O Que é Moralidade?

“Não é possível uma pessoa se tornar extremamente rica de um forma honesta.”

“Prefiro apostar que há sempre algo de ruim nas pessoas.”

“O ser humano é mau em sua essência. É no mínimo inocente quem disser o contrário.”

“A perfeição não existe. Somos todos corruptíveis em algum grau.”

“Todo ser humano tem seu preço. Não restam dúvidas que se você valoriza sua mãe e ela estiver em perigo de vida, você se corrompe por ela.”

“Tal do ser humano… não tem jeito. É um ser depravado por natureza.”

“Não existe certo e errado.”

“As convicções são as inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras!”

“A felicidade é ‘subjetiva’!”

Quem nunca ouviu alguma dessas frases? Eu já as ouvi. Algumas delas, com certa frequência, o que me faz concluir, de maneira independente, que Rand estava certa: a grande maioria das pessoas não sabem o que é moralidade.

Se o leitor está se questionando o que há de errado com essas frases, fique comigo até o final desse artigo pois me proponho analisa-las sob uma ótica objetivista e integrando-o ao meu contexto de conhecimento.

Para fins didáticos, pretendo inicialmente explorar a primeira frase na tentativa de responder as seguintes perguntas: (i) por que tantas pessoas acreditam nesse tipo de afirmação? (ii) Elas estão certas? Para responder a essas perguntas, trago alguns trechos de A Revolta de Atlas e de A Nascente, juntamente com alguns exemplos concretos que apoiem minhas análises.

Pois bem, certa vez uma colega de trabalho comentou justamente a referida frase: “Não é possível uma pessoa se tornar extremamente rica de uma forma honesta.” Ela disse isso com um certo pesar e desesperança. Na época, lembrei da história de Howard Roark e Peter Keating, de A Nascente.

Roark é um jovem arquiteto independente, que recusa comprometer sua visão de arquitetura em função dos outros (mas como pode? O mercado não é soberano? Eis uma pauta para um próximo artigo), mesmo quando isso resulta em dificuldades pessoais e profissionais. Ao contrário de Roark, Keating, que também é arquiteto, busca sucesso e reconhecimento seguindo normas estabelecidas e agradando aqueles em posições de poder. Roark se dedica a projetar edifícios que são inovadores e funcionais, rejeitando opiniões tradicionais e convencionais, sem propósito. Por outro lado, Keating depende fortemente da aprovação dos outros e está constantemente em busca de validação externa para seu trabalho e suas decisões. Apesar dos inúmeros obstáculos e rejeições que enfrenta no curto prazo, Roark permanece firme em suas convicções e continua a perseguir sua visão com determinação implacável, alavancando-se profissionalmente no logo prazo. Em contraste, apesar de alcançar sucesso material e social no curto prazo, Keating sente uma falta de realização pessoal e um vazio interno no longo prazo, resultante de sua incapacidade de seguir suas verdadeiras paixões e convicções.

Assim, em resposta ao comentário da minha colega, e frente ao exposto acima, chamei sua atenção para o fato de que pessoas como aquelas que ela se referia, acabavam infelizes (da mesma forma que Keating em A Nascente).

Nesse momento, um outro colega interviu na conversa e disse o seguinte: “Mas Eduardo, a felicidade é ‘subjetiva’!” (Ainda nesse artigo explicarei ao leitor a razão de eu ter deixado o termo subjetiva em aspas simples), e complementou que o que é felicidade para uns, não é para outros, e, portanto, um indivíduo que faz fortuna por vias ilegais, corruptas e fraudulentas, pode muito bem ser feliz com o dinheiro que ganhou.

É quase inacreditável que alguém ache que o dinheiro fruto do roubo tem o mesmo valor que o dinheiro obtido honestamente, mas de qualquer modo, cito o famoso Francisco D’Anconia’s Money Speech, de A Revolta de Atlas:

“O seu dinheiro provém da fraude? Da exploração dos vícios e da estupidez humana? O senhor o obteve servindo aos insensatos, na esperança de que lhe dessem mais do que sua capacidade merece? Baixando seus padrões de exigência? Fazendo um trabalho que o senhor despreza para compradores que não respeita? Nesse caso, o seu dinheiro não lhe dará um momento sequer de felicidade.”

Nesse momento o leitor deve estar se perguntando: Ok, quem me garante que D’Anconia está certo?

Jordan Belfort, de O Lobo de Wall Street, alcançou grande sucesso material e financeiro como corretor de ações e fundador da Stratton Oakmont. Ele viveu um estilo de vida extravagante, caracterizado por festas opulentas, riqueza abundante e excessos. Ficou preso por 22 meses e obrigado a pagar mais de $110 milhões em restituição às vítimas de suas fraudes. Agora, experimente ficar preso por um dia que seja e me diga se a experiência foi análoga à felicidade.

Muito provavelmente, você já ouviu falar dele. Afinal, é um exemplo clássico de “sucesso” e empreendedorismo (triste, mas esse é o exemplo de sucesso que muitas pessoas tem).

Ou ainda, Pablo Escobar, um dos mais poderosos e ricos traficantes de drogas da história, morreu em 2 de dezembro de 1993, aos 44 anos, em um tiroteio com a polícia em Medellín, Colômbia (morrer não me parece ser algo muito feliz também). Escobar investiu em projetos de caridade e infraestrutura em Medellín, como a construção de bairros para os pobres e instalações esportivas. Era conhecido por seu carisma e capacidade de liderança, além de um exemplo de filantrópico, o que fez conquistar popularidade entre os pobres.

Por fim, Frank Sheeran, o personagem central do filme “O Irlandês,” tornou-se um figura influente na máfia italiana, acumulando uma boa quantidade de poder e riqueza através de suas atividades criminosas e por sua lealdade à máfia. O filme termina com Sheeran envelhecendo e sendo deixado em um asilo, refletindo uma vida repleta de arrependimento e perda.

– Ahhh mas veja bem, ele era querido por seus amigos, em função da sua lealdade! Quantas pessoas não são infelizes por não terem amigos?!

– Foi amado por um milhão de amigos, mas odiado e deixado em um asilo por seu bem maior, sua filha. A isso denominamos: infelicidade.

Agora reparem, todos esses exemplos nos fazem crer que se você é extremamente rico, é provável que tenha sido por vias ilegais. E então, chasan! Formou-se um estereótipo no imaginário popular.

Mas não é só isso, resta claro que embora tenham sido indivíduos extremamente ricos, foram altamente infelizes.

– Mas como? A felicidade é subjetiva!

Agora sim, podemos explorar o termo “subjetivo”. A maioria das pessoas condensam conceitos distintos e uma coisa só. É como um empacotador de um supermercado que embala pão fresquinho com carne congelada. São duas coisas que definitivamente não deveriam ter sido guardadas juntas, mas é assim como a maioria das pessoas fazem ao se tratar de conceitos.

Subjetivo é diferente de Subjetivismo. Subjetivo é tudo aquilo que se refere a um sujeito, o que de fato, muda de indivíduo para indivíduo. Mas subjetivismo não é isso. É uma perspectiva de que o mundo é, o que o sujeito acha que é, independente dos fatos da realidade. (Essa é a perspectiva da feminista que acredita que identidade de gênero é uma construção social, pois mulher, é um conceito subjetivo, dizem elas).

Mas assim como a planta demanda condições específicas que favoreçam sua vida (solo fértil, água, sol, etc.), o ser humano demanda condições específicas que possam também favorecer a sua, dado a sua natureza enquanto homem racional, dotado de uma faculdade mental denominada razão.

No entanto, o homem é racional por escolha. Ele pode escolher evadir-se, ou seja, não pensar, porém, isso é contra a sua natureza.

O exercício da razão não é um processo automático. Pensar não é automático. Nesse sentido, cito Henry Ford.

“Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez por isso tão poucos se dediquem a ele.” HENRY FORD, empresário americano (1863-1947)

E assim, o dinheiro obtido não como produto da razão humana, (isto é, pelo esforço de pensamento), mas que é obtido por vias facilitadas, atalhos e meios ilegais, trará apenas infelicidade, pois é contra a sua natureza enquanto ser racional.

Um homem racional entende a natureza do dinheiro, ou seja, que somente a riqueza criada é o que lhe trará felicidade, e assim, sua riqueza se torna um indicador da sua felicidade, diferente do subjetivista, que ignora esse fato.

Para fins didáticos, imagine dois homens, um comprou sua terras e nelas construiu um grande empreendimento residencial que lhe rendeu um bom dinheiro, o outro, cheio de inveja, reclama de que as terras do primeiro deveriam ter sido suas, pois ele é quem mais precisa, visto que o primeiro tem várias outras propriedades. O homem que reivindica as terras, no entanto, conhece apenas o modo artesanal de agricultura, que talvez fizesse mais sentido para uma área extensa de terras, o que não é o caso. Em um cenário hipotético onde o primeiro não constrói o empreendimento, mas cede as terras ao segundo, o resultado financeiro sobre o terreno seria significativamente menor.

Nesse cenário, ainda que o segundo homem tenha ganhado as terras, reclama por que a vida é injusta e de não conseguir o resultado financeiro que outros homens (como o primeiro) conseguiriam. Este homem não entendeu a natureza do dinheiro, e, portanto, não conheceu os meios adequados para obtê-lo. Veja que a situação material do segundo homem melhorou no segundo cenário se comparado ao primeiro, pois afinal ele ganhou terras, mas não houve ganho espiritual, ou seja, não se tornou mais feliz, pelo contrário, sua incompetência foi escancarada a si próprio.


Eduardo França

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.


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