A Ideologia que Devasta o Homem

Em cada esquina do debate público, a esquerda se apresenta como a guardiã da justiça social, inimiga do capitalismo e defensora de um ideal utópico de igualdade. Mas, quando observamos a conduta prática de muitos de seus representantes, a contradição é inequívoca. A mesma classe intelectual que acusa o livre mercado de exploração não hesita em usufruir de seus benefícios — desde viagens frequentes aos Estados Unidos até a adoção de estilos de vida que eles mesmos denominam como burgueses. Esse comportamento moralmente nefasto e destrutivo revela a hipocrisia de criticar o sistema do qual dependem para viver e manter o próprio prestígio e influência.

Quem diz defender os direitos humanos se coloca ao lado do regime cubano e de todas as suas barbáries; quem diz ser a favor da redistribuição de renda defende o regime norte-coreano, um sistema que já causou a morte de milhões de cidadãos por fome e mantém outros tantos abaixo da linha da pobreza em prol de uma única família e seus interesses pessoais.

É indiscutível que esquerdistas denunciam o “consumismo desenfreado”, mas são os primeiros a ostentar iPhones, roupas de grife e experiências de luxo. Ao mesmo tempo em que rejeitam a cultura ocidental, fazem de tudo para garantir bolsas em universidades americanas e europeias — instituições símbolo do que eles chamam de “hegemonia capitalista”. Assim sendo, condenam aquilo que, na prática, não estão dispostos a abandonar.

Essa desonestidade é descrita com precisão no livro A Mentalidade Esquerdista, do sociólogo austríaco Helmut Schoeck, que denuncia a inveja social e a busca por superioridade moral transformadas em armas políticas. Um fato difícil de admitir para quem defende o controle estatal absoluto é que o socialismo não sobrevive sem o mercado.

Como disse Margaret Thatcher: “Ninguém se lembraria do Bom Samaritano se ele só tivesse boas intenções. Ele possuía também dinheiro.”

O socialismo vive do mercado, mas não se vive sem dinheiro. Sem o respeito pela demanda e pela oferta, pela inovação e pela livre cooperação — os quais são os pilares do sistema capitalista — qualquer experiência planificada está fadada ao fracasso. Estes pilares são a única forma realmente justa de gerar riqueza, e é exatamente por isso que o socialismo sempre depende de ajudas externas ou de métodos alternativos para obter o que não consegue produzir: prosperidade e liberdade.

Pode-se afirmar que outro aspecto dessa hipocrisia está na relação com a liberdade. Enquanto exaltam regimes autoritários, como Cuba, China e Venezuela, se utilizam da liberdade que venezuelanos, cubanos e norte-coreanos não têm, para espalhar sua ideologia, sem abrir mão da segurança e do conforto das democracias capitalistas. O socialismo serve apenas para ser defendido à distância, nunca para ser vivido em primeira pessoa. Nenhum líder de esquerda radical se muda de vez para algum país socialista; ao contrário, preferem desfrutar da estabilidade financeira e das oportunidades oferecidas pelo sistema chamado de “opressor”, que publicamente condenam. Assim sendo, o discurso revolucionário funciona mais como um espetáculo hipócrita do que como uma convicção real.

Essa postura revela um traço ainda mais profundo: a esquerda construiu uma identidade política baseada em emoções e símbolos, não em racionalidade e resultados. É mais importante parecer ético do que agir com coerência; mais importante parecer justo do que ser justo, especialmente com aqueles de quem se discorda. Da mesma forma, é mais relevante ostentar slogans sobre justiça do que praticar sacrifícios pessoais.

O esquerdista médio se sente moralmente superior não por abrir mão dos privilégios que tanto critica, mas por denunciá-los em público. A contradição, nesse caso, não é vista como problema, mas como virtude. Quanto mais distante da realidade concreta, mais “benigna” parece sua ideologia. Um bom exemplo disso é que os defensores do aumento de impostos não querem pagar mais ao governo do seu próprio bolso, mas obrigar outros a fazê-lo, criando uma justificativa para essa obrigação baseada exclusivamente naquilo que preferem ou rejeitam. Portanto, vale ressaltar que mais do que um detalhe de incoerência, a hipocrisia esquerdista é a essência de sua prática política. É a contradição que sustenta sua narrativa — o discurso emocional e invejoso que exige sacrifício dos outros enquanto preserva privilégios pessoais. Desmascarar esse comportamento não é apenas um exercício intelectual: é um dever moral de quem acredita nos valores, nos princípios, na ética, na liberdade, na responsabilidade individual e na coerência entre palavra e ação.

Contrariamente à caricatura grotesca do “capitalismo ganancioso”, o livre mercado se sustenta sobre um alicerce moral: os direitos à vida, à propriedade, à liberdade, às trocas voluntárias e à confiança — pilares éticos e justos que protegem a integridade e a dignidade humanas, independentemente de ideologia. Esses fundamentos estão em harmonia com valores universais de justiça e moralidade.

Além disso, ao contrário do jardim autoritário, onde os esquerdistas se arrogam o direito de decidir quem merece nascer e continuar vivendo, o capitalismo, consolidado nas boas virtudes, permite que a vida floresça com base no mérito, na inovação e na cooperação pacífica.

A história nos revela que a esquerda vende o mito do Estado salvador — o Leviatã que “cura as dores, dá sentido, redenção e esperança à vida”. No entanto, entregar o monopólio da força a burocratas e militantes invariavelmente resulta em corrupção, opressão, privilégios para poucos e na perda do próprio indivíduo com suas características únicas, enquanto o povo se transforma em massa de manobra.

Casos históricos, da antiga União Soviética, Cuba, China e Venezuela, são provas vivas desse fato: promessas de igualdade transformadas em servidão, com uma elite desfrutando regalias enquanto o povo é esquecido.

O psiquiatra americano Lyle H. Rossiter Jr. descreveu a “temperança infantil” da esquerda radical. O militante emocionalmente imaturo busca um Estado que o proteja das angústias da vida adulta — como a autonomia, a incerteza e os riscos. A justiça social, nesse contexto, é um disfarce para o controle. O “pai estatal” substitui a liberdade, e o cidadão vira súdito. A coerência desaparece, a compaixão se converte em coerção, e a liberdade, em dependência.

Hoje, o extremista é aquele que defende a vida humana, que valoriza princípios como a responsabilidade individual, as virtudes, a ética, a moral, a liberdade e o direito à legítima defesa.

Por fim, o ponto central deste artigo não é apenas econômico ou político: é moral. Quando uma sociedade perde o senso de valores e despreza princípios como responsabilidade, dignidade e coerência, o resultado é a destruição humana. O socialismo não fracassa apenas por má gestão política e econômica: ele fracassa porque sua raiz é a inveja e o ressentimento, utilizando o extermínio da verdade, a distorção das palavras e a coerção como instrumentos para corroer a alma da nação e degradar o ser humano.

A verdadeira compaixão não é paternalista: não se impõe pela cobrança fiscal, não corrompe o mérito, não exige obediência como condição de sobrevivência. Os que bradam por “tolerância” e “diversidade” são os mesmos que aplaudem censura, expropriação de bens e perseguição religiosa — desde que promovidas pela ideologia aceita, na qual não há espaço para discordância. Consequentemente, esse fato não é idealismo, mas cumplicidade com o mal.

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