Muitos devem pensar que a taxa selic afeta apenas grandes investidores e bancos, bom conforme demonstrarei no texto a seguir, essa taxa está presente no dia a dia do cidadão brasileiro e pode ter um impacto maior do que imaginado.
A história da taxa selic começa com a irresponsabilidade fiscal. Tal taxa se refere ao risco de o estado gastar mais do que arrecada, e quando isso acontece, o governo imprime mais dinheiro para pagar as contas gerando inflação. O plano real, muito além de trocar o nome do dinheiro, foi uma série de providências para que o governo ajustasse as contas e sinalizasse para os investidores do Brasil e do mundo a sua nova postura.
As contas do governo estão em déficit primário desde 2014, segundo dados do tesouro nacional. Com a pandemia, houve menos arrecadação e mais gastos, acentuando ainda mais a situação, que já era crítica. Segundo o tesouro nacional foram gastos 524 bilhões de reais apenas em 2020 com a pandemia. Onde, segundo o impostômetro, o imposto arrecadado no mesmo ano foi de 2,0 trilhões de reais, contra 2,5 trilhões arrecadados em 2019.
Além disso, a instabilidade jurídica e os geradores de instabilidade econômica atrapalham muito qualquer brasileiro, atingindo em cheio o poder de compra da população.
Mas como essa taxa afeta? e porquê tão diretamente?
Existem grupos que abertamente apresentam claro desinteresse pelos indicadores macroeconômicos, no entanto, entender esses indicadores não é só importante como ESSENCIAL para a vida do brasileiro médio, em especial os mais pobres.
Vamos utilizar a decisão de 2021 do Congresso Nacional de dar calote nos precatórios como exemplo (PEC 23/2021 Transformada na Emenda Constitucional 113/2021. DOU 09/11/21 PÁG 01 COL 02.). Precatórios são títulos de dívida que são emitidos quando alguém ganha uma ação judicial contra o estado.
Normalmente o estado dá um prazo longo de anos/décadas para pagar. Agora o governo (presidente e congresso) decidiu parcelar o pagamento em vários anos quando chega o momento de pagar, que já era parcelado previamente.
O governo decidiu dar esse calote nos brasileiros que ganharam na justiça contra o Estado, (ao invés de economizar em luxos como auxílio moradia e auxílio paletó para deputados, por exemplo) para financiar o renda Brasil. Os custos de cada deputado pode ser verificado no ranking dos políticos.
O calote gerou uma grande desconfiança no país, consequentemente, uma fuga imensa de capital, aumentando a demanda por dólares, pressionando o preço para patamares de R$ 6,00. Pois esse calote foi a sinalização de que o Brasil prefere dar um calote do que fazer reformas estruturais para arrumar as contas.
Consequentemente, os títulos do tesouro, considerado o investimento mais seguro no Brasil, é proporcional a Selic, que estava em patamares muito baixos, que também não são atrativos para o capital externo e contribuindo para pressionar o preço do dólar.
Mas por que isso é importante?
O dólar é a moeda do comércio internacional. Desde o trigo, que boa parte consumida no Brasil é importado, passando por peças de carros que abastecem fábricas no Brasil, petróleo, dentre outras coisas; tudo influencia no preço dos produtos para o consumidor final. Estes são dependentes do preço do dólar. Isso mostra a nossa inteira dependência e necessidade de compreender os impactos dos indicadores em nossas vidas.
Como consequência da irresponsabilidade dos agentes políticos, o banco central se vê obrigado a puxar a taxa de juros, atualmente em 11,75%, para assim controlar a inflação e o câmbio. Porém isso tem o preço de esfriar a economia, afinal, passa a ser mais interessante se tornar rentista emprestando dinheiro pro dono da impressora ao invés de empreender abrindo novos negócios e oportunidades de emprego. Além disso, o financiamento fica caro, este que tem juros igual a Selic acrescido de um ágio. Portanto, a alta de juros não é uma solução mágica para a inflação, é um remédio amargo para a população, que pouco consegue correlacionar os fatos.
Então vamos sempre nos lembrar disso, cuidar da economia é ESSENCIAL, não para preservar o interesse dos ricos, muito pelo contrário, se trata do interesse de cada cidadão brasileiro, que são dependentes disso.
Hoje a Europa sente a ameaça de insegurança alimentar. Os grandes fornecedores de alimentos para Europa eram Ucrânia e Rússia; infelizmente, a Ucrânia sofre com a guerra e a Rússia enfrenta duras sanções econômicas. Portanto, segundo o especialista em geopolítica, o professor Heni Ozi Cuckier, explica em seu canal no youtube que esse momento é ideal para que o Brasil aumente a exportação de commodities do ramo alimentício. Contudo, Heni também explica que a impopularidade de Bolsonaro e a visão de que o agronegócio é vilão matam qualquer possibilidade do Brasil protagonizar esse fornecimento tão estratégico do ponto de vista econômico e geopolítico.
Texto por Paulo Sérgio Filho, Embaixador Estadual do Amapá.
Arte por Tailize Scheffer
Excelente explanação, temos que entender e nos incomodar como Cidadão para cobra nosso representantes, visando o bem comum.