Redução da Desigualdade: uma verdade inconveniente

“O problema não é a desigualdade, é a pobreza”. Esta é uma frase muito comumente utilizada por liberais, e que rapidamente é contra argumentada pela esquerda com estudos demonstrando a desigualdade como fator significativo para problemas sociais. Disso surgem duas críticas: 

  1. De que o capitalismo inerentemente aumenta a desigualdade deixando o rico mais rico e o pobre mais pobre; e 
  2. De que é preciso acabar com a desigualdade. 

Neste texto, vamos abordar um pouco mais sobre como liberais e libertários podem corretamente debater a questão da desigualdade.

Como é medida a desigualdade?

Nós medimos a desigualdade de países por um número de 0 a 1 chamado coeficiente de Gini: quanto mais próximo do zero, menos desigual, e quanto mais próximo do 1, mais desigual. Na prática a história é outra, e nenhum país jamais obteve um Gini abaixo de 0.2 nem acima de 0.75. Para você ter uma noção do índice de Gini ao redor do mundo, peguei alguns exemplos: 

Fonte: https://www.statista.com/forecasts/1171540/gini-index-by-country, https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_Human_Development_Index

Pela tabela, podemos ver algo importante: a falta de desigualdade sozinha não significa qualidade de vida. Uruguai e Haiti têm a mesma quantidade de desigualdade, mas qualidades de vida totalmente diferentes, assim como o Níger tem uma desigualdade tão baixa quanto países europeus, mas é um país extremamente pobre. O desafio é baixar a desigualdade e aumentar o IDH. Tendo em mãos os números reais da desigualdade, podemos abordar essas duas críticas anticapitalistas sobre desigualdade. 

A Resposta a Primeira Crítica

Roberto Campos responde bem a primeira crítica, em uma antiga entrevista ao Roda Viva: 

“É fácil denunciar a má distribuição de renda. Ela é injusta e nos modifica diariamente. Mais difícil é perceber as causas e recomendar remédios. Geralmente o que se recomenda é mais ação do governo. É assistencialismo governamental. Mas como? Se a renda é tão má distribuída no Brasil, é em grande parte por causa do governo. Quais são os dois fatores mais percurcientes na distribuição de renda? São primeiro, a inflação, que durante muito tempo assolou a população brasileira criando os com moeda e os sem moeda e, em segundo lugar, a falta de educação básica. Ambas essas coisas são responsabilidade do governo, e o pessoal prefere culpar o mercado! O mercado é que é culpado pela má distribuição de renda? O mercado não recomenda a inflação, o mercado prospera com a estabilidade, e, certamente, o mercado não é responsável pela educação de base. O que se espera do mercado é a educação secundária e superior”– Roberto Campos 

A Resposta a Segunda Crítica

Para responder a segunda questão, trago um exercício de imaginação que David Hume propôs 100 anos antes de Marx no livro “uma investigação sobre os princípios da moral”:

Imagine que conseguimos acabar com a desigualdade (não importa como. Sei lá, o Thanos estalou os dedos e todos no mundo agora são bilionários). Todos agora têm a exata mesma renda, mas não vão querer gastá-la igualmente. Seja por jogo, bebida, droga, roubo, etc., haverá sempre pessoas gastando mais do que outras e/ou perdendo tudo. Se isso for permitido por tempo suficiente, o mundo voltará a ser tão desigual quanto antes. 

Para impedir que a desigualdade surja é necessário um controle rigoroso para vigiar a aparição de qualquer desigualdade e uma forte punição judicial para corrigi-la. Manter isso exigiria tanto poder e autoridade que é inevitável surgir alguém capaz de transformar tudo em ditadura, como vimos 200 anos depois com as nações socialistas do séc. XX. 

Até mesmo Chang, um economista bem crítico ao capitalismo, aponta como é impossível acabar com a desigualdade e dá até exemplos empíricos de problemas surgindo na URSS por conta disso. Para Chang, a desigualdade não pode ser nem muito grande nem muito pequena.

Conclusão

Tendo visto tudo isso, fica claro que a desigualdade não pode ser menosprezada como causa da infelicidade humana. Chang aponta em “desigualdade e pobreza” que a crença pré segunda guerra mundial de que o aumento da desigualdade decorrente do capitalismo diminui sozinha depois (curva de Kuznets/teoria do Bolo) se provou empiricamente um caso isolado da Europa. Países de terceiro mundo como o Brasil tiveram um aumento de desigualdade inicial que se estabilizou, enquanto países como Japão e Coréia do Sul se tornaram países de primeiro mundo sem passar por este aumento de desigualdade.

Ignorarmos a discussão sobre desigualdade frente a esses dados é um anacronismo do século XIX que faz liberais e libertários perderem espaço no debate público. Mas note que não é preciso propor políticas estatistas para tanto, como vimos com o imposto de renda negativo de Milton Friedman. Cabe aos liberais e libertários deixarem de ignorar essa questão e entrarem nela com seus próprios argumentos e propostas, pois caso contrário vamos continuar entregando esse assunto para a esquerda por WO para fazerem estatisses desenfreadas. 


Texto por Paulo Grego

Arte por Tailize Scheffer

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *