“O que é a cultura woke? O que é lacração?” Essas são perguntas frequentes que todo crítico ao movimento identitário ouve de seus defensores. Logo em seguida, vem a acusação de que a pessoa estaria louca, vendo a tal da “lacração” em tudo. Nas palavras de um usuário de twitter, “cultura woke não é o lance de deixar as obras mais parecidas com o que de fato se vê na vida real”? Sinceramente? Eu queria que fosse só isso. Que a guerra cultural nada mais fosse do que um bando de adolescentes e desocupados brigando pela etnia de um personagem fictício num show de tv. Só que nós infelizmente já passamos desse ponto há muito tempo, e o impacto que o identitarismo causou, causa, e causará nas nossas vidas está longe de ser tão negligenciável. Afinal, existe ou não existe? Antes de mais nada, é preciso entender o motivo por trás da confusão ao redor do identitarismo. E isso passa por entender que há dois tipos de pessoas questionando sua existência: o primeiro é formado por pessoas legitimamente leigas que ainda não conseguiram conectar os pontos; enquanto o segundo é formado por pessoas que defendem a causa identitária mas, cinicamente, fingem não entender o que ela seria. A tática deste segundo grupo está em sugerir que qualquer crítica ao identitarismo seja, na verdade, uma forma disfarçada de preconceito, transformando o debate numa armadilha moral onde quem questiona vira automaticamente o vilão. Vamos lembrar, por exemplo, de como um único texto crítico do antropólogo de esquerda Antonio Risério na Folha de São Paulo foi suficiente para que quase 200 jornalistas se pronunciassem a favor da censura dele? Ou de como a atriz de esquerda Juliana Paes, ao ser contra uma gigantesca pressão para que artistas pronunciassem politicamente, foi taxada de extrema direita e precisou ouvir um sermão ao vivo sobre os males da ditadura militar? É uma situação onde, nas palavras da escritora Kambrea Pratt, “você tem a permissão pra aceitar, mas não para discordar”. O resultado imediato disso é bem claro: as pessoas comuns sentem que algo está errado, mas não conseguem nomear o problema. Sentem que o discurso dominante mudou, que a liberdade de expressão encolheu, e que o medo de dizer a coisa errada cresceu, mas não sabem exatamente o porquê. Entretanto, há sim uma causa para isso. O que é vendido como uma teoria da conspiração é na verdade um conjunto de ideias organizadas e articuladas academicamente, com intelectuais, fundamentos teóricos, métodos de ação e objetivos bem definidos. Permita-me então, caro leitor, fazer uma explicação bem explícita e acadêmica dessa ideologia que tanto tentam negar existir. Definindo o Identitarismo Segundo o professor Peter G. Klein numa palestra ao Instituto Mises, o identitarismo é um movimento que combina raízes filosóficas da escola de Frankfurt com a teoria crítica do pós-modernismo francês (Foucault). Seu principal foco seria relacionado à raça, gênero, sexualidade, ou identidade de gênero. Consequentemente, o professor também define que o identitarismo prioriza as características de grupo e estruturas sociais acima do comportamento individual, vendo a verdade como posicional. O que isso significa? Significa que a experiência pessoal subjetiva de uma pessoa é mais valorizada do que dados ou argumentos lógicos. Ou seja, a verdade pouco importa. Basta que a interpretação de uma pessoa seja verossímil para ela que será vista como verdadeira; e basta que a opinião de seu adversário pareça errada para ser considerada falsa. Por fim, o professor explicita que o identitarismo acredita na chamada teoria Whig da história. Essa teoria acredita que a história do mundo está avançando numa direção já conhecida e inevitável, mas que pode ser atrasada por críticos e negacionistas. A partir disso, os identitários acreditam estar do “lado certo da história”, aquele cujas ações serão admiradas no futuro; e vê seus inimigos como “as pessoas do lado errado da história”, aqueles atrasaram o inevitável e serão lembradas como vilãs. Uma boa forma que vejo para descrever isso seria a crença de que avanços tecnológicos e políticos estariam interligados. Em outras palavras, que uma sociedade avançada geraria uma população progressista, e que uma sociedade que se torna progressista irá também se tornar mais avançada tecnologicamente. Uma análise estatística mais profunda sobre essas ideias pode ser encontrada na Revista The Economist, mas posso adiantar que os principais intelectuais por trás do movimento identitário são nomes como Bell Hooks, Kimberlé Crenshaw, Judith Butler ou, aqui no Brasil, Silvio Almeida. Tendo enfim delimitado o que é o identitarismo, podemos então entender o quão absurdamente grande e permanente é o impacto negativo que ele teve em nossa sociedade. O Impacto do Identitarismo em Nossa Sociedade Sabe o que acontece quando se treina a população a se ver não como indivíduos bons ou ruins, mas sim como representantes indistinguíveis de suas etnias? Os piores índices de relações raciais em décadas! E quando se normaliza socialmente ver-se como representante da sua etnia ao invés de como indivíduo, normaliza-se isso pra todo mundo. E todo mundo é todo mundo. O que significa que agora temos também um gigantesco aumento de supremacistas brancos! Frente a isso, a resposta dos progressistas identitários foi uma só: censura. Os últimos 10 anos foram marcados por uma grande e sistemática censura e demonização de todas as ideias de direita ou de centro. Todas as redes sociais, canais de tv, e universidades ofereciam a mesma visão de mundo; e perseguiram quem ousasse falar diferente. Vendiam a ideia de que o mundo mudou, e que o desconforto de uma pessoa com as pautas da agenda identitária nada mais seria do que a incapacidade dela de aceitar o novo normal. E não parou por aí. Eis que essas vozes discordantes passaram a ser demitidas, a perder patrocinadores, ou tornar-se inimigos públicos por apontar algo acontecendo objetivamente. Inúmeras mentiras foram ditas sobre elas ao ponto de começarem até mesmo a receber ameaças de agressão contra suas famílias, vendo isso sendo alegremente celebrado porque cometeram um “crime de pensamento”, e que seus censuradores seriam os moralmente justos fazendo isso para o bem maior. Entretanto, como dizia Ayn Rand, você pode ignorar a realidade, mas não as consequências de ignorar a realidade. E foi exatamente isso que aconteceu quando um gigantesco escândalo no Reino Unido chocou o mundo: foi descoberto que gangues de imigrantes paquistaneses vem perpetrado estupros coletivos em garotas de 11 a 16 anos (majoritariamente brancas e inglesas) por mais de duas décadas. Ao todo, estima-se que pelo menos 1400 garotas tenham sido abusadas na região de Rotherham, e que mais de 1000 garotas tenham sido abusadas na região de Telford. Mas calma, piora: a polícia e assistentes sociais sabiam que isso estava acontecendo e escolheram deliberadamente não fazer nada por medo de serem vistos como racistas. O escândalo em si não era novo, tanto que o inglês Tommy Robinson ficou conhecido por ter falado contra os casos dessas gangues anos antes e, por conta disso, ser preso sem devido processo legal. A partir da compra do Twitter por Elon Musk, porém, havia uma rede social onde podiam falar sobre este caso livres de censura. Logo mais viria a vitória de Trump, levando voto popular, todos os estados pêndulo, assim como maioria na câmara e no senado. Tal vitória foi tão avassaladora que causou um dano nunca antes visto nas pautas identitárias. Afinal, a realidade lhes mostrou de forma inegável que estavam “do lado errado da história”. No entanto, essa ideologia derrotada nos Estados Unidos (e que ainda permanece forte no Brasil) deixou-nos uma herança maldita: ao evitar ao máximo definir-se politicamente e disfarçar críticas a sua ideologia com ataques a minorias, a queda do identitarismo levou a um gritante retrocesso às pautas sociais. A Rainha das Ruínas A sociedade vinha aprendendo gradualmente nas últimas décadas que machismo, racismo, e homofobia eram coisas ruins; e que as identidades de pessoas trans eram válidas. Mas o abuso dessas pautas como pano de fundo para censurar adversários políticos acabou por nos retroceder décadas. Graças aos progressistas identitários, uma parcela significativa da população mundial foi ensinada a odiar minorias e a não mais ver os argumentos empáticos antes usados por essas causas. Os ativistas identitários prometiam que, ao se forçar esteticamente nos meios de mídia e espalhar sua mensagem em todos os canais de comunicação (censurando vozes dissidentes), romperiam preconceitos estruturais legados pelas gerações passadas. Eles se tornaram o consenso, enquanto todo resto seria varrido pra lata de lixo da história. Mas seu legado, ironicamente, será o de retroceder todas as pautas sociais que juravam defender. Acreditavam estar desconstruindo os erros da sociedade para construir algo melhor por cima. Entretanto, o vento forte levou embora seu castelo de areia, e agora reinam inebriados sobre as ruínas da civilização que destruíram.

A Rainha das Ruínas: O Impacto da Cultura Woke em Nossas Vidas

“O que é a cultura woke? O que é lacração?” Essas são perguntas frequentes que todo crítico ao movimento identitário ouve de seus defensores. Logo em seguida, vem a acusação de que a pessoa estaria louca, vendo a tal da “lacração” em tudo. Nas palavras de um usuário de twitter, “cultura woke não é o lance de deixar as obras mais parecidas com o que de fato se vê na vida real”?

Sinceramente? Eu queria que fosse só isso. Que a guerra cultural nada mais fosse do que um bando de adolescentes e desocupados brigando pela etnia de um personagem fictício num show de tv. Só que nós infelizmente já passamos desse ponto há  muito tempo, e o impacto que o identitarismo causou, causa, e causará nas nossas vidas está longe de ser tão negligenciável.

Afinal, existe ou não existe?

Antes de mais nada, é preciso entender o motivo por trás da confusão ao redor do identitarismo. E isso passa por entender que há dois tipos de pessoas questionando sua existência: o primeiro é formado por pessoas legitimamente leigas que ainda não conseguiram conectar os pontos; enquanto o segundo é formado por pessoas que defendem a causa identitária mas, cinicamente, fingem não entender o que ela seria. 

A tática deste segundo grupo está em sugerir que qualquer crítica ao identitarismo seja, na verdade, uma forma disfarçada de preconceito, transformando o debate numa armadilha moral onde quem questiona vira automaticamente o vilão. 

Vamos lembrar, por exemplo, de como um único texto crítico do antropólogo de esquerda Antonio Risério na Folha de São Paulo foi suficiente para que quase 200  jornalistas se pronunciassem a favor da censura dele? Ou de como a atriz de esquerda Juliana Paes, ao ser contra uma gigantesca pressão para que artistas pronunciassem politicamente, foi taxada de extrema direita e precisou ouvir um sermão ao vivo sobre os males da ditadura militar? É uma situação onde, nas palavras da escritora Kambrea Pratt, “você tem a permissão pra aceitar, mas não para discordar”.

O resultado imediato disso é bem claro: as pessoas comuns sentem que algo está errado, mas não conseguem nomear o problema. Sentem que o discurso dominante mudou, que a liberdade de expressão encolheu, e que o medo de dizer a coisa errada cresceu, mas não sabem exatamente o porquê. 

Entretanto, há sim uma causa para isso. O que é vendido como uma teoria da conspiração é na verdade um conjunto de ideias organizadas e articuladas academicamente, com intelectuais, fundamentos teóricos, métodos de ação e objetivos bem definidos. Permita-me então, caro leitor, fazer uma explicação bem explícita e acadêmica dessa ideologia que tanto tentam negar existir.

Definindo o Identitarismo

Segundo o professor Peter G. Klein numa palestra ao Instituto Mises, o identitarismo é um movimento que combina raízes filosóficas da escola de Frankfurt com a teoria crítica do pós-modernismo francês (Foucault). Seu principal foco seria relacionado à raça, gênero, sexualidade, ou identidade de gênero.

Consequentemente, o professor também define que o identitarismo prioriza as características de grupo e estruturas sociais acima do comportamento individual, vendo a verdade como posicional. O que isso significa? Significa que a experiência pessoal subjetiva de uma pessoa é mais valorizada do que dados ou argumentos lógicos. Ou seja, a verdade pouco importa. Basta que a interpretação de uma pessoa seja verossímil para ela que será vista como verdadeira; e basta que a opinião de seu adversário pareça errada para ser considerada falsa.

Por fim, o professor explicita que o identitarismo acredita na chamada teoria Whig da história. Essa teoria acredita que a história do mundo está avançando numa direção já conhecida e inevitável, mas que pode ser atrasada por críticos e negacionistas. A partir disso, os identitários acreditam estar do “lado certo da história”, aquele cujas ações serão admiradas no futuro; e vê seus inimigos como “as pessoas do lado errado da história”, aqueles atrasaram o inevitável e serão lembradas como vilãs.

Uma boa forma que vejo para descrever isso seria a crença de que avanços tecnológicos e políticos estariam interligados. Em outras palavras, que uma sociedade avançada geraria uma população progressista, e que uma sociedade que se torna progressista irá também se tornar mais avançada tecnologicamente. 

Uma análise estatística mais profunda sobre essas ideias pode ser encontrada na Revista The Economist, mas posso adiantar que os principais intelectuais por trás do movimento identitário são nomes como Bell Hooks, Kimberlé Crenshaw, Judith Butler ou, aqui no Brasil, Silvio Almeida

Tendo enfim delimitado o que é o identitarismo, podemos então entender o quão absurdamente grande e permanente é o impacto negativo que ele teve em nossa sociedade.

O Impacto do Identitarismo em Nossa Sociedade

 Sabe o que acontece quando se treina a população a se ver não como indivíduos bons ou ruins, mas sim como representantes indistinguíveis de suas etnias? Os piores índices de relações raciais em décadas! E quando se normaliza socialmente ver-se como representante da sua etnia ao invés de como indivíduo, normaliza-se isso pra todo mundo. E todo mundo é todo mundo. O que significa que agora temos também um gigantesco aumento de supremacistas brancos!

Frente a isso, a resposta dos progressistas identitários foi uma só: censura. Os últimos 10 anos foram marcados por uma grande e sistemática censura e demonização de todas as ideias de direita ou de centro. Todas as redes sociais, canais de tv, e universidades ofereciam a mesma visão de mundo; e perseguiram quem ousasse falar diferente. Vendiam a ideia de que o mundo mudou, e que o desconforto de uma pessoa com as pautas da agenda identitária nada mais seria do que a incapacidade dela de aceitar o novo normal.

E não parou por aí. Eis que essas vozes discordantes passaram a ser demitidas, a perder patrocinadores, ou tornar-se inimigos públicos por apontar algo acontecendo objetivamente. Inúmeras mentiras foram ditas sobre elas ao ponto de começarem até mesmo a receber ameaças de agressão contra suas famílias, vendo isso sendo alegremente celebrado porque cometeram um “crime de pensamento”, e que seus censuradores seriam os moralmente justos fazendo isso para o bem maior.

Entretanto, como dizia Ayn Rand, você pode ignorar a realidade, mas não as consequências de ignorar a realidade. E foi exatamente isso que aconteceu quando um gigantesco escândalo no Reino Unido chocou o mundo: foi descoberto que gangues de imigrantes paquistaneses vem perpetrado estupros coletivos em garotas de 11 a 16 anos (majoritariamente brancas e inglesas) por mais de duas décadas. Ao todo, estima-se que pelo menos 1400 garotas tenham sido abusadas na região de Rotherham, e que mais de 1000 garotas tenham sido abusadas na região de Telford. Mas calma, piora: a polícia e assistentes sociais sabiam que isso estava acontecendo e escolheram deliberadamente não fazer nada por medo de serem vistos como racistas.

O escândalo em si não era novo, tanto que o inglês Tommy Robinson ficou conhecido por ter falado contra os casos dessas gangues anos antes e, por conta disso, ser preso sem devido processo legal. A partir da compra do Twitter por Elon Musk, porém, havia uma rede social onde podiam falar sobre este caso livres de censura. 

Logo mais viria a vitória de Trump, levando voto popular, todos os estados pêndulo, assim como maioria na câmara e no senado. Tal vitória foi tão avassaladora que causou um dano nunca antes visto nas pautas identitárias. Afinal, a realidade lhes mostrou de forma inegável que estavam “do lado errado da história”. No entanto, essa ideologia derrotada nos Estados Unidos (e que ainda permanece forte no Brasil)  deixou-nos uma herança maldita: ao evitar ao máximo definir-se politicamente e disfarçar críticas a sua ideologia com ataques a minorias, a queda do identitarismo levou a um gritante retrocesso às pautas sociais. 

A Rainha das Ruínas

A sociedade vinha aprendendo gradualmente nas últimas décadas que machismo, racismo, e homofobia eram coisas ruins; e que as identidades de pessoas trans eram válidas. Mas o abuso dessas pautas como pano de fundo para censurar adversários políticos acabou por nos retroceder décadas. Graças aos progressistas identitários, uma parcela significativa da população mundial foi ensinada a odiar minorias e a não mais ver os argumentos empáticos antes usados por essas causas. 

Os ativistas identitários prometiam que, ao se forçar esteticamente nos meios de mídia  e espalhar sua mensagem em todos os canais de comunicação (censurando vozes dissidentes), romperiam preconceitos estruturais legados pelas gerações passadas. Eles se tornaram o consenso, enquanto todo resto seria varrido pra lata de lixo da história. Mas seu legado, ironicamente, será o de retroceder todas as pautas sociais que juravam defender. Acreditavam estar desconstruindo os erros da sociedade para construir algo melhor por cima. Entretanto, o vento forte levou embora seu castelo de areia, e agora reinam inebriados sobre as ruínas da civilização que destruíram.


Paulo Grego

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