Última Ceia ou Festa dos Deuses? Entenda a Polêmica Abertura das Olimpíadas

Última Ceia ou Festa dos Deuses? Entenda a Polêmica Abertura das Olimpíadas

A abertura das olimpíadas foi um assunto discutido em todo o mundo, porém pelos motivos errados: uma paródia da última ceia feita com drag queens foi extremamente mal vista como um ataque ao cristianismo. Em resposta, argumentou-se que a cena na verdade seria do quadro “A Festa dos Deuses”, de Jan van Bijlert. A resposta para isso é na verdade simbólica, e vai muito mais a fundo.

A SIMBOLOGIA DA CENA ISOLADAMENTE

Antes de tudo, é preciso mostrar ambos os quadros:

Última Ceia
Festa dos Deuses

Ambos os quadros tem uma mesa retangular à frente de várias pessoas: a Última Ceia representando o momento da comunhão final de Cristo com seus apóstolos, enquanto A Festa dos Deuses representa a chegada de Dionísio a uma festa. E bem… se a versão das olimpíadas teve a chegada de Dionísio, deveria ser fim de jogo, certo? Ah…se fosse tão fácil assim… vamos à semiótica da cena de abertura:

Primeiro, o elefante na sala: porque o autor optaria por fazer uma Festa dos Deuses com drag queens? Qual a mensagem que ele gostaria de passar com isso? Para entender isso, basta lembrar que, diferentemente do quadro, onde Dionísio sempre esteve presente, a apresentação das Olimpíadas apresenta sua chegada após apresentar a mesa. Em outras palavras, espera-se que o espectador absorva a ideia da mesa com as drags antes da chegada de Dionísio. E isso faz toda a diferença.

A representação de Jesus negro ou Jesus LGBT é antiga e corriqueira, pois se fundamenta na ideia cristã representada pela parábola do bom samaritano: a pessoa odiada socialmente pode ser na verdade uma pessoa tão ou mais virtuosa do que aquelas ostentando virtude. Aquela pessoa que você rejeita hoje poderia ser Jesus disfarçado testando sua compaixão. 

Neste caso, uma Última Ceia incluindo drag queens de todas as raças e até mesmo uma criança drag substitui Cristo e seus apóstolos para só então Dionísio chegar e ser colocado em frente de Jesus, transformando a Última Ceia na Festa dos Deuses. 

Dessa forma, as duas coisas se tornam verdade: a presença de Dionísio faz com que a obra seja inequivocamente a Festa dos Deuses, mas a semiótica apresentada até sua chegada seja também inequivocamente a de uma paródia da Última Ceia. Com isso, relativiza-se a apresentação de uma maneira perfeita: aqueles que concordam com o desrespeito aos cristãos verão a peça como a Última Ceia, mas dirão àqueles que reclamarem disso que são burros por não terem percebido ser a Festa dos Deuses. 

Vemos isso bem com Barbara Butch, a ativista lésbica francesa que interpretou a figura central da peça, e com o comitê olímpico.

Butch se declarou mais tarde como “O Jesus Olímpico” e chegou a postar em seu instagram uma imagem (agora apagada) da paródia drag da Última Ceia acima de uma imagem da pintura original de Da Vinci com o comentário: “Ah sim! Ah sim! O novo testamento gay!” 

A organizadora Anne Descamps, por sua vez, soltou o seguinte pedido de desculpas em nome do comitê olímpico:

“Claramente nunca houve a intenção de mostrar desrespeito a qualquer grupo religioso. Pelo contrário, acho que (com) Thomas Jolly, realmente tentamos celebrar a tolerância da comunidade” (…) “Olhando para o resultado das pesquisas que compartilhamos, acreditamos que essa ambição foi alcançada. Se as pessoas se ofenderam, estamos, é claro, muito, muito arrependidos.”

Anne Descamps

Note aqui como o pedido de desculpas também tem uma duplicidade e, na prática, não é um pedido de desculpas. O comitê olímpico celebra o que fez como correto para só então dizer que, se as pessoas se ofenderam, ele está arrependido. Em outras palavras, eles não se arrependem de terem feito o que fizeram, mas “sentem muito” que aquelas pessoas que desrespeitaram não tenham gostado.

Mas não para por ai. Tem uma coisa que poucas pessoas estão comentando sobre a abertura das olimpíadas: ela continua depois dessa cena.

A SIMBOLOGIA DE UMA NOVA EUROPA

O resto da abertura celebra valores identitários, com cantores drags, trisais, exaltação de nomes feministas, e uma cena final muito clara: um homem francês branco e muito idoso leva, numa cadeira de rodas, a tocha olímpica para um casal de imigrantes pardos. Esse casal então continua o caminho e acende a grande tocha que dá início às olimpíadas. A mensagem é clara: não é apenas o início dos jogos olímpicos, mas também de uma nova Europa. A Europa do Futuro. A Europa do Imigrante.

Quando combinada à essa mensagem, percebe-se o desrespeito ao cristianismo visto na paródia da Última Ceia como intencional e parte da apresentação como um todo: denunciam-se os cristãos como intolerantes, racistas e homofóbicos, então substituindo a imagem de Jesus pela imagem de Dionísio, um Deus pagão das festas; do vinho; dos excessos; e da insanidade. O deus de perder os sentidos de tanto beber e transar numa festa, cujo culto religioso ficou conhecido por suas orgias noturnas.

Engana-se então quem pensa que essa seja uma missa de magia negra ou um ritual satânico. É muito pior do que isso, pois o próprio conceito do demônio pressupõe uma negação dentro da moral cristã. O que se afirmou para os franceses e cristãos na celebração dessas olimpíadas como um todo foi de que seus costumes, valores, cultura, e religião não significam mais nada. Eles como povo europeu serão inevitavelmente substituídos pelos imigrantes que agora chegam, e que não se assimilaram aos antigos valores. O mundo mudou. E esse novo mundo irá se impor quer eles queiram ou não, pois eles como povo foram substituídos.

Mas claro: esses imigrantes ainda estão muito longe das posições de poder capazes de promover tal mudança. É um trabalho, acima de tudo, da elite europeia. Uma elite que não mais se vê na definição de civilização ocidental como sendo a união entre filosofia grega, direito romano, e religião judaico-cristã. Estes três foram respectivamente substituídos na mentalidade deles pelo identitarismo (cultura woke), eco ativismo, e multiculturalismo. A abertura das olimpíadas como um todo, portanto, se impõe como a celebração do início de uma nova civilização.

O MUNDO MUDOU, MAS NÃO PRA MELHOR

A abertura dos jogos já começou mal, com pelo menos um anunciante tendo tirado seus anúncios imediatamente em resposta à abertura. Mas a verdade é que a situação de Paris para os jogos olímpicos está mal. O número de assaltos disparou para números recorde, com até mesmo o nosso querido Zico tendo sido roubado.

As condições da vila olímpica não estão muito melhores, e muitos dos atletas estão preferindo dividir o aluguel de quartos do que se hospedar nos alojamentos olímpicos. Pra piorar, 60% do cardápio foi feito vegano para reduzir a pegada de carbono, mas essas refeições não eram suficientes para que os atletas pudessem bater suas metas calóricas e as delegações precisaram se virar para conseguir mais comida de última hora.

Isso para não falar das equipes de skate tendo sido largadas por 3 horas num sol escaldante à espera de um ônibus que nunca veio e um triatleta vomitando ao vivo por ter nadado na poluição do rio Sena, que supostamente teria sido despoluído a tempo para a competição.

A realidade se impõe também para os organizadores. A nova civilização que se inicia na celebração da tocha olímpica já começa tendo de varrer problemas debaixo do tapete. Problemas esses que são consequências das ações de sua ideologia. Entregam um mundo que para as telas de tv é utópico e inclusivo, mas que para aqueles que o vivem é distópico e intolerante. 

Talvez o que a tocha olímpica acendeu não tenha sido o início de uma nova civilização, mas sim a degradação do Ocidente e o fim da própria Europa como civilização. Assim como a Festa dos Deuses tenta parecer o surgimento de uma coisa nova e inclusiva, mas acaba sendo nada mais do que uma paródia intolerante da Última Ceia.


Paulo Grego

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.


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