Uma Análise da Reeleição de Vladimir Putin

Uma análise da reeleição de Vladimir Putin

No dia 17 de março de 2024, o presidente russo, Vladimir Putin, conquistou seu quinto mandato presidencial com 87% dos votos, abrindo caminho para liderar a Rússia até pelo menos 2030. Em seu discurso de vitória, Putin afirmou que sua reeleição permitiria à Rússia prosperar, tornando-se “mais forte e mais eficaz”.

A vitória do ex – agente da antiga KGB no pleito não é lá uma grande surpresa, o presidente russo já é a figura há mais tempo no poder desde a morte do ditador Josef Stálin.

No entanto, apesar de sua vitória esmagadora, muitos líderes ocidentais criticaram as eleições, alegando que elas não foram livres nem justas. O controle rígido do Kremlin sobre o sistema político, os meios de comunicação e o processo eleitoral foi citado como a principal razão pela qual Putin não enfrentou nenhum candidato de oposição viável. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi um dos críticos mais vocais, chamando Putin de “ditador” e afirmando que ele estava “embriagado de poder”.

As reações internacionais refletem a crescente preocupação com a falta de pluralidade política na Rússia e o impacto de governos autoritários no equilíbrio global de poder. A reeleição de Putin, sem concorrência significativa, sugere que a Rússia continuará a seguir uma trajetória política dominada por um único líder e que a oposição enfrenta desafios cada vez maiores para ganhar visibilidade e influência no país.

Nas eleições presidenciais russas de 2024, havia apenas três outros candidatos nas cédulas de votação, nenhum deles representando uma ameaça real ao presidente Vladimir Putin. Todos eles tinham em comum o apoio explícito ao presidente e à guerra na Ucrânia, reforçando o controle do Kremlin sobre o cenário político russo.

As verdadeiras ameaças ao poder de Putin foram eliminadas por meio de prisões, mortes ou outros métodos, embora o Kremlin negue qualquer envolvimento. Um dos casos mais notórios foi o do adversário mais feroz de Putin, Alexei Navalny, que morreu um mês antes das eleições em uma colônia penal localizada acima do Círculo Polar Ártico. Navalny, de 47 anos, cumpria uma longa sentença por acusações como fraude, desacato à Justiça e extremismo, todas amplamente criticadas por terem motivações políticas.

A morte de Navalny e a ausência de oposição efetiva nas eleições de 2024 levantam questões preocupantes sobre a saúde da democracia na Rússia e o uso de táticas autoritárias para manter o controle. A perseguição sistemática de adversários políticos e a concentração do poder no Kremlin comprometem a integridade do processo eleitoral e minam as esperanças de um sistema político pluralista na Rússia. Esses eventos destacam a necessidade de uma vigilância constante e de pressão internacional para combater a repressão e promover valores democráticos.

Muitas pessoas proeminentes que desafiaram Putin morreram, desde políticos a jornalistas.

No ano passado, Yevgeny Prigozhin, líder do grupo mercenário privado Wagner, morreu em um acidente de avião, poucos meses após uma tentativa dramática de golpe contra o estado maior russo.

Em 2015, Boris Nemtsov, um político conhecido por sua oposição ferrenha a Putin, foi baleado e morto em uma ponte perto do Kremlin. Em 2006, a jornalista Anna Politkovskaya, que criticava abertamente a guerra na Chechênia, foi encontrada morta a tiros em Moscou.

Putin também buscou reprimir a dissidência individual entre a opinião pública. Desde 2022, após a invasão da Ucrânia, o Kremlin implementou novas leis de censura destinadas a silenciar o sentimento antigoverno, criando crimes como “desacreditar o Exército russo”, que podem resultar em até cinco anos de prisão.

O presidente afirmou que os protestos durante esta eleição “não tiveram efeito”, indicando uma política de tolerância zero para manifestações contrárias ao regime. Ele acrescentou que quaisquer “crimes” seriam punidos após a votação, sublinhando o esforço do Kremlin para consolidar o controle e evitar qualquer resistência interna. Essas ações demonstram a tentativa de Putin de manter uma narrativa de estabilidade e força, ao mesmo tempo em que reforça as medidas repressivas contra qualquer oposição ou dissidência.

Não é preciso ser uma pessoa muito inteligente para saber que embora democracias realizem eleições, nem todo regime que organize algum tipo de eleição é democrático.

Uma democracia requer uma série de elementos como a separação de poderes, o devido processo legal, e a presença de garantias e liberdades características de um regime democrático, como as liberdades de expressão, de imprensa e de religião. Mesmo as eleições devem cumprir critérios rigorosos: precisam ser livres de qualquer tipo de fraude e permitir que a oposição escolha seus candidatos e faça campanha sem restrições.

Quando não há elementos como esses, podemos afirmar categoricamente que estamos diante de uma autocracia, ou simplesmente, uma ditadura.

O que vemos na rússia é a concentração excessiva de poder nas mãos de uma única pessoa, e por mais que isso nos traga a imagem de um novo Tzar do século 21, a verdade é que a rússia não sendo governada por alguém que está ficando mais jovem, vigoroso e resiliente, ou seja, toda estabilidade do governo russo está concentrada em uma pessoa que, como todas as outras, não pode viver para sempre, e quando se for, deixará um vácuo de poder para que outros tão autoritários ou até mais, levando a uma possível instabilidade ou até mesmo conflitos pelo controle do governo.


Thiago Carvalho

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.


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