A ascensão dos falsos mestres

A ascensão dos falsos mestres

Você já ouviu uma falsa doutrina? Ou melhor, um falso mestre?

Com o advento da internet, muitíssimas opiniões passaram a ser veiculadas na redes sobre os mais diversos assuntos, porém é comum que muitas dessas opiniões não nos agradem, o que é perfeitamente normal em um ambiente de livre circulação de ideias como a internet, porém, o problema é quando essas ideias nos agradam.

Como disse Carl Jung, não são indivíduos que possuem ideias, mas as ideias que possuem os indivíduos e nós lidamos com esse problema diariamente no mundo virtual.

No texto de hoje, iremos dar uma olhada no fenômeno comum a humanidade: a ascensão dos falsos mestres.

O que é um falso mestre?

É muito difícil de afirmar que estamos tratando de um problema recente, afinal estelionatários intelectuais sempre existiram, desde o éden quando a serpente afirmou para Eva comer do fruto proibido que a humanidade lida com falsos ensinamentos.

Mas o que especificamente caracteriza um falso mestre? A resposta para isso pode ser diversificada, porém uma característica que abrange a todos é o uso retórico das palavras. 

Quando se utiliza do vocabulário com a única intenção de convencer ou persuadir e não de transmitir conhecimento. Estamos aqui lidando com os sofistas da Grécia antiga ou com os gnósticos do período patrístico.

O que um falso mestre quer é um seguidor, especialmente alguém que seja manipulável e que sirva a seu interesse e ele faz isso através da retórica, ou seja, utilizando o discurso com o fim de nutrir a mente do pupilo com a ideia de que ele (o mestre) possui algum tipo de conhecimento ou prática superior e que apenas ele pode transmiti-lo, porém ele (o pupilo) deve dar-lhe ouvidos e segui-lo preferencialmente sem questiona-lo.

Em suma, um falso mestre jamais seria Platão, que teve em seu pupilo Aristóteles alguém que divergiu de muitas de suas ideias e contrariou conceitos que seriam fundamentais para Platão.

O declínio da técnica

Por seu uso estritamente retórico do conhecimento, falsos mestres tem a tendência de cometerem os mais inúmeros erros técnicos acerca do assunto o qual estão abordando, afinal de contas técnica é algo que se dá com a prática e a busca do aperfeiçoamento, mas para isso precisa-se não só de honestidade intelectual como muita maturidade para lidar com os diferentes conceitos e ideias os quais você estará se degladiando, no fim, você irá necessitar de muita calma para falar qualquer coisa, se for utilizar-se da técnica você não irá angariar devotos, mas sim alunos e alunos questionam.

Sendo assim, não é incomum a presença de saltos lógicos, linhas de raciocínio tortuosas, associações incorretas ou até mesmo erros conceituais acompanhados de galáxias ad hominem, afinal são essas as ferramentas que você precisa recorrer quando não tem a técnica para lidar com o conhecimento que você diz ter.

O modelo a ser seguido

Continuando, o falso mestre põe-se como modelo para os pupilos, assim ele pode explorar a possível falta de confiança dos mesmos para adverti-los da necessidade que eles possuem de um professor tão dedicado quanto ele. As eventuais broncas e xingamentos do mestre aos seguidores são apenas parte do processo necessário para o “amadurecimento” dos seguidores, nada mais que isso.

Quantas vezes você já viu a seguinte situação: um seguidor fala ou faz uma pergunta super inocente para algum desses influenciados e recebe de volta um texto difamatório mostrando o quão ignorante e acéfalo aquele seguidor é e quanto ele (o influenciados) sofre com a quantidade de imbecis que o seguem e que ele recebe ódio diário para dar conteúdo a eles.

Essa virou uma estratégia comum entre os influenciadores atualmente, a tática da palmatória, onde você mostra para a manada que quem manda aqui é você e que eles devem seguir comprando os seus cursos de “como salvar o ocidente” do contrário são apenas pagãos que não aguentam a verdade.

Xingar e humilhar, isso não é o mesmo que ensinar.

Falsas certezas

E como poderíamos falar desse fenômeno sem tratar do prato principal, as falsas certezas.

O processo é extremamente simples, elabore uma estratégia simples de conhecimento por meio de um defeito comum das pessoas e pronto.

Falsas certezas tendem a ser respostas simples para problemas complexos. Quer exemplos?

A sociedade está confusa ou dividida? Culpa da modernidade ou da escola de Frankfurt

Os homens estão mais medrosos? É a falta de masculinidade 

Literalmente qualquer problema que surja num raio de 20km é por culpa da “secularização do ocidente” e o abandono do cristianismo.

Perceba o seguinte, essas coisas são realmente problemas e as respostas apontadas aqui tem algum grau de verdade, porém o falso mestre se aproveita do vão entre a verdade e a ignorância e explora isso com maestria.

Associar literalmente todos os problemas a uma única condição sine qua non e dar-se por satisfeito é patético. Ignorar a complexidade dos processos sociais e botar tudo na culpa do globalismo não é uma solução sofisticada, é um grito de desespero de alguém que não consegue lidar com a dificuldade de se compreender fenômenos multifatoriais.

Conclusão

Em resumo, nós vivemos mais uma época alastrada de falsas doutrinas com pessoas que dizem ter a resposta para tudo.

Basta comprar o curso ou a mentoria que você poderá fazer parte do grupo ungido que irá restaurar o ocidente ou destruir a burguesia para iniciar a revolução.

Porém, se você discordar do ideal ou buscar outros caminhos, aviso-o, você não será bem vindo.

Porém, melhor ser odiado pelos idiotas do que ser mais um deles.


Gabriel Barros

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