As mulheres de esquerda são realmente empoderadas?

É comum percebermos  na esquerda identitária o discurso de que as mulheres de esquerda são mais empoderadas, livres, e felizes. Apesar disso, Henry Scalon escreveu em um texto do The Federalist, ter notado que as mulheres conservadoras da CPAC eram tão mais bonitas do que as mulheres da esquerda. Baseado nisso, levanto o questionamento: será que o empoderamento pregado às mulheres de esquerda realmente as está empoderando? Seria a razão para essa beleza notada por Henry um indicativo de outro tipo de empoderamento das mulheres à direita?  Henry também gostaria de saber e, ao perguntar à sua esposa, a resposta foi imediata: “É porque elas gostam de serem mulheres. E elas estão felizes por não serem homens”. 

Empoderamento livre

Segundo Scalon, o que torna as mulheres de direita mais bonitas não é ser de direita, mas sim não ser de esquerda. Ele argumenta que as mulheres de direita tem liberdade para acreditar em coisas que as de esquerda não conseguem. Que elas podem acreditar que existem diferenças entre homens e mulheres, ao invés de ser tudo uma construção social imposta pelo patriarcado e, portanto, assumir a sua feminilidade sem medo de serem caluniadas por isso.  

Vemos isso bem no Japão, onde as jovens japonesas têm se afastado cada vez mais do feminismo. Em 2019, a professora e pesquisadora em sociologia e gênero pela universidade de Musashi, Yuki Takahashi, publicou um artigo na Gendai Business Online intitulado “a verdadeira natureza do mal estar das jovens que abandonam o feminismo”, cujos detalhes parecem convergir com as observações de Scalon.

Guerra à feminilidade

Segundo Takahashi, os dois principais motivos de afastamento das mulheres japonesas do feminismo são os ataques às mulheres com seios grandes e à cultura MOE: 

  1. Resumidamente , Takahashi relata que, quando japonesas de seios maiores do que a média postam fotos cotidianas na internet, são atacadas. A exemplo de Saya Akane, uma atriz que disponibilizou fotos suas para anúncios de uma empresa e foi duramente atacada por feministas que acharam suas fotos inapropriadas devido aos  seios grandes e naturais da atriz. Dentre os comentários, ela foi acusada de ser “uma típica mulher desonrada e apaixonada por pi**os que está tentando tirar vantagem dos desejos sexuais dos homens”.
  2. Takahashi aponta que as feministas veem a cultura MOE (garotas fofinhas fazendo coisas fofinhas) como sinônimo de uma cultura machista promovida por homens velhos pervertidos. Isso, porém, ignora o fato de que as mulheres japonesas são 70% de todos os autores de mangá, assim como 60% dos autores para mangás +18.
Foto de Saya Akane que despertou ódio nas feministas

Em ambos os casos, nota-se um ataque à feminilidade. As jovens japonesas querem exercer seu lado “feminino e fofo”, mas são atacadas pelas feministas de maneira similar a como um reacionário reprovaria uma adolescente de shortinho. O machismo na sociedade japonesa ainda é muito forte, como demonstrado em mulheres incapazes de conseguir trabalhos “de homens” na obra 1Q84, de Haruki Murakami, mas o comportamento das feministas para com as jovens japonesas (principalmente vindo de feministas estrangeiras) tem afastado cada vez mais as jovens japonesas do feminismo.

Mas, ok! Talvez, você olhe para isso tudo e pense…”o que isso tem a ver com o ocidente”? Para você, caro leitor, precisarei trazer um relato mais forte.

Hedonismo vazio

A ex-colunista da Playboy Bridget Phetasy, publicou recentemente um texto onde se arrepende de ter sido promíscua. Ela não fez isso por se converter à direita, sendo muito grata à liberação feminina por conquistar seu direito ao trabalho e ao sexo sem medo de gravidez. Ela fez isso por perceber que, apesar de a revolução sexual ter liberado as mulheres, separar o sexo de suas consequências  foi algo que beneficiou principalmente os homens.

Bridget relata em detalhes como, dos inúmeros homens com quem teve relações, poucos são os que ela não se arrepende. A maioria  deles teria sido um sexo medíocre, sem sentimento/significado ou ambos. E, mesmo quando era bom, o homem dificilmente a chamaria de volta no dia seguinte. Hoje, ela  percebe como essas relações casuais eram, na verdade, usar o sexo como uma droga para preencher seu vazio  existencial, traumas e inseguranças. Para ela, a epifania veio quando recebeu de um amante recorrente a mensagem “ boa noite, querida, eu te amo” seguida da mensagem “pessoa errada”.

Ela tentava lidar com a situação repetindo para si mesma que sexo era sobre poder, que era preciso escolher entre ter uma carreira ou ter um relacionamento, e que ser mãe e ter filhos eram uma armadilha. Hoje, ela reconhece que sexo não tem a ver com poder, mas sim com intimidade, confiança, e vulnerabilidade. Sendo que ao  expor tudo isso a tantas pessoas, muitas vezes bêbada,  acabou por deixá-la sentindo-se vazia, desmoralizada e sem valor.

Juntando-se o relato pessoal de Bridget com a pesquisa de Takahashi, temos uma combinação fatal: o sexo casual e o amor líquido (uhul! Baumann!) são exaltados em nossa sociedade, enquanto outras características femininas, como a feminilidade e a maternidade são menosprezadas. Talvez este seja um dos motivos pelo qual somos a geração mais depressiva, tema que abordamos recentemente aqui no Damas de Ferro.

Claro, mesmo que saibamos que este comportamento é mais forte no feminismo à  esquerda, eu ainda não provei que isso é algo exclusivo da esquerda, certo? Até porque, não são apenas as mulheres de esquerda a passar  pelo que Bridget relata. Para não falar no enorme elefante branco que vem à cabeça neste assunto:

Oi. Sou de esquerda e sou feliz e lindíssima. Seu texto ainda é válido?

Vamos precisar de dados.

Animal Emparedado

Um estudo, feito por  Betsey Stevenson and Justin Wolfers, mostra que, apesar de as mulheres terem melhorado suas condições de vida, a felicidade feminina nas últimas décadas vem em queda. Além disso, o Slate Star Codex entrevistou 8043 pessoas em janeiro de 2020 em relação à depressão e espectro político. Os resultados apontam que, quanto mais à esquerda, maior o percentual de depressão, com os menores índices sendo da direita moderada. Os maiores índices de depressão da direita (22.9%), porém, são equivalentes aos da esquerda moderada (23.2%), que quase dobrou seu percentual de depressão na extrema esquerda (42%)!!

Resultados da pesquisa feita pela slate star codex em 2020

Do meu ponto de vista, essa discrepância fica plausível quando lembramos que na natureza um animal somente lutará quando todas as alternativas de escapar se esgotarem. O marxismo, base ideológica da esquerda atual, prega que os operários precisam pegar em armas e, por meio da violência, tomar a sociedade para si. Não acha muito extremo? Realmente é, pois isso não aconteceu nem na Segunda Guerra Mundial, quando os operários do mundo literalmente se armaram. Entre violência e escapismo, as pessoas normalmente escolhem o último.

Por isso mesmo, para que a esquerda consiga te convencer a fazer a revolução (no sentido literal ou metafórico), ela precisa te livrar de todos os seus escapismos e te convencer constantemente de que você vive numa distopia sem nenhuma outra esperança no mundo, se não a revolução de esquerda. Você precisa estar miserável, sem fé de que haja qualquer outro meio de melhorar a sua situação. O capitalismo é tratado como este grande mal, capaz de atingir todos os aspectos da sociedade pela elite burguesa, intencionalmente, para você sofrer.

Chegamos então aos identitários, que acreditam que todas as estruturas socioculturais são ferramentas de opressão intencionalmente construídas para oprimir as minorias. Portanto,  outras estruturas que te ajudariam a manter sua psique (como, por exemplo, família nuclear, relacionamentos amorosos, trabalho e hobbies) devem ser desconstruídas. Para eles, uma mulher monogâmica, feminina, que tem  relacionamentos sérios para casar, é vista com maus olhos, como uma escrava das estruturas da sociedade, enquanto a mulher poligâmica, vulgar e promíscua, é o exemplo de empoderamento feminino. Em resumo, há uma exaltação do estilo de vida e mantras descritos por Bridget como o da mulher ideal, resultando nos mesmos problemas que ela denuncia.

Pessoas de centro-esquerda como a Priolli e artistas da Globo se conservam pois  não mergulharam de cabeça nessa desconstrução, mas as observações de Scalon, Takahashi e Bridget se tornam verossímeis quanto mais desconstruída e próxima da militância radical de esquerda uma mulher estiver. Vemos isso, por exemplo, naquele  meme “antes e depois da faculdade/feminismo”, onde a foto de antes mostra garotas muito lindas, saudáveis, e felizes; enquanto, a foto de depois, mostra uma imagem caricata de ativista de cabelo colorido ou com corte de cabelo curto masculino, sovaco  cabeludo e expressão depressiva. 

Vale lembrar, claro, que a crítica aqui não é apenas uma mudança estética. Existem mulheres adotando o estilo das mulheres acima e vivendo felizes, e tudo bem!  Ainda mais comum é que pessoas mudem de visual ao entrar num novo grupo social. Não tem nada de errado nisso e mais força para elas. A verdadeira crítica do artigo é a prisão ideológica dos movimentos coletivistas que é atrelada a esse estilo, e pela qual impõe às mulheres certos comportamentos em prol da sua inclusão. Isso porque, sendo a esquerda atual um movimento coletivista, a visão de mundo que essas mulheres tentam se adequar é um inescapável apocalipse político, e que exige constante engajamento e ódio contra as estruturas.  A individualidade delas é minada em nome de sua identidade no movimento, e os padrões sociais que antes seguiam agora são vistos como obrigações sociais vindas de um histórico patriarcal. 

Mudar sua aparência é apenas um começo, pois há no cancelamento um medo de ostracismo caso façam alguma coisa que o movimento julgue errado. Isso se torna ainda mais real quando percebemos que as pessoas do movimento de esquerda identitária baseiam as suas personalidades ao redor de suas sexualidades, e o medo de serem consideradas homofóbicas levou duas lésbicas a terem relações sexuais com mulheres trans (era homem, agora é mulher) mesmo não tendo prazer no sexo com penetração. 

“Uma pessoa já me disse que preferiria matar a mim do que Hitler. Disse que me estrangularia com um cinto se estivesse na mesma sala que eu e Hitler. Isso foi bizarramente violento, só porque eu não queria fazer sexo com uma mulher trans.

– relato de Jeannie, uma mulher lésbica britânica de 24 anos, à BBC.

Isto tudo é, como vimos com as feministas do Japão, o ataque à qualquer valorização da própria beleza ou da feminilidade como sendo opressora e objetificante, fazendo muitas mulheres odiarem a si mesmas por serem mulheres e se afastarem de visuais e comportamentos que antes gostavam em prol de uma causa política, cuja visão de empoderamento destrói sua estabilidade emocional em nome da causa, gerando depressão e desesperança.

Empoderamento Feminino livre do feminismo

As conquistas da liberação feminina vieram para ficar. Sejam apolíticas, de esquerda, ou de direita, as mulheres de hoje se unem quando o assunto é um machista falando que elas estão proibidas de trabalhar e precisam ficar em casa cozinhando, limpando e cuidando das crianças. Culturalmente, todas elas concordam que o lugar da mulher é onde ela quiser. 

No entanto, o senso comum de que a mulher empoderada deve aderir às causas de esquerda é quebrado neste texto por Scalon e Takahashi, os quais mostram ser possível um outro tipo de empoderamento independente das ideias de esquerda.

As mulheres de direita que Scalon cita até tem contato com a cultura promiscua, afinal, adolescentes querem atenção, e desde cedo notam que abraçar o vulgar e o sexual costuma ser uma boa maneira de obter essa atenção. Mas elas não caem nisso com a mesma intensidade pois a visão delas de empoderamento não está atrelada ao vulgar, como o coletivismo da esquerda faz muitos acreditarem. Isso porque suas estruturas da sociedade, como família, amor, hobby e trabalho, não foram desconstruídas, permitindo-às viver a liberação feminina sem serem forçadas a acreditar em pautas ideológicas que mais aprisionam do que libertam.

 O mesmo ocorre com as jovens japonesas citadas anteriormente, pois elas são livres para abraçar a sua feminilidade, seja ela fofinha ou sexual, sem estarem presas aos atuais dogmas do feminismo ocidental. Como a mulher de Scalon afirmou, “elas gostam de ser mulheres”, e tomam cuidados com o corpo e com sua intimidade que não são permitidos às empoderadas de esquerda. Podem observar o mundo como um lugar bom, sonhar em se tornar uma grande profissional, constituir família e filhos se quiser, etc. E por que não também abraçar a sua sexualidade e ter os relacionamentos (romanticamente ou não) com quem (ou quantos) quiser? 

 Tudo isso é um empoderamento da pessoa que se reconhece como mulher e abraça isso ao invés de odiar. É o que vemos no movimento liberal em mulheres lindas e empoderadas como Renata Barreto e Lara Nesteruk, assim como mulheres como Mariana Britto entre as mais conservadoras. E note como este texto não é moralista. A conclusão que quero chegar aqui não é algo do tipo “você só é bonita se for de direita”, afinal eu estou literalmente publicando este texto num blog que é focado na valorização feminina. O ponto aqui é levantar um questionamento: Se hoje é possível ser uma mulher empoderada sem ser de esquerda, será que as mulheres de esquerda ainda são realmente as mais empoderadas, como pregam? 


Paulo Grego

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