Se fosse apenas para dar uma explicação rápida, diríamos que somos um instituto focado em conhecer autoras que defendem a liberdade e criar um grande ambiente para o desenvolvimento de hard e soft skills dos membros. Mas essa explicação é incompleta, pois faz com que surjam inúmeras outras perguntas: “o Damas é um grupo só de mulheres?”, “o Damas é um grupo feminista?”, e por aí vai.
Para realmente entender o Damas de Ferro, porém, a verdadeira pergunta a se fazer é uma só: por que há um número tão baixo de autoras liberais e libertárias conhecidas no Brasil? Esta inquietação foi o que levou uma estudante de Ribeirão Preto a criar um grupo de estudos sobre autoras, que cresceria organicamente ao longo dos anos até se tornar um Instituto com sua própria equipe de tradução, mais de 200 textos publicados, assim como um podcast semanal.
Nosso foco, portanto, não está em fazer um espaço feminino dentro do meio liberal, ou em militar por causas feministas, mas em trazer para o debate público, político e acadêmico as ideias de autoras de excelência. E nisso somos referência, tendo traduzido e disponibilizado gratuitamente os livros de Deirdre McCloskey, Wanjiru Njoya, Nadine Strossen e Rose Wilder Lane.
No entanto, é importante enfatizar que nenhuma dessas autoras foi traduzida e estudada apenas por ser mulher. Entendemos a responsabilidade de nosso pioneirismo e buscamos trazer apenas autoras de excelência cujas obras têm a acrescentar no debate público. Afinal, por que nos apegarmos exclusivamente a John Stuart Mill para defender a liberdade de expressão, por exemplo, quando também podemos fazer o mesmo com Nadine Strossen?
E é por este compromisso com a excelência que o Damas aceita tanto homens quanto mulheres: abraçamos a excelência sem distinção de gênero, focando no conteúdo que cada indivíduo traz. Por que negar espaço ao universitário baiano pardo que tem dois estágios trabalhando com as atividades de preparo do campo e plantio se ele ainda encontra tempo para traduzir textos de autoras? Ou ao paulista branco que conseguiu escrever um texto sobre Eufrásia Teixeira Leite quatro meses antes de esse assunto viralizar? Texto esse, diga-se de passagem, revisado por uma mulher com menos de 30% da visão, mas que se tornou uma advogada de sucesso fluente em inglês e espanhol como autodidata. E claro, tudo publicado em um site criado do zero por uma caloura de veterinária sem experiência anterior.
Nossa equipe é verdadeiramente diversa, representando todas as regiões do Brasil: da sulista loira de olhos azuis ao homem indígena da Amazônia; do engenheiro civil de Goiânia à talentosa fotógrafa carioca de Nova Iguaçu. Essa diversidade não foi forçada, mas sim alcançada organicamente porque, ao priorizarmos a excelência ao invés da identidade, conseguimos formar uma equipe que é tanto diversa quanto excelente.
Nosso perfil é semelhante ao de Margaret Thatcher: uma senhora séria, estudiosa, resiliente e visionária; cujo exemplo de excelência ilumina o caminho para que outras vozes femininas, frequentemente subestimadas e sub-representadas, fossem reconhecidas. Inspirados pela Dama de Ferro original, nosso compromisso com a liberdade e nossa busca incessante pela excelência têm como propósito apresentar autoras defensoras da liberdade e garantir que suas ideias ecoem por gerações no debate público brasileiro, iluminando o caminho pela frente com a chama fervorosa da liberdade.
Alô, Damas. Que maravilha descobrir vocês no Instagram! Por trás de todo bom homem está uma mulher escondida . . . e esquecida, como a minha mãe e minhas avós. Exemplo: em Araucária, Paraná, encrontram-se duas ruas que levam o nome do meu bisavô e avô maternos (“por sua reconhecida retidão moral”, conforme o documento oficial da cidade). Infelizemente, minha avó, que tanto trabalhou e sofreu, não está mencionada. Isso deve ser corrigido.
Damas de Ferro. Tudo bem, mas espero que esse ferro seja maleável, pois nada é mais cativante do que a sensibilidade feminina.
Quem é esse intrometido que vos fala? José Stelle, co-fundador do Instituto Liberal em 1983, tradutor/editor das cinco principais obras políticas de Hayek, e o homem que instigou na época a tradução de “Atlas Shrugged”, de Ayn Rand, que no ano seguinte, sem que ele soubesse, estava sendo levada adiante em Porto Alegre pelo seu futuro amigo Winston Ling.
O título inicial foi “Quem é John Galt?”. Mais tarde, para a segunda edição corrigida, sugeri, via Maregaret Tse, do Instituto Liberdade (um filho do IL do Rio), que o título deveria ser algo mais potente, como “A revolta de Atlas.” A recomendação foi aceita. Penso também que ‘A nascente” poderia ser reeditada com o título “A fonte da vida”, embora o ambiente religioso possa não ser propício a essa mudança.
Nota. No meu livro “The China Lectures”, em português “O estado de direito: constitucionalismo, democracia e o future da nação” (São Paulo: Chiado, 2019) acrescento, no capítulo 1, a definição de Ayn Rand em seu ensaio ‘A naturezad do governo’ (“A virtude do egoísmo”). Convido as damas a lerem e fazerem propaganda também de “Por uma nova Carta: mensagen à nação brasileira” (Armada, 2022).
Tomo a liberdade de considerar as Damas de minhas novas amigas. Moro nos Estados Unidos, mas espero visitar o Brasil até o final do ano.
Um abraço brasileiro para vocês.
José Stelle, DPhil
Sr.José Stelle, sou Stephanie Gonçalves, fundadora e diretora executiva do Damas de Ferro, é de grande importância receber suas palavras sobre o instituto.
Buscamos resgatar essas pioneiras da liberdade e levar suas histórias como exemplos de perseverança e conhecimento acerca dos valores que tanto prezamos, para isso, criamos diversos projetos (que estão em andamento) e integramos membros comprometidos com nossos pilares.
Obrigada por compartilhar conosco um pouco sobre esses títulos e processos que participou. Temos imenso respeito pelas tradições e pelos que vieram antes de nós, neste ínterim, valorizamos muito toda a contribuição que o senhor e o IL tiveram para a história do que estudamos hoje.
É uma honra responder-lhe e em breve conversaremos mais, nosso querido amigo.