Recentemente foi divulgado o resultado do Indice de Percepção da Corrupção e Transparência de 2023, além de termos caído 10 posições em relação ao estudo anterior, figuramos abaixo de todos os países originais dos BRICS, ou seja, estamos atrás da Rússia, índia, China e África do Sul.1
A imagem acima, retirada diretamente do relatório publicado, mostra parte dos resultados, afinal, os 180 países que fazem parte da pesquisa não caberiam em apenas uma tabela. No entanto, para a discussão deste artigo esta imagem será suficiente.
A estas alturas muitos buscam respostas e explicações para o resultado, mas, o mais comum, é vermos aqueles que buscam culpados. Ouso dizer, no entanto, que este resultado é a concretização de um sentimento que a maioria dos brasileiros tem há muitos anos. Como podemos perceber nesta reportagem, publicada em 2000:
“A corrupção no Brasil se agravou do ano passado para cá. É o que constatou o Índice de Percepções da Corrupção, divulgado mundialmente ontem. A nota brasileira caiu de 4,1 em 1999 para 3,9 este ano, numa escala que vai de 0 (altamente corrupto) a 10 (altamente limpo).”2
[…]“Em 1999, quando foram pesquisados 99 países, o Brasil era o 45º colocado. Caiu para 49º lugar este ano, quando o universo foi reduzido para 90 países. O Brasil já teve nota pior em 1995 (2,7), a primeira vez que foi calculado esse índice pela ONG.”
Não quero minimizar o impacto deste resultado, quero demonstrar que este verdadeiro absurdo não é exatamente uma novidade, e que as inúmeras vozes que dizem que nosso país mudou para melhor claramente estão mentindo. Ainda que alternemos entre uma nota melhor e outra pior, jamais figuramos nos lugares onde toda população gostaria de ver a sua nação.
Ao comentar o assunto nas redes sociais do Instituto Damas de Ferro, nossa Diretora Executiva, Stephanie Gonçalves comentou uma frase que me chamou a atenção, uma crença antiga que ouço de eleitores(as) desde a infância: “ele rouba, mas faz”. Esta, com certeza, não é a única razão, nem é uma tentativa de dar uma resposta simples a um problema tão complexo, mas nos ajuda a entender que a maneira como nós nos comportamos não contribuem para que tenhamos um país menos corrupto.
É fácil encontrarmos um ou dois nomes para culpar, desviar a atenção do fato que nós temos escolhido nossos governantes da maneira errada que, por décadas, elegemos as pessoas erradas e as mantemos em seus cargos eleição após eleição. Afinal, esta é uma verdade difícil de engolir.
O estudo Edelman Trust Barometer, de 2017, revelou que:
“A confiança dos brasileiros nas instituições do país despencou no último ano e está no pior nível desde 2001. Só 24% das pessoas acredita no governo e 62% delas dizem que o sistema nacional como um todo ruiu e não é mais capaz de atender as demandas da sociedade.”3
A pergunta é: se esta desconfiança não é novidade, por que parecemos não ter feito nada para mudar este cenário? Talvez questionar a atitude da população em relação ao Governo e suas Instituições nos revele que o famoso “comodismo” brasileiro tem nos custado um preço alto demais. E antes que me acusem de incitar esta multidão imparável, vou deixar claro que a solução não está nas ruas, mas sim nas urnas.
No entanto, é importante deixar claro que a solução começa nas urnas, mas passa pelas salas de aula deste país e por muitos outros pontos antes de alcançar seu objetivo final: um país mais transparente, menos corrupto e, por consequência, mais livre. Se você não entendeu a última consequência, eu te explico: desconheço um corrupto que deseje que o povo tenha liberdade para questioná-lo, ou para exigir mais transparência.
Por último, mas não menos importante, aí vai mais uma daquelas verdades difíceis de engolir: não seja relativista! Corrupção é o ato objetivo de descumprimento da legislação para benefício próprio, não depende de quem cometeu o ato, mas sim da prova de que tal crime tenha, de fato, sido cometido. Chega de desculpas esfarrapadas e corruptos de estimação, sejam do povo ou da imprensa.
Muitas serão as respostas que vocês vão ver por aí, mas poucas chegarão ao ponto de dizer que o fim da corrupção depende de uma mudança drástica de mentalidade da população, além de todos os outros métodos já empregados. é fácil simplificar uma respostas complexa, encontrar um “bode expiatório” e, ao fim do dia, jogar a sujeira para debaixo do tapete, mas ouso dizer que, neste país, as coisas tem terminado em pizza por tempo demais.
*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.
Notas de Rodapé
- CORRUPTION PERCEPTIONS INDEX 2023. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://static.poder360.com.br/2024/01/indice-percepcao-corrupcao-global-2023.pdf>.
↩︎ - Folha de S.Paulo – Corrupção: ONG diz que Brasil ficou mais corrupto – 14/09/2000. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1409200028.htm>. ↩︎
- 62% dos brasileiros não acreditam nas instituições do país, diz pesquisa | G1 – Economia – Blog da Thais Herédia. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/blog/thais-heredia/post/62-dos-brasileiros-nao-acreditam-nas-instituicoes-do-pais-diz-pesquisa.html>.
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