A relação entre uma sociedade ansiosa e o controle social

A relação entre uma sociedade ansiosa e o controle social

A dinâmica da ansiedade

Todo ansioso apresenta em seus comportamentos a necessidade de dominar e controlar as coisas e as pessoas. O domínio e o controle são características que fazem parte do dinamismo ansioso. Sua preocupação está direcionada ao que pode vir a acontecer e justamente por isso sente que precisa ter o controle das coisas para sobreviver.

Com essa preocupação o ansioso de certa forma fica ausente do presente, sempre focando em algum ponto do futuro. Diante dessa dinâmica, a pessoa ansiosa se antecipa em seus pensamentos criando expectativas. No entanto, as expectativas são baseadas em suposições. E as suposições são irreais, pois acontecem apenas na cabeça da pessoa e não na realidade, já que não há como antecipar e prever tudo o que irá acontecer. 

Um requisito básico para estar mentalmente saudável é se instalar na realidade, pois toda vez que passamos a viver fora da realidade, desenvolvemos neuroses e disfunções em nossa vida. Quando tiramos nossa atenção do presente, também nos afastamos das questões essenciais que nos movem como seres humanos. E no lugar do saudável, a preocupação e o controle passam a tomar conta da vida da pessoa, ao mesmo tempo em que ela vai se distanciando cada vez mais do presente. Ela fica presa em pensamentos e suposições, sem prestar atenção ao que acontece na sua frente naquele momento. Então o transtorno se instala. O problema é que não há como ser plenamente saudável querendo controlar tudo ou deixar ser controlado o tempo todo. 

Ansiedade, medo e o controle social

O oposto do controle é a liberdade. Um dos motivos para tantas pessoas se incomodarem com a liberdade é justamente porque ela expõe as pessoas aos riscos e responsabilidades que a liberdade traz. Para pessoas ansiosas, a liberdade gera ainda mais incômodo. Por exemplo, um líder muito controlador no trabalho terá bastante dificuldade em deixar sua equipe livre e com autonomia, pois em seus pensamentos ele supõe que as pessoas não serão capazes de realizar uma determinada tarefa sozinhas ou farão algo de errado.

Diante dessa dinâmica, pensando de forma mais ampla, levando em conta o contexto social, podemos entender o impacto que uma sociedade ansiosa tem nas instituições e nas políticas públicas. Em uma sociedade muito ansiosa como a nossa, as pessoas tendem a buscar mais o controle do que a liberdade. 

Segundo a OMS, o Brasil é o país mais ansioso do mundo. Não à toa, somos um dos países mais burocráticos, com um Estado inchado com inúmeros órgãos reguladores que buscam controlar a forma como as pessoas devem agir, falar, educar seus filhos, trabalhar, gerir seus negócios, fazer contratos sociais etc.

Uma relação baseada no controle também é uma relação de medo e ansiedade, em qualquer relação, seja entre pais e filhos, gestores e equipes, casais, políticos e sociedade. Todos precisamos de certo controle saudável em nossas vidas, mas ele tem que partir de nós mesmos e não de outras pessoas. É preciso alimentar o autocontrole e a autorresponsabilidade de cada um, caso contrário, a motivação e os aprendizados nunca serão efetivos.

A pandemia foi um exemplo muito claro disso. O medo e a ansiedade da população e dos próprios políticos nos levaram a medidas de controle rígidas e aplicadas amplamente, de forma nunca vista antes na história. E tudo com muito aplauso e reconhecimento, exatamente porque naquele momento a ansiedade estava tão forte que algumas pessoas suplicaram por mais controle. 

O grande perigo é que há alguns políticos que entendem essa dinâmica e podem se aproveitar disso para implementar seus ideais e projetos de sociedade. É preciso que as pessoas lidem melhor com a ansiedade, caso contrário, uma população cada vez mais ansiosa irá espontaneamente abrir a porta para o totalitarismo. Por isto mesmo, os psicólogos têm um papel fundamental na luta pela liberdade.

Os caminhos possíveis

Uma sociedade muito controlada estará fadada a medos exagerados, aos vícios, à ansiedade e à depressão. As pessoas vão se tornar despreparadas para lidar com a vida de forma humana, se tornando massificadas, sem personalidade, sem vitalidade e expressão. Por isso, é muito comum em países que sofrem com regimes totalitários vermos pessoas apáticas, sem muita expressão ou com expressão meio falsa e forçada. Além disso, é difícil encontrar diversidade de personalidades. O caminho do controle gera essas e outras consequências. 

Enquanto em uma sociedade mais livre as pessoas são forçadas a tomarem as rédeas da própria vida, e isso naturalmente forma indivíduos mais fortes e preparados, que encontrarão o seu propósito. Indivíduos que conseguirão em conjunto, contribuir voluntariamente para desenvolver uma sociedade mais feliz, saudável e autêntica. 

Para quebrar o ciclo ansioso é necessário encarar os medos gerados pelas suposições mentais por meio de atitudes no momento presente. Para isso é preciso usar mais a razão do que a emoção. Faz parte do amadurecimento ter que assumir responsabilidades e encarar os nossos medos e dificuldades. Isso só é possível com ações que partem de nós mesmos, nunca de terceiros. A vida tem seus riscos e é preciso encará-los.


*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.

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