Polarização é a corrupção da política, não consequência dela
Introdução
Indivíduos estão sempre agindo com o intuito de sair de uma situação de desconforto para uma situação de menos desconforto ou maior conforto, assim estipula Ludwig Von Mises em sua obra “Ação Humana”.
Tomando como base o postulado do professor Mises, deduz-se que grupos formados por diversos indivíduos invariavelmente irão agir desejando sair de uma situação desconfortável para uma menos desconfortável.
E é exatamente isso que iremos explorar no texto de hoje, para tentarmos entender o porquê a nossa sociedade encontra-se tão polarizada e o porquê isso não corresponde à política de fato.
O que é política?
Seguindo a linha proposta, podemos compreender que quando os indivíduos encontram-se em coletivos e um desses coletivos sendo a própria sociedade, cada um procura melhorar a própria situação ao seu redor, a política é regida exatamente acima deste paradigma, sendo esta a tentativa dos indivíduos de solucionarem os seus conflitos entre si para buscarem a melhor alternativa para todos.
Portanto, antes de pensarmos em congresso ou estado, precisamos compreender que a sociedade, por si só, envolve política, onde os indivíduos sempre irão estar tentando achar uma forma de solucionar os conflitos decorrentes da vida em sociedade.
Logo, infere-se que a política não é um mero jogo de interesses ou até mesmo uma agenda ideológica, antes de tudo isso, a política é a própria vida dentro da sociedade, portanto precisamos compreender que a política vai muito além de Brasília.
Por que indivíduos se dividem por política?
A excelente exposição do economista Thomas Sowell acerca deste tema em seu livro “Conflito de Visões. Origens Ideológicas das Lutas Políticas“ elucida de forma muito clara a questão acerca do porquê as pessoas se dividem por política.
De forma resumida, Sowell aborda que a sociedade de modo geral divide-se em duas correntes de pensamento, que dentre muitas coisas, divergem principalmente acerca da natureza dos indivíduos, o autor denomina as visões como: “Visão Restrita” e “Visão Irrestrita”
Indivíduos que possuem a visão restrita têm em vista que o ser humano é falho por natureza, portanto não importa o arranjo social, o ser humano nunca será perfeito.
Em outras palavras, adeptos da visão restrita rejeitam utopias, por acreditar que os seres humanos não são capazes de serem bons por natureza, aqueles que compartilham essa visão acreditam que a melhor forma de amenizar os problemas é através de incentivos com prudência política. Essa ideia é muito bem exposta por Adam Smith, onde por meio do mercado os indivíduos, mesmo agindo em nome dos próprios interesses, são incentivados à cooperação, por essa ser mais vantajosa do que o contrário.
“Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que ele tem pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor-próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter.”
Adam Smith.
Contrária à visão restrita, temos a visão irrestrita. Aqueles que partem dessa visão enxergam o mundo como um problema de gestão, não de natureza, para eles o ser humano é ilimitado, basta ter o arranjo social adequado.
Em outras palavras, adeptos dessa visão acreditam que mesmo que o ser humano seja falho, essas falhas são corrigíveis e solucionáveis, portanto basta mexer as peças corretas para termos uma sociedade perfeita ou muito próxima disso, o problema para os irrestritos não está na própria natureza falível do homem, mas sim na corrupção das instituições sociais.
“O ser humano nasce bom, a sociedade o corrompe”
Jean-Jacques Rousseau
Evidentemente a obra de Sowell vai muito além da rasa exposição aqui dada, porém entender as diferentes perspectivas dos indivíduos vai nos ajudar a compreender a razão de tanta polarização.
O problema da identidade nacional
Essas diferentes perspectivas vão obviamente resultar em políticas de estado divergentes acerca de temas como: descriminalização das drogas, legalização do aborto, direito à armas, liberdade economica e etc.
Acontece que as divergências entre indivíduos já é uma consequência natural da política, não existe política se todos os indivíduos ou pensam igual ou concordam em tudo, mas divergência não é a mesma coisa que polarização.
E é aí que mora o problema, o nosso país não possui uma identidade nacional própria, portanto, acordos tornam-se inviáveis dentro da nação acerca da política, afinal os indivíduos não enxergam o Brasil como nação, portanto pensam mais em sua agenda ideológica do que no país propriamente dito.
Os brasileiros, por não conseguirem enxergar os seus semelhantes como iguais, não conseguem aceitar suas divergências, isso leva ao festival de acusações de “Facista!” e “Comunista” vindos tanto de um lado quanto de outro do espectro político, precisamos compreender que a política não é feita através do ódio ao diferente, mas ela surge por causa das diferenças, o objetivo da política é a busca do acordo entre os diferentes para uma situação de menor conforto para uma de maior conforto.
Se a polarização é o problema, a união e a solução
A questão aqui não é mero patriotismo, precisamos entender que estamos todos no mesmo barco, deveríamos estar todos buscando os melhores ventos e não brigando por quem controla o leme.
O Brasil não possui um objetivo para a nação, nós não sentimos orgulho de sermos brasileiros, nós não temos ideia do que nós representamos ou somos no mundo, e quando os diferentes não se entendem como parte do mesmo povo, as divergências tornam-se muito maiores do que as convergências.
Países como Alemanha, diante da ameaça Russa após a invasão da Ucrânia, decidiram deixar as divergências de lado e buscaram achar a melhor alternativa que amenizasse o problema enfrentado por eles diante dessa situação, percebe-se que isso é a real política, quando todos entendem que existe algo muito maior do que suas convicções ideológicas.
Conclusão
Precisamos compreender que somos um povo único, temos diferenças, mas também temos semelhanças, enquanto nós nos apegarmos àquilo que nos difere, jamais conseguiremos ver aquilo que nos une.
O Brasil precisa urgentemente de uma cultura brasileira, do reconhecimento de que nós estamos no mesmo barco, sem isso estaremos fadados a polarização.
Texto por Gabriel Barros
Arte por Tailize Scheffer