Como Pensadores Independentes Fomentam uma Cultura de Liberdade

Enquanto me preparo para minha palestra na conferência LevelUp Europe sobre “Valores Profundos na Literatura Distópica”, tenho refletido sobre o que os protagonistas heróicos em histórias distópicas têm em comum. Uma coisa que me veio à mente foi que eles pensam de forma independente (ou aprendem a fazê-lo). Esse pensamento independente é fundamental para se libertar de algemas internas e externas.

Pensar de forma independente não significa nunca aprender com outras pessoas ou fontes externas (isso significaria condenar-se a descobrir tudo por conta própria, o que é impossível). Em vez disso, significa apenas aceitar ideias ou afirmações quando você as compreende plenamente e vê que se encaixam com seus outros conhecimentos relevantes. Por exemplo, se alguém afirma que um amigo seu mentiu, mas você sabe que seu amigo é uma pessoa honesta, você não aceitaria a afirmação sem provas concretas porque isso contradiz seu conhecimento prévio do caráter dele. Se você aceitasse a acusação sem evidências, não estaria pensando de forma independente (e sua amizade sofreria como resultado).

Ayn Rand descreveu o que é o pensamento independente e como é a falta dele em “A revolta de Atlas”, tanto por meio de vários personagens quanto de forma explícita:

Independência é o reconhecimento do fato de que sua responsabilidade é o julgamento e nada pode ajudá-lo a escapar disso – que nenhum substituto pode fazer seu pensamento, assim como nenhum substituto pode viver sua vida – que a forma mais vil de auto-humilhação e autodestruição é a subordinação de sua mente a mente de outro, a aceitação de uma autoridade sobre seu cérebro, a aceitação de suas afirmações como fatos, sua palavra como verdade, seus editos como intermediários entre sua consciência e sua existência.

Quando o pensamento independente é a regra em uma sociedade, também o são o dissenso político, o debate filosófico fervoroso, uma diversidade de arte e fácil acesso a livros, cursos e outros materiais de aprendizagem.

Mas quando alguém defende uma política ou regime que restringe esse pensamento independente, está argumentando a favor  da ideia de que as pessoas não podem decidir por si mesmas e, portanto, o governo deve decidir por elas. Como disse Alan Moore, autor de V de Vingança, em uma entrevista: “O fascismo é uma completa abdicação da responsabilidade pessoal. Você está entregando toda a responsabilidade por suas próprias ações ao estado.” Claro, isso é verdade para todos os regimes autoritários; o fascismo é apenas um exemplo.

Por outro lado, uma pessoa que pensa por si mesma e analisa honestamente as evidências pode entender que os outros também são capazes de fazê-lo e merecem ser livres para agir com base em seu próprio julgamento, desde que não impeçam os outros de fazer o mesmo. Em outras palavras, os indivíduos que adotam como política viver pelo julgamento de suas próprias mentes não precisam controlar os outros, ser controlados pelos outros ou ver líderes controlando os outros. Como Rand escreveu em “A revolta de Atlas “, “a sede de poder é uma erva daninha que cresce apenas nos terrenos baldios de uma mente abandonada”. Os pensadores independentes exercitam suas mentes e tratam os outros como indivíduos responsáveis.

Para um exemplo literário eloquente, considere “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury. Nele, os livros são proibidos; as autoridades afirmam que isso ocorre porque ter diferentes ideias e opiniões para as pessoas pensarem e avaliarem por si mesmas não é propício para a felicidade. Como explica um personagem: “Se você não quer que uma pessoa seja infeliz politicamente, não lhe dê dois lados de uma questão para preocupá-lo; dê-lhe apenas um. Melhor ainda, não dê nenhum lado.” (Fahrenheit 451, p. 61, Edição Kindle). Mas o resultado não é uma sociedade de pessoas felizes; embora tenham muito tempo livre e um desenvolvimento tecnológico razoável, as tentativas de suicídio são comuns, a violência é generalizada e as conexões profundas (até mesmo com o cônjuge ou os filhos) são praticamente inexistentes. A falta de pensamento crítico não levou à felicidade, mas a uma profunda insatisfação, apatia e violência.

Portanto, talvez uma das melhores maneiras de defender a liberdade no dia a dia seja simplesmente pensando por si mesmo — tendo um pensamento ferozmente independente. Como Rand colocou em sua obra previamente citada: 

Viva e aja dentro do limite do seu conhecimento e continue expandindo-o até o limite da sua vida. Resgate sua mente das garras avarentas  da autoridade. Aceite o fato de que você não é onisciente, mas agir como um zumbi não lhe dará onisciência — que sua mente é falível, mas se tornar sem mente não o tornará infalível — que um erro cometido por conta própria é mais seguro do que dez verdades aceitas pela fé, porque o primeiro deixa você com os meios para corrigi-lo, mas o segundo destrói sua capacidade de distinguir a verdade do erro.

Se você gostaria de existir em uma cultura que valorize a liberdade, na qual todos possam perseguir aquilo que mais lhes importa, a primeira coisa que você deve fazer é pensar com sua própria cabeça.


Texto original: How Independent Thinking Fosters a Culture of Liberty

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