Imagine um país dividido ao meio, onde duas realidades paralelas coexistem lado a lado: de um lado, arranha-céus modernos e uma economia pulsante; do outro, um regime fechado e uma população que enfrenta escassez e restrições severas.
A península coreana tem uma história rica e conturbada, marcada por ocupações estrangeiras e conflitos internos. No século XX, a divisão da Coreia tornou-se um dos episódios mais emblemáticos da Guerra Fria, refletindo a polarização mundial entre capitalismo e socialismo.
O presente estudo busca compreender as raízes históricas da divisão e suas consequências até os dias atuais.
Para compreender a crise na península coreana e suas implicações atuais, é fundamental revisitar os eventos que levaram à sua divisão. Neste artigo, abordaremos a Guerra da Coreia, que ocorreu entre 1950 e 1953, deixando marcas profundas e duradouras em toda a região e moldando o destino das duas Coreias.
Raízes históricas do conflito na península coreana: Da ocupação japonesa a guerra da Coreia.
Entre 1910 e 1945, toda a península coreana esteve sob domínio direto do Japão, com a influência japonesa na região, começando ainda em 1905, após a vitória do Japão sobre a Rússia na Guerra Russo-Japonesa. Como resultado desse triunfo, o Japão transformou a Coreia em um protetorado em 1905, anexando formalmente o território em 1910.
Nas décadas seguintes, o regime imposto pelos japoneses foi extremamente opressor. Em 1925, a repressão atingiu níveis alarmantes, culminando na proibição do idioma coreano em escolas e documentos oficiais. Em 1939, a política de assimilação forçada se intensificou, obrigando milhões de coreanos a adotarem nomes japoneses. A partir de 1940, mais de dois milhões de coreanos foram recrutados à força pelo exército imperial japonês, sendo compelidos a lutar na Ásia e no Pacífico em defesa dos interesses do Japão. Nas últimas semanas da Guerra do Pacífico, a situação se agravou ainda mais, evidenciando o impacto devastador da ocupação japonesa sobre a população coreana.
Com o desenrolar da II guerra mundial, em agosto de 1945, Stálin ordenou que o Exército Vermelho invadisse a Península Coreana, ocupando o norte do país. Meses antes, as potências aliadas haviam determinado que o avanço soviético deveria ser limitado ao paralelo 38, uma diretriz que Stálin respeitou ao estabelecer a ocupação em 16 de agosto daquele ano.
Enquanto isso, os Estados Unidos avançaram pelo sul, estacionando suas tropas também no paralelo 38, o que resultou na divisão da Coreia. Nos meses e anos seguintes, ambos os lados estabeleceram governos autônomos. No norte, sob influência soviética, foi instaurado um regime autocrático comunista apoiado tanto pela URSS quanto pela China. O governo era liderado por Kim Il-sung, um antigo “combatente da resistência” que lutou contra a dominação japonesa nos anos 1930 e 1940, e avô do atual líder norte-coreano, Kim Jong-un. Já no sul, sob influência dos Estados Unidos, foi formado um protótipo de governo democrático com inclinação capitalista.
Em 1948, conforme o previamente acordado, as tropas soviéticas começaram a se retirar do norte da Coreia. No ano seguinte, em 1949, foi a vez dos norte-americanos deixarem o sul, abandonando uma península dividida, onde cada lado mantinha governos autônomos que não reconheciam a legitimidade um do outro. A situação era um verdadeiro barril de pólvora, prestes a explodir.
Ainda em 1949, o líder norte-coreano Kim Il-sung elaborou um plano para invadir o sul, mas precisava do aval e do suporte direto de Stalin. A aprovação soviética veio apenas em 1950, após a URSS testar sua primeira bomba atômica e depois que os últimos soldados norte-americanos deixaram a região. Como os Estados Unidos não haviam interferido na guerra civil chinesa, que resultou na vitória comunista, Stalin assumiu que os americanos também não interviriam na Coreia.
Assim, em abril de 1950, Stálin deu sinal verde para a invasão norte-coreana, coordenando com Mao Tsé-Tung que a China enviaria reforços caso necessário. No dia 11 de junho, diplomatas norte-coreanos foram enviados ao sul para iniciar supostas negociações de paz e discutir uma reunificação pacífica da península. No entanto, tratava-se apenas de um ardil de Kim Il-sung para desorientar os sul-coreanos. Poucos dias depois, enquanto as conversas ainda estavam em andamento, na madrugada entre 24 e 25 de junho de 1950, a Coreia do Norte lançou seu ataque.
O ataque começou com uma intensa barragem de fogo de artilharia, devastando diversas posições sul-coreanas que foram pegas completamente desprevenidas. Logo em seguida, 200.000 soldados norte-coreanos, fortemente armados com equipamentos soviéticos, avançaram em massa, iniciando uma ofensiva esmagadora.
No mesmo dia, o Conselho de Segurança da ONU condenou unanimemente a invasão, exigindo um cessar-fogo imediato — um pedido que foi completamente ignorado por Pyongyang. Dois dias depois, a Resolução 83 foi aprovada, recomendando que os países membros da ONU contribuíssem para a defesa da Coreia do Sul. Os Estados Unidos prontamente atenderam ao chamado.
Na época, o presidente americano Harry Truman via a possibilidade de uma Coreia completamente comunista como uma ameaça direta à reconstrução do Japão e um fator que poderia desencadear a expansão do comunismo por todo o Sudeste Asiático.
Em questão de dias, o exército sul-coreano foi quase dizimado, e as tropas norte-coreanas conquistaram a maior parte do sul do país. A Coreia do Norte dispunha de 200.000 soldados bem treinados, equipados com tanques T-34, mais de 200 peças de artilharia e cerca de 300 aviões de combate e bombardeiros. Em contrapartida, os sul-coreanos tinham apenas 65.000 soldados, mal equipados e despreparados para enfrentar um inimigo tão superior.
As forças armadas dos Estados Unidos em 1950 eram apenas uma sombra do poder que possuíam em 1945. Após cinco anos de cortes orçamentários e redução de efetivos, os primeiros soldados americanos enviados para a Coreia do Sul chegaram sem blindados suficientes, armas antitanque adequadas ou apoio aéreo capaz de frear o avanço norte-coreano.
Em menos de três meses, as forças sul-coreanas e americanas foram empurradas para o chamado Perímetro de Pusan, uma pequena área que representava menos de 10% da península coreana. No entanto, graças a uma resistência obstinada, o perímetro foi mantido, permitindo que os Estados Unidos enviassem reforços em larga escala. Com soldados, aviões, blindados e peças de artilharia chegando em massa, um contra-ataque começava a se tornar possível. Enquanto isso, o restante da península permanecia sob controle total das forças norte-coreanas.
Em setembro de 1950, com a superioridade numérica e tecnológica das forças aliadas já evidente, o general Douglas MacArthur, comandante das tropas na região, ordenou um grande contra-ataque, forçando um recuo acelerado das tropas norte-coreanas.
Nesse mesmo mês, MacArthur lançou uma ofensiva ousada: um desembarque anfíbio na cidade portuária de Incheon, ao norte, utilizando uma força de quase 50.000 soldados. A operação foi um sucesso absoluto, cercando dezenas de milhares de soldados norte-coreanos no sul, o que levou a um recuo desesperado e desorganizado em direção ao norte.
No final de setembro, a situação da Coreia do Norte mudou drasticamente. O exército que, semanas antes, havia tomado quase toda a península, agora enfrentava o colapso. Cerca de 100.000 soldados norte-coreanos foram eliminados, e suas forças armadas estavam se desintegrando rapidamente. No dia 25 de setembro, Seul foi recapturada pelos Estados Unidos.
Com a vitória ao alcance, MacArthur ordenou que as tropas aliadas cruzassem o paralelo 38 e avançassem para a Coreia do Norte. Esse movimento alarmou Pequim, que iniciou intensos debates sobre uma possível intervenção militar. Mao Tsé-Tung, temendo a presença de tropas ocidentais na fronteira chinesa, pressionou para uma resposta armada. Após uma série de conversas com Stalin, a decisão foi tomada: a China entraria diretamente na guerra.
No dia 19 de outubro de 1950, 200.000 soldados chineses atravessaram a fronteira e entraram na Coreia do Norte — um número que cresceria para mais de um milhão nos meses seguintes.
No final de apenas um mês, todas as conquistas territoriais acumuladas pelas forças aliadas foram perdidas. As tropas chinesas empurraram os aliados de volta ao paralelo 38 e além, resultando na perda de Seul novamente no início de 1951. Nesse contexto, Kim Il-Sung foi afastado do comando militar pelos chineses, e a guerra passou a ser, na prática, travada diretamente pela China.
A partir de janeiro de 1951, os chineses intensificaram seus ataques noturnos, utilizando táticas de cerco para isolar e aniquilar as posições aliadas uma a uma, em ondas sucessivas de soldados.
Diante da situação crítica, MacArthur sugeriu o uso de armas nucleares contra as tropas chinesas na Coreia do Norte. No entanto, sua proposta foi prontamente rejeitada, pois a União Soviética já possuía bombas atômicas e o risco de uma retaliação em escala global era real.
Entre janeiro e março de 1951, a guerra na Coreia entrou em uma fase de desgaste brutal, lembrando os conflitos medievais, onde ondas de soldados colidiam com seus inimigos em combates corpo a corpo, deixando os campos de batalha cobertos de sangue e corpos.
Em março, Seul foi reconquistada pela ONU, mudando de mãos pela quarta vez desde o início do conflito, marcando mais uma mudança no controle da capital devastada pela guerra. Nesse mesmo mês, Stalin intensificou o apoio à China, autorizando o envio de centenas de aviões para os chineses, com pilotos soviéticos participando diretamente de combates aéreos na região.
A guerra já tomava proporções globais quando, no dia 11 de abril de 1951, o general Douglas MacArthur foi demitido do comando militar na Coreia pelo presidente Harry Truman. MacArthur havia sido o responsável pelo avanço das tropas aliadas além do paralelo 38, o que levou a China a intervir diretamente no conflito. Além disso, ele defendia publicamente o uso de armas nucleares e pressionava para expandir a guerra para dentro do território chinês—uma decisão que, segundo Truman, prolongaria o conflito por muitos anos, talvez até décadas.
No final de abril de 1951, os chineses lançaram uma ofensiva massiva com 700.000 soldados, tentando romper as linhas aliadas. No entanto, essa investida foi contida no mês seguinte, e as forças da ONU conseguiram empurrar os chineses de volta para o norte.
A partir de julho de 1951, o conflito entrou em uma nova fase: ambas as partes—os chineses e norte-coreanos no norte e as forças da ONU no sul—se entrincheiraram ao longo do paralelo 38. Assim começou um impasse de dois anos, marcado por batalhas sangrentas, mas sem ganhos territoriais significativos para nenhum dos lados.
Entre julho de 1951 e julho de 1953, a guerra se tornou um jogo brutal de resistência, resultando em um empate estratégico. O custo humano foi devastador: mais de 750.000 mortos e 800.000 feridos entre os chineses e norte-coreanos, enquanto as forças da ONU e sul-coreanas registraram cerca de 180.000 mortos e 560.000 feridos.
Diante desse cenário desolador, ambos os lados concordaram em um armistício em julho de 1953, o que levou à criação da chamada Zona Desmilitarizada da Coreia—uma faixa de terra de 200 km de comprimento por 4 km de largura, separando as duas Coreias até hoje. No entanto, um tratado de paz definitivo nunca foi assinado, o que significa que, tecnicamente, a guerra ainda não terminou.
As cicatrizes desse conflito ainda assombram a península coreana, com tensões que, de tempos em tempos, parecem empurrar a região para um novo confronto armado—um risco que se tornou ainda mais perigoso diante do arsenal nuclear desenvolvido pela Coreia do Norte.
O Milagre do Rio Han: Como a Coreia do Sul Se Tornou uma Potência Global
Após a Guerra da Coreia, a Coreia do Sul estava em ruínas. O país era um dos mais pobres do mundo, com infraestrutura destruída, economia agrária e uma população traumatizada pelo conflito. Em 1961, o PIB per capita sul-coreano era inferior ao de nações africanas como Gana. Diante disso, o governo militar de Park Chung-hee adotou um modelo de industrialização liderado pelo Estado, mas com forte incentivo ao setor privado.que me poucas décadas transformaria a Coreia do Sul em uma das economias mais avançadas e tecnologicamente sofisticadas do planeta.
Na década de 1960, sob a liderança de Park Chung-hee, a Coreia do Sul adotou um modelo de industrialização baseado na exportação. O governo investiu pesado em infraestrutura, educação e incentivou conglomerados familiares (os chamados chaebols, como Samsung, Hyundai e LG) a expandirem seus negócios.
As principais medidas dessa fase foram: Forte investimento em infraestrutura (portos, estradas, eletricidade e telecomunicações).
Criação e financiamento dos chaebols (conglomerados como Samsung, Hyundai e LG receberam incentivos para competir globalmente).
Modelo exportador: A Coreia não se fechou para o mundo, mas usou o comércio internacional como motor do crescimento.
Essa fase teve interferência estatal significativa, mas o governo logo percebeu que o setor privado precisava de mais liberdade para crescer.
Abertura Econômica e o Choque Liberal
Nos anos 1980 e 1990, a Coreia passou por um choque liberal. Com a crise financeira asiática de 1997, o estado precisou de um empréstimo do FMI e foi forçado a fazer reformas liberais. Como consequência, o estado reduziu seu controle sobre a economia, privatizou empresas, abriu o mercado para investimentos estrangeiros e incentivou o empreendedorismo. Foi nesse período que o país deu seu verdadeiro salto econômico.
Entre as medidas adotadas destacam-se a redução das barreiras ao comércio internacional, privatização de empresas públicas ineficientes, redução da burocracia estatal e mais incentivos ao setor privado e uma flexibilização da legislação trabalhista que permitiu maior competitividade entre as empresas.
Em vez de recorrer ao protecionismo, a Coreia do Sul dobrou sua aposta no livre mercado, tornando sua economia mais flexível, inovadora e resiliente.
Outro pilar fundamental do sucesso sul-coreano foi o investimento massivo em educação e inovação. Mas aqui está o ponto-chave: o governo não criou uma máquina estatal inchada de universidades públicas ineficientes, como em muitos países. Pelo contrário, a Coreia incentivou o setor privado a investir em ensino e pesquisa. Como resultado, hoje a Coreia do sul possui algumas das melhores universidades privadas do mundo, empresas como Samsung e Hyundai financiam a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, transformando o país em um dos maiores polos tecnológicos do mundo.
A Consolidação do Regime de Kim Il-sung e a Evolução da Ditadura até Kim Jong-un
Após a fundação da República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) em 1948, Kim Il-sung consolidou rapidamente seu poder por meio de uma combinação de força militar, repressão política e apoio externo. Inicialmente, ele contou com o suporte da União Soviética e, mais tarde, da China, o que lhe garantiu uma posição estável diante de opositores internos e externas. A unificação da península coreana sob sua liderança foi seu principal objetivo, e a Guerra da Coreia (1950-1953) foi um reflexo dessa ambição. Apesar da derrota militar, Kim Il-sung conseguiu transformar o regime comunista da Coreia do Norte em uma ditadura absoluta, com o estabelecimento do culto à sua personalidade, que persiste até hoje.
Ao longo das décadas seguintes, o regime de Kim Il-sung se consolidou ainda mais com o desenvolvimento de um sistema totalitário baseado no princípio do “Juche”, que exaltava a autossuficiência e a independência da Coreia do Norte, além de uma política de isolamento do resto do mundo. Kim Il-sung foi sucedido por seu filho, Kim Jong-il, em 1994, após sua morte. Kim Jong-il manteve a estrutura de poder da dinastia, com forte repressão à oposição e um controle absoluto sobre a sociedade. Durante seu governo, o regime aumentou seus esforços para o desenvolvimento de armas nucleares, impulsionados pela ambição de garantir a segurança do regime diante das pressões externas.
Em 2011, Kim Jong-il faleceu e seu filho, Kim Jong-un, assumiu o poder. A transição foi acompanhada de uma intensificação das políticas de repressão interna e de agressividade externa, incluindo testes nucleares e uma postura beligerante em relação à Coreia do Sul e aos Estados Unidos. Kim Jong-un, embora jovem e sem a mesma experiência política de seu pai, consolidou rapidamente seu domínio sobre o regime por meio de purgas dentro do governo, além de reforçar o culto à personalidade e as práticas autoritárias. A política de desenvolvimento nuclear e a postura agressiva em relação aos inimigos externos se mantiveram como pilares de seu governo.
O Impacto das Sanções Econômicas e o Desenvolvimento Nuclear
As sanções econômicas impostas pela comunidade internacional têm sido um dos maiores desafios para o regime norte-coreano. O impacto dessas sanções foi significativo, especialmente no que diz respeito à economia e à qualidade de vida da população. A Coreia do Norte tem enfrentado uma escassez crônica de alimentos, bens de consumo e investimentos estrangeiros. Contudo, apesar das dificuldades econômicas, o regime de Kim Jong-un tem utilizado o desenvolvimento de seu programa nuclear como uma ferramenta de poder. O desenvolvimento de armas nucleares foi considerado uma forma de garantir a sobrevivência do regime, dissuadir ataques externos e manter um certo grau de autonomia em relação às potências ocidentais e à sua rivalidade com a Coreia do Sul.
Ao longo dos anos, a Coreia do Norte realizou uma série de testes nucleares e de mísseis balísticos, aumentando a pressão sobre os Estados Unidos e os aliados sul-coreanos. A resposta internacional foi, principalmente, por meio de sanções, que buscavam isolar a Coreia do Norte e enfraquecer sua capacidade econômica e militar. Entretanto, as sanções não impediram o desenvolvimento de armas nucleares, o que levou a uma dinâmica cada vez mais tensa na região.
A Relação Entre as Coreias Hoje: O Regime de Kim Jong-un e as Ameaças Nucleares
Atualmente, a relação entre as Coreias permanece marcada pela divisão profunda e pela constante tensão. A Coreia do Norte, sob Kim Jong-un, continua a ameaçar sua vizinha do sul com um arsenal nuclear em crescimento, enquanto a Coreia do Sul, apoiada por potências como os Estados Unidos, segue adotando uma postura de contenção e defesa. O regime de Kim Jong-un não demonstra intenção de renunciar ao seu desenvolvimento nuclear, e as constantes ameaças de ataques nucleares ou de mísseis balísticos são usadas como uma forma de pressão sobre os Estados Unidos, a Coreia do Sul e outros países.
A China e os EUA na Questão Coreana: A Proteção dos Aliados Coreanos
A questão da Coreia do Norte é de interesse estratégico tanto para a China quanto para os Estados Unidos. A China, tradicionalmente, tem sido um aliado próximo da Coreia do Norte, embora as relações entre os dois países tenham se tornado mais tensas ao longo do tempo. A China vê a Coreia do Norte como uma zona-tampão contra a presença militar dos Estados Unidos na península e, ao mesmo tempo, busca evitar um colapso do regime que poderia gerar instabilidade na região e influxos de refugiados para o seu território. No entanto, a China também se preocupa com as provocações nucleares da Coreia do Norte, que afetam suas próprias relações internacionais e sua segurança.
Os Estados Unidos, por outro lado, têm um compromisso firme com a defesa da Coreia do Sul, um de seus principais aliados na Ásia. As alianças militares entre os dois países são essenciais para o equilíbrio de poder na região, e os Estados Unidos mantêm uma presença militar significativa na Coreia do Sul como uma forma de dissuadir a Coreia do Norte de realizar ações militares agressivas. Além disso, os EUA têm sido protagonistas na imposição de sanções à Coreia do Norte, buscando enfraquecer o regime de Kim Jong-un e forçá-lo a abandonar seus programas nucleares.
Reunificação da Coreia: Possibilidade de Reunião ou Colapso do Regime Norte-Coreano?
A reunificação das Coreias permanece um tema debatido, mas improvável no curto prazo. A Coreia do Norte não demonstra interesse em abrir mão de seu regime autoritário, e qualquer tentativa de reunificação, por parte da Coreia do Sul, enfrentaria não apenas a resistência de Kim Jong-un, mas também a oposição da China, que têm interesses estratégicos na manutenção do status quo na península. Para a Coreia do Sul, a reunificação implicaria custos econômicos e sociais significativos, considerando a diferença entre as duas economias e a disparidade no nível de vida da população.
Quanto ao colapso do regime ditatorial norte-coreano, ele é uma possibilidade real, mas não necessariamente iminente. O regime tem enfrentado crises internas, como a escassez de alimentos e os impactos das sanções internacionais, mas ainda mantém o controle sobre a população por meio da repressão e do culto à personalidade. No entanto, a continuidade do regime dependerá de uma série de fatores, incluindo o suporte da China e a dinâmica interna do país. Embora a Coreia do Norte enfrente dificuldades, um colapso total pode levar a uma crise ainda maior, com consequências imprevisíveis tanto para a região quanto para as potências envolvidas.

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.