O liberalismo da Escola de Chicago x Escola Austríaca

O liberalismo da Escola de Chicago x Escola Austríaca

Afinal, qual é a principal diferença entre a Escola de Chicago e a Escola Austríaca de economia?

Ambas são a favor do laissez-faire, do livre mercado, da redução do estado, da não intervenção na economia e baixa ou nenhuma regulação nos negócios e diminuição dos impostos. Contudo, a Escola Austríaca é considerada uma escola heterodoxa, ficando de fora de congressos acadêmicos por exemplo, enquanto que a Escola de Chicago, termo cunhado por ser defendida por professores da Universidade de Chicago, cujo departamento de economia é um dos mais importantes do mundo, onde até 2018 recebeu 13 Prêmios Nobel de Ciências Econômicas. Afinal qual é a linha que separa pensamentos tão parecidos? 

A Escola Austríaca tem sua origem com Carl Menger, que em 1871 publicou o livro Grundsätze (Princípios da Economia). Sendo um dos primeiros a tratar de utilidade marginal. Esta lei explica que quanto maior a quantidade de um bem, a utilidade marginal decresce e a utilidade total cresce, ou seja, um segundo carro na casa de alguém ajuda, porém não é tão essencial quanto o primeiro. Outra contribuição deste autor é a abordagem sobre o preço, onde a formação deste não é um processo harmônico e sem conflito, na realidade o preço não é determinado, está dentro de limites amplos e o preço é determinado pela barganha entre os agentes. É fundamental entender o contexto de Menger, anteriormente, para Adam Smith, em A Riqueza das Nações (1776), o valor intrínseco de um bem seria exatamente o trabalho necessário para adquirir aquele bem. Por mais certo que Smith estivesse nessa afirmação, verifica-se que Smith se propõe a encontrar um valor exato e Menger, já propõe uma margem onde o preço pode flutuar. Portanto, Carl Menger, fez contribuições para as escolas de pensamento econômico atuais. 

A grande diferença entre a Escola Austríaca e a Escola de Chicago está no dinheiro. Hayek, Economista Austríaco, foi professor na Universidade de Chicago e defende que o dinheiro, a lei e a língua são paradigmas da ordem espontânea. Porém, embora a lei e a língua são permitidas de evoluir, o dinheiro, parou de evoluir, desde que o governo passou a tomar conta da emissão de moeda, diferentemente de antes, que haviam diversas moedas que competiam entre si, onde esta competição gerava evolução, conforme sua obra “A Desestatização do Dinheiro”. Portanto, este é o exato pensamento que coloca o Hayek dentre os economistas austríacos. O fato de ele propor que o dinheiro deve ser desestatizado, é considerado pela academia como um pensamento que não pode ser comprovado, ou seja, não há como fazer estudo acadêmico que determine que dinheiro não estatal seja melhor, por não ter como comparar, testar ou calcular. Já para a Escola Austríaca, não faz sentido querer privatizar tudo e não querer privatizar o dinheiro. Afinal o mercado é mais eficiente em tudo, por que não seria na criação de uma moeda?

Hayek propôs que o dinheiro deve ser imparável. Muitos consideram que essa afirmação foi a elaboração teórica da moeda ideal, muitos da economia austríaca consideram ainda que o bitcoin, por ser imparável, é o candidato ideal para dinheiro do mundo. Afinal, tem a característica de ser a alternativa para quem quer sair de países como Venezuela e Argentina. Onde a inflação é descontrolada e o câmbio limitado e fortemente regulado pelo governo. Nesses locais, o governo não consegue impedir seu uso. Em meados do século XX a Escola Austríaca passa a ser considerada Heterodoxa, de modo que atualmente contribui pouco para o pensamento econômico dominante. 

Portanto a Escola de Chicago foi muito influenciada pela Escola Austríaca, absorvendo a lógica do pensamento de liberdade e ordem espontânea, mas deixando de lado a desestatização do dinheiro e também o método de praxeologia de Mises, que propunha a previsibilidade da ação humana por características a priori. Ou seja, dadas as condições iniciais seria possível prever o comportamento econômico dos agentes.

Deste modo, a Escola de Chicago se mantém ortodoxa enquanto a Escola Austríaca é heterodoxa. Por defender o fim do controle do dinheiro por parte do governo, a Escola Austríaca é largamente defendida por libertários, enquanto que os liberais normalmente adotam a escola de Chicago ou outra escola ortodoxa que propõe diminuir o estado.


5 comentários em “O liberalismo da Escola de Chicago x Escola Austríaca”

  1. Não entendo muito, mas…

    […] não há como fazer estudo acadêmico que determine que dinheiro não estatal seja melhor, por não ter como comparar, testar ou calcular.

    Pensei nas criptomoedas. Não teria como fazer um estudo?

    1. Para fazer um estudo acadêmico com cripto como substituto do dinheiro seria necessário primeiro que a criptomoeda atendesse os princípios como: meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. Destes, o mais difícil para a cripto seria a unidade de conta. É plenamente possível dizer que um celular custa 500 dólares ou 3mil reais, é relativamente fácil de entender, por que o valor dessas moedas tem estabilidade o suficiente para servir de “régua” para medir o valor de todas as outras coisas. Porém, se o valor fica instável, por exemplo com muita inflação, é natural perdermos a referência se algo esta barato ou caro, pois agora tudo precisa ser recalculado.

      Como as criptomoedas em geral não tem essa característica de ser estável e as que são estáveis são centralizadas e muitas vezes lastreadas em moeda estatal, estamos relativamente longe do futuro onde alguma criptomoeda poderá ser levada em conta como uma possibildiade de substituir uma moeda por escolas de economia ortodoxas.

      Porém, vale lembrar que, a cada ano que passa, as criptomoedas ganham mais essas características. O Bitcoin por exemplo, a cada ciclo de bull market fica menos volátil, cada vez mais pessoas conhecem seu valor e soluções são criadas para que ganhe praticidade na troca. É plausível que no futuro ele seja cogitado como moeda, eu inclusive sou entusiasta da tecnologia.

  2. Por que a escola de Chicago não é a favor do fim do controle do dinheiro por parte do Estado?

    A primeira coisa que me a mente foi o princípio da prudência do Kirk!

    1. Principalmente por que a Escola de Chicago é uma escola ortodoxa de economia. Isso significa que ela segue princípios que regem a “escola mainstream de economia” que é quem publica artigo em grandes revistas e participa do debate acadêmico desses ambientes.

      Exemplos de escola Heterodoxas são: Teoria Monetária Moderna e Escola Austríaca.

      A primeira diz que o governo pode se endividar indefinidamente e crescer eternamente sua dívida sem pagar desde que faça bons investimentos pra sempre, portanto, procura meios de justificar o déficit público permanente. Já a segunda diz que o governo nem deveria existir.

      Como não tem no mundo locais que, atualmente, funcionem com essas regras, seja um governo que assumidamente diz que nunca pagará suas dívidas ou um local totalmente sem governo que esteja estável, fica difícil para se tornarem referências em estudos academicos ortodoxos.

      Portanto, para a Escola de Chicago, se não houve uma vasta análise de ao menos alguns países sem moeda estatal prosperando, verificando-se que é justamente o não uso deste dinheiro que trouxe determinadas vantagens, então não faz sentido testar isso “pra ver se dar certo” com o risco de arruinar o país.

      Outro detalhe também é que a Escola de Chicago defente o “Helicóptero de dinheiro” do Milton Friedman. Que é como na crise do covid em 2022, onde se distribuiu dinheiro para as pessoas para atravessar a grave crise e depois acertar a conta. Isso só é possível com um dinheiro que está sob domínio do estado.

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