O dilúvio de informações falsas afoga a paciência de quem realmente quer se informar. O termo pós-verdade foi escolhido em 2016 pelo oxford dictionary como palavra do ano, por ter seu uso aumentado em 2000% em relação ao ano anterior, e hoje, 7 anos depois do início desta variação, ainda estamos passando por este problema, que na realidade, parece estar pior.
Uma das grandes mudanças que tivemos no período é o tempo que dedicamos nossa atenção aos celulares. Antes do smartphone e do notebook, o nosso tempo de atenção para uma tela era dedicado a uma TV. A diferença é que notebooks e, principalmente, celulares, são dispositivos individuais, que permitem saber qual usuário está logado naquele momento. Portanto, a informação mostrada passa a ser extremamente personalizada. Segundo o Our World in Data, o tempo de tela por adulto em média subiu de 2,7h para 6,3h por dia no período de 10 anos, de 2008 a 2018, tornado ainda mais relevante apresentar conteúdos personalizados.
Quem é o culpado?
Neste ponto, muitos apontaram os dedos para as redes sociais, que estão dando informações falsas para as pessoas. Em uma pequena parte sim, porém, é necessário lembrar que as redes sociais estão simplesmente entregando exatamente aquilo que gera mais atenção do usuário. As redes sociais nos entregam aquilo que pedimos a ela. Sim, nós, os consumidores, procuramos e gostamos de receber as informações enviesadas, pois damos mais atenção a elas. Daniel Kahneman em seu livro Rápido e Devagar apresenta mais de 180 vieses e um deles é o viés de confirmação. Se trata do comportamento de gostar de receber informações que confirmam o que pensamos, gostamos e paramos para ouvir algo que nos diz o que pensamos que é verdade. Uma pessoa que cai em um comportamento enviesado, por definição, não percebe, se soubesse, não cairia. Sendo assim, quem solicitou o conteúdo enviesado em primeiro lugar foi o consumidor.
Solução
Para solucionar o viés, é importante que outra pessoa indique para você que o viés está ocorrendo. Ou seja, precisamos de pessoas com crenças e pensamentos diferentes, pessoas que discordam de nós, uma celebração à liberdade de expressão, apreciar o direito do outro de dizer aquilo que não nos apetece. Que pode ser resumida na frase escrita por Evelyn Beatrice Hall em 1906 na sua obra “The Friends of Voltaire” com o pseudónimo de S. G. Tallentyre, mas atribuída erroneamente a Voltaire: “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante o teu direito de dizê-la.” Ainda digo mais, não concordo, mas vou ouvir, pois posso passar a concordar com algo. Então sim, ouça pessoas de fora da bolha liberal de vez em quando, pode ser que sejam apontados vieses importantes de serem identificados. Na minha experiência, posso afirmar que é bem mais agradável quando a pessoa também ouve alguma ideia e também reflete sobre o que eu disse. Por outro lado, o que realmente engrandece é ter a humildade de ouvir, refletir de forma crítica, compreender e analisar. Encontre pessoas que pensem diferente de você, elas podem estar erradas em muitas coisas, mas no que estiverem corretas, serão conclusões que seria muito difícil chegar sozinho.
*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.