A abordagem objetivista a respeito do equilíbrio entre individualismo e a cooperação social.

A abordagem objetivista a respeito do equilíbrio entre individualismo e a cooperação social

Ayn Rand, filósofa e romancista do século XX, é defensora ferrenha do individualismo. Frequentemente é criticada por argumentar a favor do egoísmo racional. Nesse sentido, aqueles que interpretam sua teoria erroneamente, consideram que a cooperação social seria incompatível com o individualismo. Entretanto, ao analisar as obras de Rand, percebe-se que não só são compatíveis, como também complementares.

Rand considera que o homem é um fim em si mesmo. Cada indivíduo deve ser egoísta, isto é, buscar seus próprios interesses e a felicidade como propósito de vida. Egoísmo, aqui, não se refere a ideia erroneamente propagada pelo senso comum. O egoísta não se trata de um brutamontes, que busca seus caprichos irracionalmente sem pensar se está prejudicando os outros, mas refere-se ao indivíduo que persegue valores fundamentados na razão e é guiado por interesses pessoais.1 Primariamente, o indivíduo deve perseguir seus próprios interesses, como bem dito em “A nascente”, ‘Para dizer “eu te amo”, primeiro é preciso saber como dizer “eu”’2. Isso não quer dizer que não se possa ser benevolente. A benevolência deve ser uma escolha individual, não um dever moral, como propagado pelo altruísmo. Este, por sua vez, trata o homem como animal de sacrifício aos outros. Porém, o individualismo difundido por Rand, reconhece que cada indivíduo deve viver de acordo com seus próprios valores e julgamento racional, desde que não viole o direito dos outros.

 O Objetivismo de Ayn Rand rejeita qualquer tipo de coletivismo que submeta o indivíduo a um grupo ou tribo. Todas as formas de coletivismo suprimem a liberdade e a liberdade é primordial para garantir os direitos individuais.

Apesar de Rand defender demasiadamente o individualismo, isso não significa que ela não vê importãncia na cooperação. Uma sociedade livre e racional prospera quando os individuos cooperam voluntariamente uns com os outros, buscando objetivos comuns. É importante ressaltar que essa cooperação não se fundamenta no sacrifício do indivíduo pelos outros, mas em trocas voluntárias , de forma que todos saem ganhando. Em seus romances, Ayn Rand mostra como a cooperação baseada no interesse próprio leva ao progresso e à prosperidade. Em “A Revolta de Atlas” o diálogo entre um juiz e Rearden ilustra bem isso:

– O senhor não vai querer dar apoio  à impressão geral de que é um homem desprovido de consciência social, que não sente nenhuma preocupação com o bem-estar de seus semelhantes, que só trabalha para seu próprio lucro.

– Só trabalho para o meu próprio lucro. Ele é merecido.[…] Faço questão de deixar bem clara minha posição. […] Só trabalho para meu próprio lucro, que obtenho vendendo um produto de que os homens precisam e pelo qual estão dispostos a pagar. Não produzo para o benefício deles em detrimento de meus próprios interesses, e eles não o adquirem para meu benefício em detrimento de seus próprios interesses. Não sacrifico a eles meus interesses, nem eles sacrificam os deles por mim: negociamos como iguais por consentimento mútuo e para benefício mútuo. E me orgulho de cada centavo que ganhei desse modo. Sou rico e me orgulho de cada centavo que já ganhei. Ganhei meu dinheiro com meu próprio esforço, pelo livre intercâmbio de bens e com o consentimento voluntário de todo homem que em qualquer época tenha comerciado comigo, com o consentimento voluntário de meus empregadores no início, com o consentimento voluntário daqueles que trabalham para mim agora, e com o consentimento voluntário dos que adquirem meus produtos.3

O equilíbrio entre individualismo e cooperação social na visão objetivista são intrinsecamente compatíveis, em que a liberdade individual e a interdependência voluntária coexistem de forma harmônica. Há um equilíbrio entre direitos individuais e o princípio da não agressão. Cada pessoa deve ter a liberdade de seguir seus próprios interesses, desde que não infrinja os direitos dos outros.

No objetivismo randiano, a cooperação social é uma extensão natural do individualismo racional. Pessoas livres e racionais reconhecem que podem alcançar mais trabalhando juntas de forma voluntária e respeitosa. Essa cooperação é fundamentada em contratos voluntários, livre comércio e respeito pelos direitos de propriedade, de forma que quando todos os indivíduo buscam seus próprios interesses, automaticamente toda a sociedade se beneficia.

Enfim, ao defender que o individualismo baseado na razão e a cooperação voluntária entre indivíduos, o objetivismo evidencia não só que o individualismo não é apenas compatível com a cooperção social, mas que ambos são fundamentais para o prosperidade da sociedade e o progresso humano.


Marta Caregnato

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.


Notas de Rodapé

  1. Para compreender melhor o conceito de egoísmo racional, cf. RAND, Ayn. A virtude do egoísmo. Tradução de Matheus Pacini. São Paulo: LVM Editora, 2020 a partir da pág. 15.
    ↩︎
  2. RAND, Ayn. A nascente. Tradução de Márcio Stockler. São Paulo: Arqueiro,2019, p.493 ↩︎
  3. ___________. A revolta de Atlas. Tradução de Paulo Henriques Britto. São Paulo: Arqueiro, 2017, p. 501-502
    ↩︎

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