiras significativas para entrar nesses mercados.
Uma forma de mitigar as fragilidades nas cadeias de suprimentos é a adoção de estratégias de regionalização por países e empresas, como o “friend-shoring“.
Portanto, essa estratégia prevê a realocação da produção para países aliados e regiões próximas, com o objetivo de fortalecer a resiliência das cadeias produtivas.
A criação de novas rotas comerciais com países de baixo risco político e econômico é essencial para garantir o fornecimento da cadeia de suprimentos. O termo “friendly shore” surgiu em 2015 e ganhou força devido à pandemia de Covid-19 e à guerra da Ucrânia em 2022, que evidenciaram os riscos de interrupção abrupta do comércio.
Por outro lado, um estudo do Harvard Growth Lab estima que políticas de friend-shoring podem acarretar perdas de até 4,6% do PIB global (Javorcik et al., 2022).
De acordo com o Relatório de Riscos Globais de 2025 do Fórum Econômico Mundial, as cadeias de suprimentos precisam ser reconfiguradas para lidar com as novas tensões geopolíticas (Fórum Econômico Mundial, 2025). Além disso, a reconfiguração das cadeias de suprimentos não só visa reduzir riscos, mas também aprimorar a competitividade internacional.
2. Expansão de Novos Blocos Econômicos
Com base nos desafios apresentados pelas cadeias de suprimentos, o próximo aspecto a ser considerado é a expansão de novos blocos econômicos, que pode promover alternativas à dependência do dólar
A recente expansão dos BRICS, com a inclusão de novas nações, considera-se uma tentativa para equilibrar a ordem global predominante, permitindo alternativas às instituições financeiras tradicionais dominadas pelo Ocidente.
Especialistas indicam que a criação de alternativas como o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e a reavaliação da função de instituições como o FMI e o Banco Mundial são alguns dos temas discutidos em diversos estudos.
A expansão do bloco, com a adesão de novos membros em 2024 para incluir países como Egito, Etiópia, Irã e Emirados Unidos, demonstra que a China é a principal beneficiada, seguida pela Rússia.
Essa medida visa minar a dependência do dólar, oferecendo câmbio em moedas locais ou regionais, com o objetivo de reduzir a influência econômica dos EUA no mundo.
No âmbito político, a integração de novos países, com economias diversas, requer uma coordenação fluida. No entanto, como oposição aos EUA, essa expansão pode gerar novas tensões no cenário global.
Com o aumento de medidas protecionistas e sanções, reforçadas por eventos como a Guerra da Ucrânia e conflitos no Oriente Médio, a cooperação e o livre comércio entre as nações se tornam ainda mais necessários.
Conclusão
A discussão da reavaliação das alianças econômicas tradicionais em um mundo multipolar revela transformações profundas no cenário global.
A necessidade de reconfigurar cadeias de suprimentos, a ascensão de novos blocos econômicos e o movimento rumo à desdolarização refletem como as antigas estruturas estão sendo enfrentadas.
Em meio a essas mudanças, tanto governos quanto empresas precisam repensar suas estratégias para garantir estabilidade, competitividade e resiliência frente a um ambiente de incertezas.
O futuro prevê para uma maior diversificação das parcerias econômicas, exigindo uma cooperação mais dinâmica e adaptável às novas realidades do comércio e das finanças internacionais.

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.