Colocar impostos em grandes fortunas é uma solução simples, elegante e errada

Colocar impostos em grandes fortunas é uma solução simples, elegante e errada

Esta conclusão se chega ao partir de premissas erradas, o problema não está no meio do raciocínio, mas no início dele. Quando se assume que só existe riqueza porque existe pobreza, daí bastaria dividir os recursos e todos viveriam bem. Isso implica dizer que a riqueza existente tem duas propriedades, a primeira de que constante, imutável no tempo e a segunda de que a quantidade atual é suficiente para todos.

Precisa-se então tratar essas premissas como hipóteses e testá-las. Para visualizar melhor a quantidade de pessoas vivendo em diferentes níveis de financeiros, observa-se a Figura 01. Que mostra em quantidade percentual da população em cada situação.

Figura 01 – Percentual da população mundial vivendo em diferentes níveis de pobreza/riqueza. O dólar referência é o de 2011, de modo que há correção pela inflação ao longo do tempo.

O gráfico mostra que a quantidade de pessoas vivendo nos níveis de pobreza e extrema pobreza diminuíram. Será que a solução deste problema veio da distribuição das grandes fortunas?  Se observarmos o gráfico na Figura 03 divulgado pela Forbes em 2021, vemos que o número de bilionários no mundo saiu de 140 em 1987 para 2755 bilionários em 2021. De modo que o patrimônio líquido somado no mesmo período saiu de 295 bilhões para 13,1 trilhões de dólares. Para fazer os valores comparáveis, é necessário um ajuste pela inflação americana, o CPI, de 1987 para 2018, que ajusta em 121,0% no período, ou seja, os 295 bi compravam o que 652,08 bi comprariam em 2018.

Portanto, houve um crescimento de 20 vezes no patrimônio líquido no patrimônio da parcela bilionária da população. Claramente o dinheiro não foi redistribuído. No mesmo período, as pessoas em situação de extrema pobreza saíram de 68,22% em 1987 para 8,61% em 2018, conforme pode ser observado na Figura 02, com dados disponibilizados na biblioteca da OCDE e compilados pelo Our World in Data.

Figura 02 – Onde o critério é estar abaixo de 1,90 dólares por dia, com o dólar referência de 2011 sendo corrigido pela inflação para os outros anos, com dados disponibilizados na biblioteca da OCDE e compilados pelo Our World in Data.

Portanto, dizer que o problema são os ricos, na verdade é uma questão de narrativa, um artifício para ganhar eleições. Precisamos nos basear em fatos e dados, para depois construir uma história que simplifique o conhecimento. 

Figura 03 – Número de bilionários no mundo e a soma do patrimônio líquido de 1987 até 2021, dados compilados e divulgados pela revista Forbes.

Uma questão que ainda fica em aberto é a quantidade de pessoas em número absoluto, afinal, a população cresce. Poderia o percentual de pessoas em extrema pobreza ter diminuído mesmo que seu número absoluto tenha aumentado? Afinal, o número de pessoas no mundo aumentou bastante, certo? A figura 04 mostra exatamente isso, no período de 1820 até 2015, a população cresceu bastante, e mesmo assim, a quantidade de pessoas em extrema pobreza diminuiu. A Figura 05 mostra o mesmo conceito, porém com mais faixas de renda e em um período menor. 

Figura 04 – Número de pessoas vivendo em extrema pobreza em comparação às que não estão nesta situação, em números absolutos, com dados de Ravallion(2026) com atualização do banco mundial compilados pelo Our World in Data de 1820 até 2015.
Figura 05 – Número de pessoas em cada faixa de renda per capita 1990 até 2021. Dados do Banco Mundial e compilados pelo Our World in Data.

Com tudo que foi verificado, nota-se que:
01 – A riqueza é mutável ao longo do tempo
02 – Mais pessoas ricas não implica em ter mais pessoas pobres. O que se verifica, na realidade, é o oposto.


Além de  observar que as duas premissas não são verdadeiras, vemos que a conclusão também não é verdadeira, portanto, não é culpa dos bilionários que exista pobreza. 

Isso, porém, não quer dizer que a redistribuição seja má ideia. Afinal há bastante renda concentrada. Segundo a ONG Oxfam, com dados do Credit Suisse de 2015. As pessoas que pertencem a 1% da população mais rica tem a mesma quantidade de dinheiro que os outros 99%. Inclusive muitos dos bilionários concordam e fazem isso de forma voluntária. Por exemplo o Bill Gates, que foi o mais rico do mundo de 1995 até 2007, de 2009 até 2010 e de 2013 até 2017, doou 20 bilhões em julho de 2022, e, com essa doação, soma 70 bilhões de dólares ao longo de sua vida, um volume extremamente relevante em comparação com seu patrimônio estimado de 113,7 bilhões de dólares (junho de 2022), Gates, além de ter feito a Microsoft, que facilita muito a vida e o trabalho, direta ou indiretamente, afinal quem nunca usou Windos, Word, Excel e PowerPoint? Quantas pessoas não foram beneficiadas por isso? Gates ficou bilionário como prêmio por oferecer as soluções e hoje doa parte significativa de sua fortuna  à sua instituição de caridade e ainda convence outros bilionários a fazer doações. Essa postura também é compartilhada por Warren Buffet, o maior investidor do mercado financeiro de todos os tempos, atualmente já doou 51 bilhões de dólares, de 2006 até 2023, há 5 instituições de caridade.

Contudo, há pessoas que acreditam que o estado seria o melhor veículo para acabar com a desigualdade. O problema é que o estado custa caro, gasta mal e ainda forma desigualdades. Além de ser antiético onde a solução passa por forçar as pessoas a seguirem ela. 

Figura 06 – Site Impostômetro mostra em tempo real a quantidade de impostos pagos ao governo. Este ano, de 01.01.2023 até 12.11.2023 gastamos 2,6 trilhões de reais com impostos https://impostometro.com.br/

O governo arrecada trilhões e não resolveu o problema da pobreza, mas a esquerda quer convencer você que precisamos dar mais dinheiro ao governo. Simone Tebet, Ministra do Planejamento e Orçamento, fala que, como o orçamento é engessado, a solução é arrecadar mais como solução para reduzir o déficit do orçamento do atual governo Lula, 2023-2026. Sendo assim, em 2022 o gasto público representou 32,7% do pib, ou seja, o brasileiro trabalha 119 dias por ano para pagar o governo, algo realmente caro.

Então, evidentemente, precisa-se contemplar o orçamento federal. 46,30% do orçamento executado em 2022 é a dívida pública, por isso é tão importante ter um superávit, para que se gaste menos com a dívida e sobre mais dinheiro para os serviços públicos, em caso de déficit, o endividamento segue em bola de neve e não conseguiremos honrar nem com o juros da dívida. Além disso, 20,70% é utilizado para pagar a previdência social. Onde 1 milhão de servidores recebem 200bi por ano, que dá 200 mil por beneficiário por ano e os 30 milhões inscritos no INSS recebem na média R$ 1450,00/mês (R$ 17.400,00/ano). Dessa forma, o governo além de gastar mal a aposentadoria é uma das formas do estado gerar desigualdade.



Figura 07 – Dados do ministério do planejamento com elaboração do site auditoria cidadã. https://auditoriacidada.org.br/categoria-conteudo/graficos/

Portanto, a solução passa pelas pessoas perceberem como o governo custa caro, cria narrativas para jogar parte da população contra a outra, gasta mal o dinheiro e ainda pede mais. É nosso dever como cidadãos saber como gastam e como utilizam nossos recursos, afinal, como bem disse Margaret Thatcher: “Não existe dinheiro público, todo dinheiro arrecadado é tirado do orçamento doméstico, da mesa das famílias”. O discurso de que o governo vai resolver é apenas um canto de sereia que nos atrai para uma armadilha financeira. Nós precisamos ser responsáveis, fiscalizar os gastos públicos e também fazer nossa parte em relação a pobreza, voluntariamente dando nossa contribuição.


Paulo Sérgio

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.

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