Ao longo da história do Brasil, muito se sonha com a liberdade, mas pouco se faz para alcançá-la. Se for para sintetizar as razões disso, diria que o erro sempre foi defender a liberdade apenas de alguns. Sim, “alguns”. Apenas uma parcela da população, apenas um estado do país – vide os movimentos separatistas – perdidos como quem anda em círculos numa floresta buscando o caminho certo.
Talvez estejamos procurando no local errado, tomando o posicionamento errado. É lógico que para defender a liberdade é necessário uma abertura para todos se expressarem. O erro está em interpretar que, ao deixar que todos falem, todos estão certos. A ideia de permitir que falem é justamente possibilitar que a verdade seja conhecida, porém infelizmente distorceram essa noção suficientemente para que a verdade seja relativizada.
Os fatos são o que são; A=A. Significa que sejam bons? Não. Significa que eu vou gostar? Não. Mas é justamente reconhecendo a realidade exatamente como ela é que conseguiremos, a partir do que nos desagrada, buscar melhorar. Como sabiamente disse Guimarães Rosa, o que a vida quer de nós é coragem; a coragem de ver uma injustiça ocorrer e não se calar diante dela, de proteger a liberdade de fala ainda que seja para discordar do que dizem – talvez especialmente nesses casos.
Contudo, a tolerância tem limite, sintetizado de forma muito clara por Voltaire ao dizer que “cumpre, pois, que os homens comecem por não ser fanáticos para merecer a tolerância”. Em outras palavras, os únicos que merecem a intolerância são aqueles que perturbam a sociedade com sua imposição de ideias, visto que, ao dar voz aos que tomam posições autoritárias, há uma certa permissividade para que eles tolham a liberdade dos demais.
O que seria de nós se a Princesa Isabel não tivesse se colocado contra a escravidão? O que o ocidente teria se tornado caso, em meio a uma empolgação comunista, Ayn Rand não tivesse se dedicado a alertar sobre os perigos do coletivismo? O que o mundo teria se tornado caso os países europeus tivessem aceitado passivamente a invasão dos nazifascistas, que subiram ao poder justamente pelo silêncio dos que não quiseram se opor? Até quando iremos esperar sentados assistindo às injustiças, vendo até que ponto aguentamos, aguardando o momento da censura nos atingir?
Não é tarde demais para a liberdade. Ainda há esperança, sim. Mas há de se reconhecer que o caminho é longo, e o país segue andando para o lado oposto. Ocultar o indivíduo para priorizar causas coletivas, gerar insegurança jurídica ao relativizar a justiça e controlar narrativas a fim de impor uma falácia disfarçada de verdade são medidas que não podem, em momento algum, ser toleradas. Tolerar o fanático é abrir mão da própria liberdade, e calar-se diante de injustiças é ser permissivo com os autoritários. Erga-se e defenda a liberdade, defenda o próprio direito de defesa, fale enquanto pode, porque uma hora será sim tarde demais.
*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.