Apesar do que dizem o IBGE e o IPCA, o brasileiro sente no bolso o peso da inflação, especialmente nos alimentos. Mas será que a culpa é do povo, como diz o presidente, “se está caro, não compre”? Ou tem algo muito errado nessa história?
A inflação de janeiro subiu, puxada principalmente pelo aumento dos preços dos alimentos e dos transportes, segundo os dados oficiais do IPCA e do IBGE. Mas se você já foi ao mercado ou abasteceu o carro, não precisa de estatísticas para saber disso. O brasileiro sente no bolso o peso do aumento de preços e percebe que seu dinheiro vale menos a cada mês.
O governo, como sempre, tem uma explicação conveniente: a culpa é sua. Sim, segundo o presidente Lula, se está caro, basta não comprar. O presidente disse exatamente isso: “se o produto está caro, não compre”.
A declaração à la Maria Antonieta, a Rainha da França que, ao ouvir que o povo reclamava de não ter pão para comer, respondeu “que comam brioches”, soa como piada de mau gosto para quem precisa se alimentar, pagar aluguel e trabalhar para sobreviver, esculacha e ofende o povo brasileiro. Contudo, essa lógica distorcida não é nenhuma novidade. A fala do presidente não é apenas ultrajante, é reciclada. A tentativa de jogar a culpa da inflação no próprio povo é velha e já foi usada antes aqui no Brasil.
Nos anos 1970 e 1980, quando o Brasil vivia sob outra ditadura – não a dos togados, como a de hoje, mas a dos militares –, o povo sofria com uma inflação galopante, que corroía salários e tornava a vida do cidadão comum um inferno. Mas, em vez de reconhecer que o problema vinha da impressão desenfreada de dinheiro, dos gastos públicos excessivos e da intervenção estatal na economia, o governo militar optou por uma abordagem mais simples: manipular a opinião pública.
Foi nesse contexto que surgiram campanhas publicitárias orientando a população a “consumir menos” como solução para os preços altos. O governo dizia que, se as pessoas simplesmente deixassem de comprar produtos inflacionados, os preços cairiam. Um raciocínio absurdo, que ignora completamente a raiz do problema: a desvalorização da moeda causada pelo próprio governo.
A campanha oficial veiculada pelo governo militar dizia: “Todo mundo reclama do preço do arroz, do tomate e do feijão. Mas todo mundo continua comprando e vendendo. Ninguém faz nada”. A tática de culpar o povo por um problema causado pelo próprio Estado, portanto, já é bastante velha.
Hoje, décadas depois, o governo petista adota exatamente a mesma linha. Ao invés de admitir que a alta de preços vem dos seus próprios erros – como os aumentos de impostos, a expansão da dívida pública e o descontrole dos gastos estatais –, Lula resolve terceirizar a responsabilidade para a população.
Mas será que o brasileiro tem escolha? O que exatamente um trabalhador de baixa renda pode deixar de consumir? Alimentos? Transporte? Contas básicas? Se os preços estão altos, seria culpa das políticas econômicas do fracassado governo petista, que criou as condições para isso, ou culpa das pessoas, que estão “comprando demais”?
A inflação não é um fenômeno natural. Não é um acaso da economia e muito menos uma questão de consumo exagerado. A inflação é uma escolha política. Ela ocorre porque o governo gasta mais do que arrecada e precisa cobrir esse rombo de alguma forma – imprimindo dinheiro ou aumentando impostos.
No caso do Brasil, a causa da inflação é óbvia: os gastos públicos seguem aumentando sem controle. Em 2023, o governo aumentou despesas, chutou o teto de gastos para o espaço e pressionou o Banco Central a reduzir juros artificialmente, sem falar no fiasco do “calabouço fiscal” do Ministro da Economia, Fernando Haddad, e o pacote de corte de gastos, ou melhor, pacote de aumento de imposto. A consequência? Mais dinheiro circulando sem uma correspondente produção de bens e serviços, o que inevitavelmente leva ao aumento dos preços.
Mas então por que o governo não busca cortar gastos, reduzir a carga tributária e permitir um ambiente mais livre para a economia crescer? De fato, isso resolveria o problema da inflação, mas não atende ao principal interesse do Estado, que é enriquecer às custas do suor do povo. Portanto, o governo segue o caminho oposto. Além da declaração de Lula minimizando a inflação, já se discutem “soluções” como tabelamento de preços e maiores regulações – medidas historicamente ineficazes e que só pioram o problema. Quem lembra dos “fiscais do Sarney”? Se você viveu essa época, com certeza não deve sentir saudades de ver as prateleiras vazias e seu poder de compra derreter em poucos dias.
Enquanto Lula tenta convencer o povo a “não comprar”, a realidade se impõe. O trabalhador que já ganhava pouco agora consegue comprar ainda menos com o mesmo salário. Para quem esperava comer picanha, agora não pode mais nem tomar café. E os combustíveis? O preço da gasolina e do diesel também aumentou. A despeito das afirmações do governo de que tudo vai bem e a economia cresce, o povo não é bobo; basta ir às compras e ver o quanto os preços têm subido.
Ou seja, o povo está ficando mais pobre, mas os responsáveis por essa situação continuam vivendo confortavelmente.
Ao dizer que o pobre tem que “aprender a não comprar”, Lula inverte completamente a lógica econômica. Em qualquer sociedade saudável, o consumo é consequência da produção. Quanto mais um país produz e cria riqueza, mais seus cidadãos podem consumir e melhorar de vida.
O pior de tudo é que a população brasileira já viu esse filme antes e sabe como termina. Sempre que o governo tenta resolver problemas econômicos com discursos simplistas e medidas ineficazes, o resultado é mais miséria, mais desemprego e mais dificuldades para quem já sofre. A história ensina, mas os governantes insistem em não aprender. Até quando o brasileiro irá engolir essa velha e manjada falcatrua?
A inflação não acontece porque as pessoas estão comprando demais. A inflação acontece porque o governo desvaloriza a moeda e cria um ambiente hostil para quem quer produzir e empreender. Se pelo menos a economia crescesse, com novas empresas, novos empregos e, principalmente maior produção de riqueza, bens e serviços, pelo menos os preços não aumentariam tanto. Entretanto, impostos escorchantes, regulações absurdas e burocracias intermináveis tornam o Brasil um país difícil de se viver para quem quer trabalhar, produzir e prosperar honestamente.
Se o governo realmente quisesse combater a inflação, tomaria medidas concretas e eficazes como: reduzir os gastos públicos, acabar com privilégios políticos, cortar impostos, simplificar a burocracia estatal, facilitar o empreendedorismo, desregulamentar a economia, garantir a independência do Banco Central, acabar com a manipulação política da política monetária e criaria um ambiente favorável para empresas crescerem e gerarem empregos.
Mas, claro, nada disso interessa aos políticos. Para eles, é mais fácil culpar o cidadão e fingir que o problema é o comportamento do consumidor, e não a irresponsabilidade estatal.
A retórica “se está caro, não compre” não é apenas insensível, é uma falácia conveniente. O brasileiro não tem escolha: precisa comer, se locomover e pagar contas. A única maneira de frear a inflação de verdade não é com frases vazias, mas sim reduzindo o tamanho do Estado, cortando gastos públicos e deixando o mercado operar livremente.
O governo sabe disso, mas prefere continuar no mesmo caminho. Afinal, enquanto o povo aperta o cinto, os políticos seguem engordando seus privilégios. E assim, o brasileiro comum continua pagando a conta da incompetência e da ganância do Estado.

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.